Brasil

Diplomata assume responsabilidade por fuga de senador

Eduardo Saboia disse ter agido sem autorização porque o político de oposição Roger Pinto estava deprimido e ameaçava cometer suicídio

Senador de oposição Roger Pinto posa para foto ao completar 100 dias refugiado na emabaixada brasileira em La Paz, na Bolívia (Dennis Pinto/Divulgação)

Senador de oposição Roger Pinto posa para foto ao completar 100 dias refugiado na emabaixada brasileira em La Paz, na Bolívia (Dennis Pinto/Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 26 de agosto de 2013 às 18h29.

São Paulo/La Paz - O encarregado de negócios da embaixada do Brasil em La Paz assumiu a responsabilidade pela fuga do senador boliviano Roger Pinto e disse ter agido sem autorização de seus superiores, porque o político de oposição estava deprimido e ameaçava cometer suicídio após 15 meses refugiado na sede diplomática.

A admissão do diplomata Eduardo Saboia pode ajudar a evitar uma crise diplomática entre Brasil e Bolívia, um aliado e importante fornecedor de 40 por cento do gás natural consumido no país.

"Eu decidi falar com a imprensa e dizer que tomei a decisão de conduzir essa operação porque havia um risco iminente à vida e à dignidade de uma pessoa", disse o diplomata em entrevista transmitida no domingo à noite pela TV Globo.

"Havia uma violação constante, crônica de direitos humanos, porque não havia perspectiva de saída, não havia uma verdadeira negociação em curso, e ele obviamente tinha um problema de depressão que estava se agravando", acrescentou.

O senador boliviano fugiu a bordo de um carro da embaixada brasileira, que percorreu 1.500 quilômetros até cruzar a fronteira, sem que as autoridades bolivianas ficassem sabendo.

A fuga do senador, um crítico do presidente boliviano, Evo Morales, e que é acusado de corrupção em seu país, aumentou a tensão entre os aliados sul-americanos.

O chanceler boliviano, David Choquehuanca, disse nesta segunda-feira que a fuga do senador com a ajuda do diplomata brasileiro viola os convênios internacionais e exigiu explicações ao Brasil.

"Não pode ser que ao amparo da imunidade diplomática normas nacionais e internacionais sejam transgredidas", disse a jornalistas em La Paz.

"Pode ser um mau precedente", acrescentou, "porque amparados na imunidade diplomática, então, já podemos levar droga ou traficar armamentos, ou podemos nos dedicar ao tráfico de pessoas. O que aconteceu é grave." A decisão de Saboia aparentemente surpreendeu as autoridades brasileiras, que prometeram investigar o incidente e tomar medidas administrativas e disciplinares.


Porta-vozes do Ministério das Relações Exteriores brasileiro não estavam imediatamente disponíveis para fazer comentários. Em nota, o Itamaraty informou que Saboia foi chamado a Brasília para esclarecimentos.

Graças ao Brasil

Em mensagem lida nesta segunda-feira no Senado boliviano, Roger Pinto pareceu sugerir que a iniciativa de sua fuga foi das autoridades brasileiras.

"Devo minha liberdade ao Brasil", escreveu em uma carta com o logotipo do Senado boliviano e datada de 25 de agosto.

"Quando as autoridades do Brasil me consultaram sobre a decisão de sair da Bolívia, entendi que o tempo havia chegado, que era uma operação difícil e arriscada, mas que serviria para fechar esse processo", acrescentou, sem dar detalhes.

O Brasil concedeu asilo político a Pinto, em meados de 2012, mas as autoridades bolivianas não concederam ao senador um salvo-conduto necessário para sair do país.

O encarregado de negócios disse que atuou sem a permissão do Ministério das Relações Exteriores. "Não preciso de autorizações específicas em situações de urgência." O advogado brasileiro de Pinto, Fernando Tiburcio, disse à Reuters que seu cliente saiu às 15h (horário local) de sexta-feira da embaixada brasileira em La Paz em um comboio de dois carros diplomáticos. Cada veículo tinha um motorista e um fuzileiro naval.

"No trajeto, eles foram parados cinco vezes pela polícia, mas Eduardo (Saboia) foi firme e impediu que revistassem o carro", disse o advogado à Reuters.

Saboia disse que havia informado duas vezes ao Itamaraty sobre a piora da situação do boliviano e da necessidade de uma ação. Segundo Tiburcio, a última advertência foi feita um dia antes da fuga, quando comunicou a seus chefes em Brasília "sobre a iminência de fazer algo".

Em um aparente sinal de discrepância com seus chefes, Saboia disse que havia decidido tornar sua história pública depois que o Itamaraty o mencionou em uma declaração na qual prometeu investigar o incidente.

Novos detalhes da fuga devem ser revelados na terça-feira, quando Pinto deve conceder entrevista coletiva na Comissão de Relações Exteriores do Senado, em Brasília.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaBolíviaDiplomaciaViolência política

Mais de Brasil

Quais são os impactos políticos e jurídicos que o PL pode sofrer após indiciamento de Valdermar

As 10 melhores rodovias do Brasil em 2024, segundo a CNT

Para especialistas, reforma tributária pode onerar empresas optantes pelo Simples Nacional

Advogado de Cid diz que Bolsonaro sabia de plano de matar Lula e Moraes, mas recua