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Especialista diz que ônibus sem conforto estimula uso de carros em Curitiba

Engenheiro explica por que Curitiba, vista como modelo em transporte público, tem a maior concentração de carros por habitante do país

BRT em Curitiba: sistema considerado modelo não impede a cidade de ter a maior concentração de carros por habitante do país (Divulgação/ Prefeitura Municipal de Curitiba)

BRT em Curitiba: sistema considerado modelo não impede a cidade de ter a maior concentração de carros por habitante do país (Divulgação/ Prefeitura Municipal de Curitiba)

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Da Redação

Publicado em 24 de março de 2011 às 10h28.

São Paulo - O fato de Curitiba ser a capital brasileira que tem mais carros por habitante (quase duas pessoas para cada carro) desperta a curiosidade do especialista em trânsito Fernando MacDowell. O engenheiro, que foi responsável por importantes projetos na cidade do Rio de Janeiro, como a linha amarela e diversos trechos do metrô, diz que a proporção não combina com uma cidade que é conhecida pela qualidade do transporte público. Para ele, o aumento na concentração de carros nas grandes cidades reflete a incapacidade dos governos de fazer investimentos adequados em infraestrutura.

"O engraçado é que Curitiba é a capital brasileira do BRT (sigla em inglês para o sistema de transporte chamado de Bus Rapid Transit)." Este sistema tem sido frequentemente apontado como uma das soluções para os problemas de mobilidade urbana em grandes cidades. "Isto nos faz pensar no quanto estamos acertando ao criar estas alternativas", diz MacDowell. Crítico da modalidade, o engenheiro afirma que os ônibus usados no BRT são lentos, e ainda não oferecem uma opção confortável para os passageiros.

Segundo as contas de MacDowell, os ônibus do BRT, para atenderem adequadamente à demanda em grandes cidades, circularão com uma média de seis passageiros por metro quadrado de vagão nos horários de maior movimento. O limite recomendável para viagens mais longas é de quatro passageiros em uma área desta dimensão.

"Se eu estivesse entre as opções de entrar em um ônibus do sistema BRT, pegar um trem ou metrô, ou comprar um carro, escolheria esta última. Poderia passar horas em um congestionamento, mas pelo menos teria conforto. No carro daria para respirar, o que nem sempre acontece no transporte coletivo", diz.

MacDowell se antecipa a eventuais argumentos de que a capital paranaense tem a maior concentração de carros do Brasil por ser uma cidade com renda média elevada. "Em São Paulo e Brasília, por exemplo, as populações têm renda bem maior e mesmo assim elas têm menos carros por habitante que Curitiba." De fato, segundo dados do IBGE, a renda per capita de Curitiba é de 23,6 mil reais, enquanto as de São Paulo e Brasília são de 32,4 mil e 45,9 mil reais, respectivamente. 

Além das críticas ao BRT, MacDowell diz que outro problema que resulta no aumento do volume de carros nas ruas é o baixo nível de investimento dos governos em infraestrutura. Ele diz que, no Rio de Janeiro, a última grande obra relacionada à mobilidade urbana data de 1998, quando a linha amarela foi inaugurada.

"As autoridades têm que ser rápidas no gatilho, porque a tendência nas grandes capitais é chegar à proporção de um carro por habitante, e até passar disso. Em Nova York, a proporção entre carros e pessoas chega perto de ser um para um, mas 50% das viagens motorizadas diárias são feitas por transporte público, porque eles funcionam. Então não venha me dizer que os carros são o problema nas grandes cidades. A incompetência dos governos é que é."

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