Exército dos EUA é 30 vezes mais rico que o brasileiro (e que a Nasa)
Os EUA têm o maior orçamento com defesa do mundo, de mais de 700 bilhões de dólares. O governo brasileiro prevê cerca de 3% disso para este ano
Carolina Riveira
Publicado em 11 de novembro de 2020 às 13h43.
Última atualização em 11 de novembro de 2020 às 14h40.
O Ministério da Defesa brasileiro tem orçamento previsto para este ano de 114,62 bilhões de reais. Até agora, 68% dele já havia sido executado, o equivalente a 78,23 bilhões de reais, segundo o Portal da Transparência do governo federal, com dados até o dia 4 de novembro.
O tamanho das Forças Armadas brasileiras virou tema de debate nesta terça-feira, 10, após declaração do presidente Jair Bolsonaro sobre a relação com os Estados Unidos e o presidente eleito americano, Joe Biden. Bolsonaro rebateu indiretamente as críticas de Biden à gestão ambiental na Amazônia dizendo que "quando acaba a saliva tem de ter pólvora".
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A declaração levou a memes e brincadeiras nas redes sociais sobre uma possível "guerra" entre o Brasil e os Estados Unidos. Mas não há comparação possível entre as Forças Armadas dos dois países.
Os Estados Unidos tinham orçamento de 721,5 bilhões de dólares previstos para este ano fiscal de 2020. Na cotação de hoje do dólar, o gasto americano com defesa é 31 vezes maior que todo o orçamento do Ministério da Defesa brasileiro, cujos gastos são só 3% dos valores americanos — ou cerca de 23 bilhões de dólares.
É também mais de 30 vezes maior que os 22 bilhões de dólares previstos no ano para a Nasa, a agência espacial americana.
Há projeções que apontam ainda que, ao todo, os gastos americanos com defesa podem chegar a quase 1 trilhão de dólares no ano.
Os Estados Unidos respondem por quase 40% de todo o gasto global com defesa, segundo o instituto sueco Stockholm International Peace Research, que compila os gastos militares globais desde a década de 1960. O segundo maior gasto é da China, com 14% do bolo mundial no relatório de 2019 da organização. Países como Índia, Rússia e Alemanha também têm gastos altos.
Apesar de pequeno perto dos Estados Unidos, o orçamento de defesa brasileiro está entre os 15 maiores do mundo, com pouco mais de 1% do gasto global na área. O Brasil responde também por metade dos gastos com defesa da América do Sul.
Ao todo, o Departamento de Defesa americano (similar ao Ministério da Defesa brasileiro) tem mais de 2,8 milhões de pessoas trabalhando, a maioria militares, mas também mais de 700.000 civis, e aponta em seu site oficial que é "o maior empregador dos Estados Unidos", incluindo militares da reserva. A Defesa americana está distribuída em mais de 4.000 postos em 160 países.
O Brasil tem mais de 222.000 militares no Exército, o maior contingente dos mais de 300.000 militares brasileiros na ativa, e mais de 1 milhão na reserva.
Segundo os dados abertos do governo brasileiro, o Exército respondeu por quase metade dos pagamentos executados (47%), seguido pela Marinha (27%) e pela Aeronáutica (24%), além de outros gastos.
Dentre o valor executado pela defesa, 71% foi efetivamente para gastos classificados como "Defesa Nacional", incluindo aí a administração geral dos órgãos, com cerca de 55,55 bilhões de reais. A Previdência dos trabalhadores vinculados, que estão no regime estatuário (que regula a aposentadoria de funcionários públicos), fica com outros 27% do orçamento executado, ou quase 21 bilhões de reais até novembro.
Atuação dos militares
As Forças Armadas brasileiras se consolidaram como tendo caráter pacifista, de apoio a projetos de paz pelo mundo, ações sociais dentro do Brasil e controle de fronteiras, mas raramente na história atuaram em conflitos externos.
A última guerra na qual as Forças Armadas brasileiras lutaram foi a Segunda Guerra Mundial, que contou sobretudo com rápida participação da Força Aérea Brasileira na Itália (ao lado dos aliados, representados por países como Estados Unidos, Inglaterra e França) de 1943 a 1945, ano em que a guerra terminou.
As Forças Armadas também participaram do golpe de 1964 que tomaria o poder no Brasil até a transição democrática a partir de 1985. Internamente, o Exército brasileiro também estancou revoltas populares no período regencial do Império e, mais tarde, na República Velha, já sob o presidencialismo.
A maior guerra já lutada pelas Forças Armadas do Brasil foi a Guerra do Paraguai, que eclodiu em 1865 e foi até 1870. Historiadores apontam que o Exército se consolidou sobretudo após essa guerra.
Desde a redemocratização e a Constituição de 1988, o Brasil tem integrado missões de paz pelo mundo e ao lado de outras equipes da Organização das Nações Unidas (ONU). Uma das missões recentes foi no Haiti, de 2004 a 2017, após o terremoto que dizimou o país. O Brasil também está atualmente em missão da ONU em países africanos, como Sudão e Guiné-Bissau.