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Dormia sem saber como ia acordar, diz Uip sobre contrair covid-19

Infectologista fez um depoimento pessoal nesta segunda-feira, 6, e expôs sobre como foram seus dias em isolamento por conta da doença

Uip: "A quem está subestimando, desejo ardentemente que saiba que não é pouco", disse (Governo do Estado de São Paulo/Fotos Públicas)
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Clara Cerioni

Publicado em 6 de abril de 2020 às 14h18.

Última atualização em 6 de abril de 2020 às 14h29.

O infectologista David Uip,que chefia o Centro de Contingência contra a covid-19 criado pelo governo do Estado de São Paulo, voltou ao trabalho nesta segunda-feira, 6, depois de ter chegado ao fim seu isolamento porque contraiu a doença.

Durante a entrevista coletiva em que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou a ampliação da quarentena até 22 de abril, o médico deu um depoimento emocionado sobre como sofreu com a doença.

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"Gostaria de agradecer a Deus estar aqui vivo, à minha família pela solidariedade e ao senhor (João Doria), que não deixou de me ligar um dia, não para perguntar algo sobre o trabalho, mas para saber como eu estava", disse Uip, demonstrando bastante consideração com todos os presentes e concordando com a manutenção da quarentena no Estado de São Paulo.

"Vou dar meu depoimento para mostrar do que se trata essa doença. Há dois domingos, eu me senti muito mal. Estava extenuado, sentado em uma cadeira e, pela primeira vez na vida me neguei a falar com um emissora de televisão. Na segunda de manhã, o teste deu positivo para coronavírus. A semana que se seguiu foi de extremo sofrimento", contou.

Uip explicou que depois, em uma tomografia, foi detectada pneumonia. "Esse sentimento de se ver com uma pneumonia, como médico, foi muito angustiante. Indo dormir sem saber como ia acordar. Mas Deus me ajudou e venci a quarentena. É de extremo sofrimento ficar isolado, mas é absolutamente fundamental. Me reinventei nesse período."

"Meu depoimento é como paciente, não como médico. Meu testemunho é de quem ficou do outro lado. A quem está subestimando, desejo ardentemente que saiba que não é pouco. Quem vai sair vivo é quem estiver sendo atendido em estruturas hospitalares bem equipadas e com equipes médicas bem estruturadas", finalizou Uip.

Defesa da quarentena

Antes do depoimento de Uip, o governador João Doria fez também um discurso sobre a necessidade de manutenção do isolamento social e criticou o presidente Jair Bolsonaro, contrário às restrições.

"Não pauto minhas ações por populismo. Pauto pela verdade e pela ciência. Todas as iniciativas de São Paulo são amparadas na ciência e opinião médica", disse o tucano.

"Temos que nos afastar dos que pregam o ódio, que não assumem o interesse maior que é salvar as vidas. No Brasil, defendem o isolamento social o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandeta, o ministro da Justiça, Sérgio Moro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, o vice-presidente, Hamilton Mourão. Será que a Organização Mundial da Saúde está errada? Será que ministros e secretários de Saúde de 56 países do mundo estão errados? Será que um único presidente da República no mundo é o certo?", disse.

E continuou: "Aqueles que incentivam a vida normal, que pressionam o prefeito da capital e que me pressionam pelo whatsapp, por cartas e que violam os princípios da Medicina, a eles eu pergunto: vocês estão preparados para os caixões com as vítimas do coronavírus? Vocês que defendem a abertura, aglomerações, que minimizam a crise gravíssima em que estamos, vão enterrar as vítimas? Depois de salvar vidas, vamos salvar a economia", afirmou Doria.

Na data do primeiro decreto de quarentena, o estado paulista tinha 810 casos confirmados da doença e 40 mortes. Hoje, há 4.620 pacientes com a doença confirmada e 275 óbitos em São Paulo, o que é um aumento de propagação da doença de 900% desde o início da quarentena.

Segundo o secretário de Saúde, José Henrique Germann, sem as medidas de isolamento, a estimativa do governo era de um resultado dez vezes pior do que o cenário de agora.

O presidente do Instituto Butantan, Dimas Tadeu Covas, afirmou que estudos coordenados por epidemiologistas apontam que houve 56% de redução na mobilidade social do Estado. O ideal, segundo ele, é um porcentual acima de 60%.

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