Nestes estados, mortes por armas brancas superam as por revólver
Duas unidades da federação localizadas na região Norte fogem à regra do país, onde as mortes por revólveres são as mais comuns; veja quais são
Bárbara Ferreira Santos
Publicado em 19 de novembro de 2016 às 09h57.
São Paulo — Contrariando as estatísticas de violência nacionais, dois estados do Norte do país registram mais mortes por armas brancas (facas e outros objetos cortantes) do que por armas de fogo, revelam dados do 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgados no final de outubro.
Em Roraima , 46,9% das mortes causadas por agressão foram resultantes do uso de armas brancas enquanto 29,4% dos homicídios ocorreram por revólveres.
Tocantins aparece logo em seguida, com taxa de 46,5% de assassinatos por arma de fogo e 44,9% por objetos cortantes.
O levantamento classifica os estados em quatro grupos que determinam o grau de credibilidade dos dados. Isso porque há regiões em que as estatísticas, apesar de divulgadas pelo poder público, não são confiáveis. O grupo 1 é o que tem o melhor índice de confiabilidade e é também o com maior número de estados: reúne 21 unidades da federação (UFs), entre elas Roraima. Já Tocantins aparece no segundo grupo, ao lado de Acre, Amapá, Paraíba e Rondônia.
Os dois estados também aparecem na lista dos que menos tiveram mortes resultantes de crimes violentos em 2015, em números absolutos. Roraima possui o menor número: 160 mortes no total, uma média de 18,2 assassinatos por grupo de 100 mil habitantes. Tocantins aparece em quarto lugar: 365 mortes e taxa de 25,7 /100 mil pessoas.
O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e conselheiro do Fórum de Segurança Pública, Daniel Cerqueira, afirma que as armas brancas são utilizadas principalmente em conflitos interpessoais (brigas dentro de casa, entre amigos e conhecidos) e de gênero, o que pode indicar um traço cultural desses dois estados.
Já as armas de fogo são usadas principalmente em regiões com alta criminalidade, com presença de crime organizado, econômico e narcotráfico, explica Cerqueira. "Até 20 anos atrás, uso da arma branca era uma característica do Nordeste, também mas houve um aumento da arma de fogo e também da criminalidade na região desde então", afirmou o pesquisador.
Panorama nacional
Roraima e Tocantins fogem à regra do país, onde as mortes por revólveres são as mais comuns.
A taxa de homicídio por armas de fogo no Brasil é uma das maiores do mundo. Cerca de 71,6% das mortes intencionais no território brasileiro são resultantes do uso desse tipo de instrumento.
A média mundial é de quatro a cada 10 homicídios, segundo os últimos dados divulgados pelo Escritório sobre Drogas e Crime das Nações Unidas (UNODC, na sigla em inglês), que datam de 2013.
Daniel Cerqueira afirma que, nos últimos 20 anos, a escalada dos homicídios no país tem relação direta com o aumento do uso de arma de fogo. Levantamento feito pelo pesquisador revela que cada 1% a mais de revólveres em uma cidade, há um aumento de 2% no total de homicídios. "As pessoas acham que ter arma de fogo em casa significa mais segurança, mas, na verdade, é o contrário: aumenta o número de homicídios, suicídios e acidentes com crianças dentro da própria casa", diz Cerqueira.
As mortes resultantes do uso de armas brancas correspondem a 20,3% no Brasil e 24% no mundo. As agressões físicas, objetos não cortantes e outros fatores ocasionam 8,1% dos assassinatos no Brasil e 35% no mundo.
No Brasil, algumas regiões possuem índice de mortes causadas por armas de fogo muito acima da média nacional. Ao todo, dez estados registram mais de 71,6% dos homicídios por arma de fogo: Alagoas (86,6%), Rio Grande do Norte (81,9%), Ceará (82,1%), Paraíba (80,9%), Sergipe (81,8%), Bahia (78,9%),Espírito Santo (80,3%), Distrito Federal (74,6%) e Rio Grande do Sul (75,9%).
Uso de arma de fogo no mundo
Quando considerado o cenário mundial, o uso de armas de fogo é predominante nas Américas, onde 66% dos homicídios são cometidos com revólver. Já os objetos cortantes são mais comuns em países da Oceania, onde 55% das vítimas morrem por agressões com esse tipo de instrumento.
Segundo o Estudo Global sobre o Homicídio 2013 da UNODC, as armas brancas são mais usadas em países com baixos níveis de homicídios. Nas nações que integram o Reino Unido, por exemplo, objetos cortantes são o método mais comum de assassinato. Na Inglaterra e no País de Gales, eles são responsáveis por dois a cada cinco homicídios em 2011/2012.