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FHC diz que Dilma é ’surpresa positiva’ em 1º mês de governo

Ex-presidente também alertou que Dilma vai enfrentar "sua própria herança", os mega-projetos que ela lançou quando ainda era da Casa Civil

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso elogiou diferenças entre Dilma e Lula (Mark Wilson/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2012 às 18h07.

Rio de Janeiro - O primeiro mês do governo da presidente Dilma Rousseff foi uma “surpresa positiva” com as iniciativas para reverter as políticas de gastos do governo anterior, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

FHC, do Partido da Social Democracia Brasileira, disse que é muito cedo para saber se a primeira mulher presidente do País será capaz de lidar com o Congresso com a mesma habilidade de seu mentor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma também terá que enfrentar “sua própria herança”, representada pelos “mega-projetos” muito ambiciosos e caros que ela mesma ajudou a lançar como ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula, disse FHC.

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Mesmo assim, o ex-presidente disse estar satisfeito com a disposição de Dilma de cortar gastos, de se afastar da iniciativa de Lula de se aproximar do Irã, e de endurecer a posição brasileira em relação à China.

“Ela tem algumas visões diferentes de Lula e para mim isso é uma surpresa”, disse FHC em entrevista em 3 de fevereiro na sede do Instituto Fernando Henrique Cardoso em São Paulo. “O ponto de partida não foi negativo.”

Desde que assumiu a presidência em 1º de janeiro, Dilma se comprometeu a conter os gastos do governo, que deram um salto de 22,4 por cento no ano passado. Essa expansão coincidiu com a campanha de Lula para eleger Dilma e ajudou o País a ter o maior crescimento econômico em mais de duas décadas. Na última quarta- feira, o governo anunciou um corte de R$ 50 bilhões no orçamento deste ano para ajudar a conter a inflação.

“Basta olhar para os números para saber que é preciso ser mais firme com o gasto público”, disse FHC, que foi presidente de 1995 a 2002. “Lula preferiu não dar atenção aos números. Ela é uma economista”, disse o ex-presidente que, como ministro da Fazenda em 1994, fez cortes de gastos que ajudaram a domar uma inflação de 4.922 por cento ao ano.


Reequilibrar ambições

FHC disse que Dilma tem sido “bastante clara” em sua recusa a ceder às pressões das centrais sindicais por um aumento no salário mínimo acima do que o governo está propondo. Diferentemente de Lula, para quem os altos preços das commodities tornou “muito simples” a administração da economia, Dilma precisará “reconectar o Brasil com uma agenda de reformas” que superem as barreiras ao crescimento, disse ele.

“É preciso reequilibrar um pouco suas ambições, disse o ex-presidente. Segundo ele, é impossível que o governo construa um trem de alta velocidade entre São Paulo e o Rio de Janeiro, desenvolva campos marítimos de petróleo e construa a terceira maior hidrelétrica do mundo na bacia do Rio Amazonas ao mesmo tempo.

‘Grande potência’

“O final do governo Lula foi bem parecido, em seu imaginário, ao regime militar”, disse FHC, que se exilou no Chile e na França durante parte da ditadura brasileira, entre 1964 e 1985. “Os militares também tinham o ideal de grande potência e que o crescimento resolveria automaticamente todos os problemas. Dilma tem que remodelar sua mente para ser mais sensível à realidade.”

Ainda que Dilma, de 63 anos, não deva se afastar muito da política externa de Lula, sua disposição em confrontar a China em sua política de manter o yuan artificialmente desvalorizado é uma mudança bem-vinda, disse FHC.

“Com Lula, as ilusões acerca do que poderia ser feito com a China eram enormes”, disse ele.

A China superou os Estados Unidos como maior parceiro comercial do Brasil em 2009, à medida que a demanda chinesa por minério de ferro, soja e carne brasileiros disparava. Por outro lado, indústrias locais estão enfrentando concorrência mais acirrada imposta por produtos importados da China. As exportações chinesas para o Brasil cresceram 61 por cento no ano passado, para US$ 25,6 bilhões, enquanto a alta de 34 por cento do real em relação ao yuan desde o início de 2009 baixava ainda mais o custo das importações.

“Não queremos tornar os chineses nossos inimigos”, disse FHC. “Mas não é possível negar que a China representa várias interrogações para nós.”

Fernando Henrique Cardoso disse que Dilma também tem sido “bastante franca” com o Irã, a quem Lula cortejou durante uma série de reuniões com o presidente Mahmoud Ahmadinejad em Teerã, Brasília e Nova York. Ainda que Dilma e o Partido dos Trabalhadores dela e de Lula tenham uma aversão ideológica aos EUA, tal sentimento deve ser “menos profundo” no novo governo, disse FHC.


Direitos humanos

Dilma disse que fará dos direitos humanos uma prioridade em sua relação com a república islâmica. Em dezembro, ela disse ao jornal Washington Post que se opunha à decisão de Lula de se abster de uma resolução da Organização das Nações Unidas condenando o Irã por ordenar a morte por apedrejamento de uma mulher acusada de adultério.

FHC foi eleito presidente em 1994. No mesmo ano, ainda como ministro da Fazenda, ele implantou o Plano Real, que foi bem sucedido em conter a hiperinflação no País. O sucesso deu a ele o apoio popular necessário para aprovar no Congresso medidas para modernizar a economia.

Dilma, que nunca havia concorrido a um cargo eletivo antes de ser eleita presidente e que entrou no PT às vésperas da eleição de Lula, não tem o mesmo tipo de apoio para administrar sua coalizão, disse Cardoso.

Lidar com o Congresso “é muito difícil para qualquer um, mas para ela ainda mais pois ela não tem experiência política e ela não é como Lula, que controlava o partido”, disse ele.

Metas de inflação

Como presidente, FHC adotou o câmbio flutuante, aprovou a lei de responsabilidade fiscal e implantou o sistema de metas de inflação.
Ele entregou a Presidência a Lula em 2003 com 24 por cento de aprovação e depois de pedir US$ 30 bilhões emprestados ao Fundo Monetário Internacional para conter uma fuga de capital.

Ao tomar posse, Lula manteve as políticas de FHC e ampliou programas sociais, que ajudaram a retirar 21 milhões de pessoas da pobreza. A média de crescimento econômico anual no Brasil se acelerou de 2,3 por cento no governo FHC para 4 por cento no governo Lula.

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