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Eu durmo com a consciência tranquila ao contrário de Moro, diz Lula

Na sua primeira entrevista após mais de um ano preso em Curitiba, o ex-presidente disse que um "bando de maluco" governa o país

Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista feita na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba (El País/Reprodução)

Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista feita na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba (El País/Reprodução)

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Clara Cerioni

Publicado em 26 de abril de 2019 às 16h31.

Última atualização em 26 de abril de 2019 às 16h37.

São Paulo — O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu nesta sexta-feira (26) sua primeira entrevista à imprensa, após mais de um ano preso na superintendência da Polícia Federal, em Curitiba.

Ao jornal Folha de S.Paulo e El País, o petista falou sobre a vida detido, da morte do neto, do governo de Jair Bolsonaro, das condenações por corrupção, da possibilidade de nunca mais sair da prisão.

"Fico preso cem anos. Mas não troco minha dignidade pela minha liberdade", afirmou às reportagens reafirmando sua inocência.

A entrevista aconteceu após uma batalha judicial, já que os pedidos dos veículos foram negados pela Justiça ao longo de meses. 

Na semana passada, o presidente da STF (Supremo Tribunal Federal), Dias Toffoli, reviu a decisão e permitiu a conversa.

O ex-presidente, segundo os veículos, foi entrevistado por cerca de duas horas, em uma sala preparada pela PF. No esquema, foi determinado que ele seria colocado em uma mesa a uma distância de 4 metros de todos os presentes e ninguém poderia se aproximar. 

"Eu tenho certeza de que durmo todo dia com a minha consciência tranquila. E tenho certeza de que o Dallagnol não dorme, que o [ministro da Justiça e ex-juiz Sergio] Moro não dorme", disse Lula.

O ex-presidente disse que a elite brasileira deveria fazer uma autocrítica depois da eleição de Bolsonaro. "Vamos fazer uma autocrítica geral nesse país. O que não pode é esse país estar governado por esse bando de maluco que governa o país. O país não merece isso e sobretudo o povo não merece isso", afirma.

Embate com a entrevista

Depois da autorização do presidente do STF, a Polícia Federal informou os advogados do ex-presidente que todos os veículos de imprensa interessados em falar com Lula poderiam participar da entrevista.

Sua defesa, no entanto, solicitou ao ministro Ricardo Lewandowski, relator do caso, que o ex-presidente conceda as entrevistas de forma reservada, somente com os jornalistas com os quais ele desejar conversar. O que foi acatado pelo magistrado.

A Folha de S.Paulo e Florestan Fernandes Júnior foram os primeiros a fazer o pedido à Justiça. A solicitação foi negada pela primeira instância da Justiça Federal em Curitiba, e, posteriormente, autorizada pelo Supremo.

“Esclareço que a decisão da Corte se restringe exclusivamente aos profissionais da imprensa supramencionados, vedada a participação de quaisquer outras pessoas, salvo as equipes técnicas destes, sempre mediante a anuência do custodiado’, decidiu o ministro.

Dúvidas

Uma pessoa detida pode dar entrevista? A decisão depende do juiz, de acordo com advogados ouvidos por EXAME.

Não há legislação específica sobre o tema e as decisões são feitas caso a caso, considerando a manutenção da ordem interna do presídio e um possível prejuízo da pena.

O artigo 41 da Lei de Execução Penal prevê apenas o “contato com o mundo exterior por meio de correspondência escrita, da leitura e de outros meios de informação que não comprometam a moral e os bons costumes” como direito do preso.

Há exemplos notórios de entrevistas realizadas com detidos no Brasil, como a do líder do PCC, Marco Willians Herbas Camacho (o Marcola) ao jornal O Globo em março de 2014, e do traficante Fernandinho Beira-Mar para a TV Record em junho de 2017.

Outros casos de criminosos famosos que receberam a imprensa na prisão foram do ex-médico e estuprador, Roger Abdelmassih, de Suzane von Richthofen, que matou os pais, do ex-prefeito e deputado Paulo Maluf e do traficante Nem da Rocinha.

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