Doria: entre os garis a ação foi vista sob diferentes ângulos, da ridicularização ao elogio (Facebook/João Doria)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de janeiro de 2017 às 11h35.
Última atualização em 2 de janeiro de 2017 às 11h39.
São Paulo - A varrição prometida pelo prefeito eleito João Doria (PSDB) ficou só no gesto: cercado pela imprensa e por cidadãos, o prefeito só conseguiu colher algumas folhas e colocá-las no cesto de lixo em uma ação que durou menos de 10 segundos.
Doria ganhou um par de luvas de uma gari que a abraçou. "Posso usar?", perguntou. "Não, é só para tirar foto e depois você me devolve", retrucou ela.
Após cerca de uma hora sem conseguir varrer, Doria parou para tomar café em um bar da região. A ação causou tumulto: fotógrafos e cinegrafistas começaram a subir nas mesas do estabelecimento e até no balcão para registrar o momento.
O secretário de comunicação Fábio Santos pediu que descessem. "É sacanagem com o bar", mas não foi obedecido.
Entre os garis a ação foi vista sob diferentes ângulos, da ridicularização ao elogio. "Ele vai virar meme (imagem que viraliza nas redes sociais com algum tipo de piada) até dizer chega", disse um deles em meio à multidão. Outros viram o prefeito com bons olhos.
"É bom que ele vai conhecer a cidade. Falta organização no centro. Junta muito carroceiro e morador de rua e eles fazem uma bagunça, uma sujeira. Se mexer com eles, partem para cima. Já presenciei muita briga, principalmente na Cracolândia", diz o motorista dos garis Cleber Pedro da Silva, de 38 anos, há oito meses no cargo.
Doria também se comprometeu a ser catador de recicláveis por um dia após ser abordado por representantes do movimento social Pimp my Carroça. Eles entregarem a ele o manifesto "Do lixo, vivo!", com reivindicações da categoria sobre coleta seletiva de lixo.
Alguns moradores de rua ficaram revoltados por terem sido retirados do local. Eles foram convidados a ficar em uma quadra para que a ação fosse realizada.
"Tenho duas carroças, a barraca e um cachorro. Não cabe nada na quadra, fora que tira o lazer das crianças", reclamou Débora Moreira Silva, de 37 anos. Ela disse que a população local foi avisada da ação com dez dias de antecedência.
Outros moradores de rua que já estavam na quadra disseram ter recebido promessas de receber uma bolsa-aluguel para que saiam da rua. "Pegaram o nome de todos que moram aqui", disse Pâmela de Oliveira, de 37 anos, que está na praça há quatro meses.
"Nós também ajudamos a limpar. Eu mesmo tirei duas carroças de lixo daqui", disse um morador de rua que pediu para não ser identificado.
À reportagem, o secretário adjunto de Assistência e Desenvolvimento Social Felipe Sabará disse que a equipe de Doria já estava no local conversando com os moradores de rua cerca de um mês antes da ação.
"Juntamos várias ONGs que trabalhavam com eles para nos ajudar e comunicamos que haveria uma ação de limpeza. Eles mesmos sugeriram o local para ficar (o espaço abrigava um estacionamento em terreno invadido ilegalmente, segundo Sabará)", disse.
Ele destacou que, ao longo da limpeza, desde às 6h, todos tiveram acesso a atendimento médico, odontológico, cabeleireiro e até cadastro para bolsa-aluguel e criação de currículos.