Avião da Gol: traficantes aproveitaram regra que isenta cargas e encomendas de funcionários de passarem pelo raio-X (Dado Galdieri/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 11 de agosto de 2016 às 09h55.
São Paulo - Dois empresários e um coordenador do setor de cargas da companhia aérea Gol foram condenados a mais de dez anos de prisão por um esquema de tráfico de drogas.
O processo revelou os meios que o grupo usava para burlar a fiscalização nos aeroportos, se aproveitando de regras da própria empresa.
Eles foram presos ao tentar mandar 45 quilos de cocaína do Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, para Fortaleza e a acusação sustentou que o trio havia mandado mais de 500 quilos de cargas, que seriam de drogas, em oito viagens.
O caso corre em segredo de Justiça e está em fase de recurso a pedido dos advogados dos réus, que querem redução da pena.
Durante a investigação, que teve início em 2013, os funcionários da Gol revelaram em depoimento que, pelo sistema Gol-Comat, cargas e encomendas de funcionários da empresa podem ser transportadas sem passar por fiscalização do raio X. Foi usando este recurso que os acusados mandavam cocaína de São Paulo para o Ceará.
Segundo investigação da Polícia Federal, os empresários e irmãos Michel e Eduardo Felix Farias montaram uma empresa de venda de mármores de fachada para vender cocaína.
Os dois chamaram o coordenador de cargas da Gol Leandro de Araújo Ferreira para ajudá-los a mandar drogas para o Nordeste.
Os investigadores apuraram que Ferreira recebia a droga dos empresários e, para fugir da fiscalização, mandava colocar a carga no sistema Gol-Comat.
Nele, o pacote era considerado da companhia aérea e só podia ter como destinatário um funcionário da Gol ou de uma empresa terceirizada. A droga saía dos aeroportos de Congonhas e de Cumbica sempre com destino ao Ceará.
Um outro coordenador de cargas da Gol chegou a ser investigado, mas acabou absolvido no processo, bem como um homem que tinha o nome como destinatário.
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) vai analisar o pedido dos advogados para que a pena seja reduzida. Em seu parecer, a procuradora de Justiça Marcia Montenegro afirmou que o caso mostrou que não há fiscalização eficiente em relação ao transporte aéreo brasileiro.
"Os fatos narrados deixam claro como se pode viabilizar parte do tráfico ilícito de drogas neste país, além de ter ficado patente o risco que a população usuária do transporte aéreo é exposta, porque, em tese, explosivos também poderiam ingressar nas aeronaves pelo privilegiado sistema Gol-Comat", afirmou Marcia. Para a procuradora, cabia exclusivamente aos empregados da companhia decidir pela inspeção ou não de determinada carga.
O delegado Osvaldo Nico Gonçalves, diretor do Decade (departamento da Polícia Civil que também cuida da segurança nos aeroportos), acredita que o tráfico de drogas só acontece com a conivência de funcionários de companhias aéreas e dos aeroportos.
Nesta semana, seus policiais prenderam quatro pessoas, entre elas dois funcionários da Latam, quando tentavam mandar 17 tabletes de cocaína para a África do Sul.
"A prisão aconteceu no saguão, depois que os policiais desconfiaram da atitude dos suspeitos. A Polícia Federal dará sequência à investigação."
A Latam afirmou que mantém rigorosa fiscalização nas suas 50 unidades de cargas despachadas pelo País e que está colaborando com as investigações.
A Gol informou que segue todos os procedimentos para garantir a segurança das suas operações. O advogado José Valério de Souza, que defende o funcionário da companhia, disse que o cliente admite os crimes, mas pede redução de pena para dois anos e oito meses.
A advogada dos empresários não se posicionou.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.