Rebanho do JBS: a líder global em processamento de carne bovina é uma das participantes do projeto (John Blake/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 29 de maio de 2014 às 18h41.
São Paulo - Grandes empresas brasileiras de alimentos se aliaram a organizações que atuam contra o aquecimento global para desenvolver melhores ferramentas de medição de emissões de gases de efeito estufa (GGE), de olho em eventuais restrições comerciais baseadas na questão ambiental.
A líder global em processamento de carne bovina JBS, a trading de grãos AMaggi, a processadora global de proteína animal Marfrig e o braço local da gigante de alimentos Bunge participam do programa, que desenvolveu um novo protocolo para medir emissões de GGE no setor agropecuário.
Além de melhorar a medição das suas emissões, essas companhias buscam estender a prática para suas cadeias de fornecimento.
O objetivo é assegurar a investidores e compradores de alimentos estrangeiros que as companhias estão buscando produzir de forma sustentável, disseram participantes do programa.
"Esta iniciativa é extremamente importante para identificar as emissões e reduções de emissões relacionadas à cadeia de fornecimento, visto que a JBS possui um cadastro de mais de 60 mil fornecedores de gado distribuídos em diferentes biomas brasileiros", afirmou o diretor de Sustentabilidade da JBS, Marcio Nappo.
A ONG norte-americana World Resources Institute (WRI) coordenou os trabalhos para criar um novo método de medição, chamado de GHG Protocol para a Agricultura, apresentado em um seminário nesta quinta-feira em São Paulo.
"Para o Brasil, é fundamental ter essa ferramenta", disse a diretora de Sustentabilidade do grupo AMaggi, Juliana Lopes.
"Nós temos 3.500 produtores associados em nossa cadeia de suprimento. Nós queremos estabelecer um programa de gestão do carbono em toda a cadeia".
Sob Pressão
Essa não é a primeira vez que companhias brasileiras do setor agrícola atuam para reduzir os riscos ambientais.
Após críticas de grupos de defesa do meio ambiente e de varejistas de alimentos estrangeiros há alguns anos, muitas empresas grandes e médias do setor agropecuário anunciaram que não comprariam mais grãos ou gado de áreas que sofreram desmatamento recente.
Segundo o WRI, a agropecuária em todo o mundo responde por 13 por cento das emissões globais de gases do aquecimento global. O Brasil é o segundo país que mais emite esses gases considerando o setor agrícola, atrás apenas da China.
Além das emissões tipicamente associadas a esta área, como as resultantes da fermentação entérica do gado ou do uso de fertilizantes nitrogenados, também há a questão do desmatamento.
A maior parte das emissões de GGE do desmatamento está ligada à expansão de áreas agricultáveis em países em desenvolvimento. O Brasil perdeu 36 milhões de hectares de florestas nos últimos 12 anos, principalmente nas novas fronteiras agrícolas, diz o WRI.
Eduardo Assad, especialista em mudança climática na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e um dos colaboradores para o desenvolvimento do novo protocolo, diz que as companhias e os produtores brasileiros deveriam se atentar para os benefícios que a nova ferramenta oferece.
"Nossos produtos poderão ficar mais competitivos e com selo ambiental. O mundo caminha nessa direção", afirmou.
O setor agropecuário brasileiro tem sido lento na adoção de práticas de baixo-carbono, diz ele, apesar de linhas de financiamento públicas generosas.
E com o crescimento do setor em meio ao aumento da demanda global por alimentos, ele se encaminha para assumir a desconfortável liderança na emissão de gases do aquecimento global, passando o setor de energia.
"Com a redução do desmatamento na Amazônia, as emissões de gases de efeito estufa da agricultura tomaram uma grande dimensão no Inventário Nacional. A agropecuária já responde por 32 por cento de todas as emissões no país", diz Assad.