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Ernesto Araújo exonera diplomata que reproduziu textos críticos

Saída ocorre no mesmo dia em que embaixador republicou, em seu blog pessoal, artigos de políticos com críticas à diplomacia brasileira

Ernesto Araújo: questionado, o Itamaraty afirmou que a mudança estava decidida antes das publicações (Wilson Dias/Agência Brasil)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 5 de março de 2019 às 09h52.

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, comunicou nesta segunda-feira, 4, a exoneração do embaixador Paulo Roberto de Almeida do cargo de presidente do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (Ipri). A saída ocorre no mesmo dia em que Almeida republicou, em seu blog pessoal, artigos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do ex-ministro Rubens Ricupero com críticas à diplomacia brasileira, e também texto do próprio chanceler, que rebate os dois primeiros.

O embaixador assumiu o cargo no Inpri em agosto de 2016, durante o governo de Michel Temer. Questionado, o Itamaraty afirmou, por meio de nota, que a mudança estava decidida anteriormente. "A troca da presidência do Ipri, no contexto da troca da grande maioria das chefias do Ministério das Relações Exteriores, já estava decidida e foi comunicada ao atual titular", diz a nota.

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Em postagem já na noite desta segunda-feira, o embaixador comentou a notícia de sua exoneração com citação a autoritarismo. "Personalidades autoritárias não apreciam espíritos libertários como o meu."

Na publicação no blog, Almeida diz que sua intenção ao reproduzir os textos críticos ao atual chanceler era estimular o debate."O debate está aberto, e certamente teremos outros textos e outras polêmicas", escreve.

Ele, no entanto, já havia feito outras críticas recentes ao atual governo. No sábado, dia 2, ele republicou em suas redes sociais declarações de Olavo de Carvalho, considerado o guru do atual chanceler, que chama de "Olavices debiloides". "Certas coisas precisam ser relidas para constatar que, efetivamente, estamos em face de uma demonstração explícita de debilidade mental", postou Almeida. "É essa inteligência suprema que orienta a política externa do presente governo?", completa.

Almeida também comentou nas redes sociais declaração do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, sobre a morte de um neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Fundamentalistas de esquerda e de direita não só se parecem, como são exatamente iguais", escreveu em seu Twitter.

'Deserto'

Almeida é diplomata de carreira desde 1977. Serviu em diversos postos no exterior, entre eles na Bélgica, onde se tornou doutor em ciências sociais em 1984. Em seu blog, anuncia que deve publicar em breve um livro que trata, entre outros temas, da diplomacia no período "lulopetista", no qual, segundo afirma, atravessou um longo "deserto".

"Durante todo o decorrer do regime lulopetista - ou seja, de 2003 a 2016 -, eu não tive nenhum cargo na Secretaria de Estado das Relações Exteriores (SERE), tendo sido 'condenado', desde o início desse regime, a uma longa travessia do deserto, que só veio a termo com o impeachment de meados de 2016, quando finalmente fui convidado para o cargo de diretor do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI), da Fundação Alexandre de Gusmão, vinculada ao Itamaraty", afirma.

A reportagem não conseguiu contato com o embaixador nesta segunda-feira.

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