Porto Alegre, Rio Grande do Sul: profissionais mobilizados para trabalhar já formam grupos maiores que o dos piquetes montados à porta para impedir a circulação dos ônibus (Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 7 de fevereiro de 2014 às 19h31.
Porto Alegre - Em greve há 12 dias, os rodoviários de Porto Alegre começaram a dar sinais de divisão nesta sexta-feira, 07, com parte deles demonstrando que está disposta a voltar ao trabalho. Na zona sul da cidade, motoristas e cobradores chegaram a colocar em circulação 20 ônibus, mas voltaram às garagens depois de uma pedrada quebrar o vidro de um veículo e ferir o condutor. Outro motorista foi ameaçado por dois motociclistas. A frota tem 1,7 mil ônibus.
Em diversas garagens, os profissionais mobilizados para trabalhar já formam grupos maiores que o dos piquetes montados à porta para impedir a circulação dos ônibus com apoio de manifestantes do Bloco de Lutas. Motoristas e cobradores interessados em voltar às operações demonstram preocupação com o corte do salário equivalente ao dias parados, permitido desde que a Justiça decretou a ilegalidade da greve, em 29 de janeiro, e com a perspectiva de fecharem o mês sem renda.
Em entrevista coletiva, dirigentes do Sindicato dos Rodoviários ligados à Força Sindical indicaram que preferem assegurar o reajuste de 7,5% no salário, de 18,75% no vale-alimentação - que iria de R$ 16 para R$ 19 - e manutenção do plano de saúde a custo zero para a categoria, oferecidos pelas empresas na última reunião de conciliação, do que esperar pelo julgamento do dissídio coletivo pela Justiça, previsto para o dia 17 de fevereiro.
"A categoria só perde com o ajuizamento do dissídio", disse o diretor da Força Sindical Claudio Correa, que tem acompanhado as negociações do Sindicato dos Rodoviários. "Não podemos abrir mão dos direitos adquiridos até agora." Sindicalistas de outras centrais, que também participam da comissão de negociação, estão menos flexíveis e entendem que a greve total deve ser mantida. A reivindicação inicial era de aumento salarial de 14%. As posições serão levadas à assembleia da categoria na noite de segunda-feira. A oferta inicial dos empresários era de 5,5%.
De posse de um relatório aprovado pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE), a prefeitura vai elaborar um novo sistema de cálculo das tarifas e publicar um decreto com a metodologia durante a semana que vem. Embora o uso da frota de reserva saia do cálculo, o que reduz o custo do quilômetro rodado, os técnicos da área admitem que a tarifa de R$ 2,80 será aumentada porque a variação do custo dos combustíveis e do salário dos trabalhadores terá de ser considerada.
No ano passado, por pressão de manifestações populares e com na desoneração de tributos federais, a tarifa recuou de R$ 3,05 para os atuais R$ 2,80. Além da provável revisão tarifária que virá depois da greve, a prefeitura também lançará edital de licitação de todo o transporte público, por determinação da Justiça, no dia 5 de março.
População
Enquanto os impasses não se resolvem, a população de Porto Alegre continua sofrendo com a falta dos ônibus e o calor. Muitos usuários têm esperado por até duas horas em filas, sob sol e temperaturas superiores a 30 graus ao amanhecer, para embarcar em um dos veículos do transporte alternativo, como os lotações autorizados a carregar passageiros em pé, as vans e micro-ônibus escolares e até os veículos clandestinos que surgiram desde que os ônibus desapareceram.
O comércio da cidade segue aberto, mas sem parte dos funcionários, que não conseguem transporte, e sem os clientes que deixam as compras para quando a situação voltar à normalidade ou desistem delas. Uma estimativa feita pela Câmara de Dirigentes Lojistas indica que o segmento deixou de faturar R$ 100 milhões desde o início da paralisação dos ônibus.