Governistas querem usar CPMI para convocar Bolsonaro e disputam relatoria com grupo de Lira
Base do governo tem preferência por Renan Calheiros como relator, mas Lira quer emplacar um deputado do PP
Agência de notícias
Publicado em 24 de abril de 2023 às 15h23.
Última atualização em 24 de abril de 2023 às 15h31.
Prevista para ser instalada na próxima quarta-feira, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos golpistas já tem seus cargos-chave cobiçados por diferentes setores do Congresso. A base do governo, que quer mirar no ex-presidente Jair Bolsonaro e não descarta convocá-lo para depor, tem o desejo de que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) seja o relator. Por outro lado, parlamentares do "blocão" do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tentam fazer com que o deputado André Fufuca (PP-MA) exerça a função.
A relatoria da CPI mista é um posto estratégico porque cabe ao parlamentar que exerce a função definir os rumos do colegiado. Entre as funções estão elaborar o plano de trabalho, que trará a previsão de pessoas que serão convocadas e convidadas e as linhas de investigação que a comissão pretende mirar. Parlamentares governistas não escondem o desejo de convocar Bolsonaro.
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O deputado Rogério Correia (PT-MG), que chegou a apresentar um pedido de CPI sobre o mesmo tema na Câmara, disse que o ex-presidente é "o principal interessado e articulador" dos ataques.
"Oito de janeiro foi uma tentativa de golpe articulada pela ultradireita após a derrota eleitoral. Desde a tentativa de impedir a diplomação, com ataques inclusive à sede da PF em Brasília, a minuta do golpe para depor o TSE e as concentrações consentidas por generais golpistas nos quartéis. O principal interessado e articulador foi Bolsonaro. Terá de depor na CPMI", disse o petista.
A avaliação de obrigar Bolsonaro a falar à CPI mista também é compartilhada por outros deputados do PT, como Rui Falcão e Jilmar Tatto. Além de Bolsonaro, outros alvos que já são consenso da base são Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, e os financiadores dos atos golpistas.
Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro e pregaram um golpe contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo tentou impedir a instalação da CPI mista para evitar que bolsonaristas reverberassem versões contra o Palácio do Planalto. A mudança aconteceu após a divulgação de vídeos em que o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias aparece em contato com invasores dentro do Planalto. Os vídeos foram revelados pela "CNN Brasil" e causaram a saída de Dias do cargo.
O senador Omar Aziz (PSD-AM), que evita dizer se irá participar ou não da CPMI, disse que o natural é que Torres e Gonçalves Dias sejam os primeiros a serem ouvidos. "Ouvir quem estava comandando o GSI, a segurança de Brasília. Vão ser ouvidos, não tenha dúvida que serão ouvidos", declarou. Quanto a ouvir outras pessoas e em que momento, Aziz disse que isso vai depender das investigações.
Para integrar a CPMI, o Planalto pretende reescalar o time que comandou a CPI da Covid do Senado em 2021. Renan Calheiros, Randolfe Rodrigues, Omar Aziz estão entre os prováveis nomes do novo colegiado. Deputados como Lindbergh Farias (PT-RJ) e André Janones (Avante-MG) também têm interesse em fazer parte da tropa de choque do governo.
Quem será o relator da CPMI de 8 de janeiro?
Em relação à relatoria, Renan evita falar sobre a participação dele na CPMI, mas integrantes da base de Lula não escondem a preferência pelo seu nome. O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse ao "O Globo" que ter o emedebista na relatoria "seria o melhor" para o Poder Executivo. Lindbergh também chegou a citar o nome do senador na relatoria na última quinta-feira.
"Estou lá conversando muito [no Senado[. Aquela turma que esteve à frente da CPI da covid toda quer participar. Renan Calheiros quer participar. Pode ser, quem sabe, um bom relator", disse o petista.
Já o bloco de Lira na Câmara, que tem PP, União Brasil, PDT, PSDB, Cidadania, Solidariedade, Avante, Patriota e PSB, se reuniu na semana passada e decidiu que vai tentar colocar André Fufuca para ser o relator. O deputado é o líder do PP na Casa. Apesar de ter diálogo com o Planalto, ele é considerado mais próximo de Lira do que do governo.
Ainda não há definição se o relator será alguém da Câmara ou do Senado. Caso a função seja exercida por um deputado, a presidência da CPMI ficará com um senador e vice-versa. A disputa pelo cargo é mais um embate entre Renan e Lira, que são rivais regionais em Alagoas.
O líder do Solidariedade na Câmara, Áureo Ribeiro (RJ), da base de Lula, afirmou que os nomes indicados pelo bloco de Lira não terão perfil de serem defensores estridentes do governo e nem opositores. O grupo irá indicar cinco parlamentares para a comissão.
"Vai ter um equilíbrio. Não dá para transformar a CPI em um espetáculo. A ideia é ter pessoas equilibradas. Defendo que não sejam deputados de primeiro mandato. É um tema sensível, tem se ter casca para fazer essa discussão. Defendo deputados isentos nesse debate", declarou.