Jair Bolsonaro: presidente diz ter se inspirado no americano Donald Trump (J. Batista - Câmara dos Deputados/Agência Câmara)
Reuters
Publicado em 8 de maio de 2019 às 17h04.
Brasília — Oito ex-ministros do Meio Ambiente criticaram o presidente Jair Bolsonaro e seu governo em uma carta divulgada nesta quarta-feira, alegando que ele está desmontando as proteções ambientais do país.
As ex-autoridades criticaram a decisão do governo de tirar a autoridade do Ministério do Meio Ambiente sobre agências de água e florestas, enquanto também dizem que a falta de diretrizes claras para combater mudanças climáticas está ameaçando a capacidade do Brasil de atender seus compromissos de cortar emissões de gases estufa
"Tudo isso reforça na ponta a sensação de impunidade, que é a senha para mais desmatamento e mais violência", escreveram, alegando que esse desmantelamento é inconstitucional.
O atual ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, respondeu ponto a ponto a carta em uma declaração e culpou forças externas pelo que vê como uma campanha contra o país.
"O que vem causando prejuízos à imagem do Brasil é a permanente e bem orquestrada campanha de difamação promovida por ONGs e supostos especialistas, para dentro e para fora do Brasil", disse Salles em uma carta.
Durante a campanha eleitoral do ano passado, Bolsonaro se posicionou contra o que chamou de "indústria" de multas ambientais mirando produtores agrícolas e em certo ponto, cogitou tirar o Brasil do Acordo Climático de Paris. Ele ainda sustenta que a mudança climática pode não ser por culpa humana, embora o Brasil ainda esteja no acordo.
Seus comentários geraram temores entre ambientalistas de que o desmatamento crescerá na parte brasileira da floresta Amazônica, que absorve vastos volumes de gases estufa.
O desmatamento no Brasil, no entanto, caiu 34 por cento ano a ano nos primeiros quatro meses do ano, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Os ex-ministros do Meio Ambiente que assinam a carta incluem Rubens Ricúpero, que ocupou o cargo na década de 1990, e Edson Duarte, que deixou o cargo no fim do governo anterior.
Em sua resposta, que é mais longa que a carta original, Salles disse concordar com o pedido dos ex-ministros por regulamentações ambientais mais robustas e eficientes.
"O atual governo não rechaçou, nem desconstruiu, nenhum compromisso previamente assumido e que tenha tangibilidade, vantagem e concretude para a sociedade brasileira", escreveu.
Salles criticou a falta de ação de governos anteriores em diversas áreas. Ele defendeu mover a autoridade sobre serviços florestais e a agência de águas ANA a outros ministérios, alegando que isso ajudaria a dar um ponto de partida para ação nessas áreas.
"Reafirmamos o nosso compromisso no combate ao desmatamento ilegal, com ações efetivas e não meramente retóricas", escreveu ele.