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Estudo mostra elo de empresas que devastam Amazônia com paraísos fiscais

Estudo vem na esteira do vazamento de 2015 dos Panama Papers, que mostraram como indivíduos e empresas usam esquemas em paraísos fiscais para reduzir contas

Floresta Amazônica: derrubada de vegetação realizada para abrir fazendas de soja e de gado de corte foi um "impulsionador crucial do desmatamento" (Ildo Frazao/Thinkstock)

Floresta Amazônica: derrubada de vegetação realizada para abrir fazendas de soja e de gado de corte foi um "impulsionador crucial do desmatamento" (Ildo Frazao/Thinkstock)

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Reuters

Publicado em 13 de agosto de 2018 às 17h12.

Oslo - Cientistas pediram nesta segunda-feira uma transparência maior a respeito do uso de paraísos fiscais por parte de empresas envolvidas em atividades que prejudicaram os oceanos do mundo e a Floresta Amazônica.

Em um estudo publicado no periódico científico Nature Ecology and Evolution, eles disseram que muitas firmas que praticam a pesca ilegal em todo o mundo usaram paraísos fiscais para registrar suas embarcações, e que investimentos na agricultura que danificaram a floresta tropical muitas vezes provêm de contas destes locais.

O estudo vem na esteira do vazamento de 2015 dos Panama Papers, que mostraram como indivíduos e empresas ricos usam esquemas em paraísos fiscais para reduzir suas contas.

Setenta por cento dos barcos de pesca implicados em atividades ilegais, não relatadas ou não regulamentadas foram registrados em algum momento nestes destinos, com destaque para Belize e Panamá, escreveram os cientistas no periódico. Em contraste, só cerca de quatro por cento de todos os barcos de pesca registrados em todo o mundo navegam com bandeiras de paraísos fiscais, disseram.

Os cientistas também citaram documentos do Banco Central do Brasil que revelaram que quase 70 por cento do capital estrangeiro investido por grandes empresas no plantio de soja ou no gado de corte no país - ou 18,4 bilhões de dólares de um total de 26,9 bilhões de dólares - partiu de paraísos fiscais no período 2000-2011.

A derrubada de vegetação realizada para abrir fazendas de soja e de gado de corte foi um "impulsionador crucial do desmatamento", especialmente nos primeiro anos do período, disseram. A maioria dos fundos para soja e gado de corte partiu das Ilhas Cayman, das Bahamas e da Holanda.

"No caso dos viveiros de peixes... há exemplos de uso ilegal de paraísos fiscais. Estamos falando de sonegação de impostos", disse o principal autor do estudo, Victor Galaz, da Universidade de Estocolmo, à Reuters.

Em comparação, Galaz disse não haver nada de ilegal no uso de paraísos fiscais para canalizar dinheiro para fazendas do Brasil, mas acrescentou que isso às vezes pode funcionar como um subsídio indireto para práticas ambientalmente danosas.

O relatório não mencionou empresas de pesca, mas os cientistas escreveram a companhias listadas nos documentos do Banco Central brasileiro, que mostraram que Cargill e Bunge têm as maiores quantidades de empréstimos ou de dinheiro fluindo através de paraísos fiscais.

Ambas as empresas afirmaram estar comprometidas com a proteção do meio ambiente e apoiaram uma moratória de soja no Brasil em 2006, que proíbe a compra de áreas recentemente desmatadas.

"Nós não 'escondemos' lucros ou dinheiro em paraísos fiscais", escreveu um representante da Cargill aos autores. "Nossa empresa está sujeita nos EUA à divulgação completa de todas as nossas atividades e contas bancárias associadas a empresas não americanas."

A Cargill disse à Reuters que não havia nada a acrescentar a essa declaração.

"Nosso objetivo é construir cadeias de fornecimento sustentáveis e livres de desmatamento", escreveu um porta-voz da Bunge em um e-mail à Reuters, reafirmando os comentários que a empresa enviou aos autores.

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