Governo tem sido pior do que a oposição imaginava, diz presidente do PSOL
Estamos em vias de uma crise institucional de grandes proporções e as saídas para essa crise estão sendo discutidas, afirmou Juliano Medeiros
EFE
Publicado em 27 de março de 2019 às 15h45.
Última atualização em 27 de março de 2019 às 15h45.
São Paulo — O Brasil está caminhando para uma crise institucional de grandes proporções devido à incapacidade de coordenação do governo de Jair Bolsonaro com o Congresso, analisou o presidente do PSOL , Juliano Medeiros.
Em entrevista à Efe, o político opositor avaliou que os três primeiros meses do mandato de Bolsonaro foram piores do que a oposição imaginava.
"Nós estamos em vias de uma crise institucional de grandes proporções e as saídas para essa crise estão sendo discutidas. Certamente atores do mercado financeiro e dos diversos segmentos que compõem as classes dominantes já estão debatendo o que fazer caso a crise do governo se aprofunde", analisou Medeiros.
O presidente do PSOL ainda fez um alerta que o cenário pode piorar se as denúncias envolvendo a família do presidente sejam confirmadas, em uma referência às movimentações bancárias suspeitas de Fabrício Queiroz, que trabalhou para o gabinete do agora senador Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
"Há um grande mal-estar na sociedade brasileira pela inépcia do governo em apresentar saídas concretas para os problemas que afligem o povo, como desemprego, educação, saúde e economia", afirmou.
Para Medeiros, o governo de Bolsonaro prefere "estimular conflitos" e "atacar adversários" em vez liderar o país.
"Acho que tem sido pior (que esperávamos). Imaginávamos um governo muito conservador, extremamente reacionário nas suas posições, mas, de alguma forma, com um projeto claro. O que estamos vendo não é isso. Em vez de um adversário com um projeto claro, temos um governo formado por diferentes peças que não se encaixam", criticou.
Medeiros divide essas peças em quatro núcleos: neoliberal, comandado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes; judiciário, liderado pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro; político-ideológico, composto por nomes como Ernesto Araújo e Ricardo Vélez, ministros das Relações Exteriores e da Educação, respectivamente; e o militar, representado pelo vice-presidente Hamilton Mourão.
"Acho que o núcleo militar é o mais perigoso, porque constitui um sistema de legitimação do governo, como nós não tínhamos em anos anteriores. É uma tutela militar capaz de garantir um nível de proteção institucional para um governo que é muito frágil", explicou.
Para Medeiros, lideranças que surgiram dentro do PSOL, como a do ex-deputado federal Jean Wyllys, que acaba de se exilar na Europa, e de Marielle Franco, assassinada há um ano no Rio de Janeiro, e Érica Malunguinho, primeira deputada estadual transgênero de São Paulo, refletem a agenda renovadora do partido em defesa dos direitos das mulheres, dos negros e do direito à moradia.
No entanto, o dirigente do PSOL pediu ao PT uma mudança de atitude para apresentar um movimento opositor coeso. Para Medeiros, a campanha em defesa da liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso por corrupção há quase um ano, é importante, mas não pode ser a principal agenda da esquerda.
"Temos críticas à tramitação do processo que levou o ex-presidente Lula à prisão, o que não significa um endosso a todas as políticas de seu governo. E nem significa também que não houve corrupção nos governos liderados pelo PT", ressaltou.
Na avaliação de Medeiros, a principal luta da esquerda deve ser contra a reforma da previdência apresentada pelo governo Bolsonaro.
"A mãe de todas as batalhas é a luta contra a reforma da previdência. É a agenda prioritária do mercado, que controla as relações de poder no Brasil", disse.
"A ideia de fazer uma reforma punindo os que contribuem para a previdência, que são os trabalhadores, e os que se beneficiam dela, os aposentados, é uma lógica incorreta. É preciso enfrentar a questão revendo os benefícios fiscais concedidos pelo Estado brasileiro a grandes empresas", sugeriu.
O presidente do PSOL também avaliou que a reforma não seria aprovada se fosse votada hoje devido à tensão entre Bolsonaro e o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.