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Empresário confessa ter pagado cerca de R$ 1 milhão a Witzel antes da campanha de 2018

Objetivo era garantir a "subsistência" caso Wilson Witzel não fosse eleito para o governo do Rio de Janeiro

Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. (Fernando Frazão/Agência Brasil)

AO

Agência O Globo

Publicado em 13 de janeiro de 2021 às 13h44.

O empresário Edson Torres, apontado como operador financeiro do Pastor Everaldo, presidente do PSC preso desde agosto do ano passado, reafirmou nesta quarta-feira (13) ter pagado R$ 980 mil ao então juiz federal Wilson Witzel antes da campanha eleitoral de 2018. Segundo Torres, o objetivo era garantir a “subsistência” caso Witzel não fosse eleito para o governo do estado. Ele disse que o empresário Victor Hugo Barroso, também preso na Operação Tris in Idem, em agosto, também contribuiu com os valores, pagos antes da desincompatibilização de Witzel do cargo, em abril de 2018.

— Durante esse periodo, antes da desincompatibilização dele como juiz federal, nós fizemos um caixa de subsistência, para o caso de ele não ganhar a eleição, de um valor de aproximadamente R$ 1 milhão, que chegou a R$ 980 mil, que foram pagos antes de desincompatibilização. Foram pagos em algumas parcelas — contou.

Torres já havia confessado participação nos esquemas ao Ministério Públco Federal, e está repetindo todas as afirmações em seu depoimento no Tribunal Especial Misto nesta quarta-feira.

O empresário afirmou que participou da indicação de Edmar Santos para o cargo de secretário de Estado de Saude ainda no período de transição, no fim de 2018, e que também foi consultado por Edmar para a nomeação de Gabriell Neves como subsecretário executivo da pasta, no início de 2019. Gabriell também é acusado de operar desvios em contratos na saúde.

Desvios de 3% a 6%

Segundo Torres, o grupo ligado a Everaldo desviava entre 3% e 6% de contratos na Saúde, incluindo Organizações Sociais contratadas pelo estado. Esse grupo teria arrecadado entre R$ 50 e R$ 55 milhões em propinas, que eram divididos entre os envolvidos:

Da arrecadação que se fez, no período de 2019 até maio ou junho de 2020, o percentual girava em torno de 15% comigo, 15% (com o empresário) victor hugo, 30% com edmar, e 40% para everaldo, que repassava para a estrutura de governo.

Torres, no entanto, não soube dizer como Everaldo distribuía sua parte, nem se o governador Wilson Witzel era beneficiário das propinas. Ele também não soube dizer se a OS Iabas, contratada para fazer hospitais de campanha no início da pandemia, pagou propina, mas disse que a organização teria feito tratativas com o empresário Victor Hugo Barroso

— Em 2020, por causa deste contrato novo, passou-se a conversar com eles, o pessoal do Victor Hugo, mas eu não sei se houve propina em cima desses novos contratos.

Além do desvio de até 6% nos pagamentos mensais da secretaria, Torres afirmou que havia um desvio de 20% dos valores pagos a duas organizações sociais como Restos a Pagar, que são dívidas contraídas em gestões anteriores. Segundo ele, parte da propina ficava com advogados que negociavam esses pagamentos:

— Treze por cento iam para o “caixinha” que foi montado. Sete por cento eram honorários, que ficavam com os advogados — disse ele.

Torres afirmou que uma das OSs que pagou propina ao receber dívidas foi o Hospital Maternidade Terezinha de Jesus (HMTJ), organização que fez pagamentos ao escritório da então primeira-dama Helena Witzel. A outra empresa seria a IDR, que teria recebido R$ 20 milhões em restos a pagar. A IDR seria a antecessora da OS Unir Saúde, requalificada por Witzel contrariando pareceres técnicos e um dos pontos centrais do pedido de impeachment.

Edson Torres presta depoimento no Tribunal Especial Misto de impeachment, quando será questionado por todos os 10 integrantes, além da acusação e defesa.

Torres contou que outros cargos do primeiro escalão do estado foram ocupados por integrantes do grupo, como o ex-presidente da Cedae Hélio Cabral e o ex-secretário das cidades Juarez Fialho, que segundo ele é sócio de Victor Hugo Barroso. Torres, no entanto, não falou sobre possíveis desvios nessas áreas, que não estão envolvidas na denúncia que gerou o processo de impeachment contra Witzel.

Governos anteriores

Torres contou que participou de desvios em governos passados, e que teve empresas com contratos no estado entre os anos de 2003 e 2015, quando passou a atuar apenas como consultor de empresas ligadas à sua familia que continuavam contratadas pelo governo. Nesse período, segundo ele, teria pagado propinas em contratos no Hospital Universitário Pedro Ernesto, ligado à Uerj, e na Cedae.

— Eu paguei vantagens indevidas para o diretor do Hospital Pedro Ernesto — contou ele, em referência a Edmar, que ocupou o cargo entre 2016 e 2018. Ele contou que também pagou propina em contratos da Cedae entre 2015 e 2018.

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