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Dilma troca chanceler mas política externa fica em 2º plano

Segundo analistas, demissão de Antonio Patriota após crise com Bolívia não vai alterar os rumos da política externa brasilira


	Dilma Rousseff: presidente deve continuar mais focada na crise econômica e nas eleições de 2014
 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

Dilma Rousseff: presidente deve continuar mais focada na crise econômica e nas eleições de 2014 (REUTERS/Ueslei Marcelino)

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Da Redação

Publicado em 27 de agosto de 2013 às 19h41.

São Paulo - A demissão do chanceler Antonio Patriota não vai alterar os rumos da política externa brasileira que, segundo analistas, continuará relegada a um segundo plano pela presidente Dilma Rousseff, mais focada na crise econômica e nas eleições de 2014.

Patriota, símbolo do proverbial "soft power" da diplomacia brasileira, deixou o cargo na segunda-feira depois que um diplomata brasileiro em La Paz admitiu ter colaborado na fuga de um senador boliviano acusado de corrupção, o que motivou uma crise com a Bolívia.

Mas o novo chanceler, Luiz Alberto Figueiredo, embaixador do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), terá pouco tempo para fazer mudanças significativas na política externa antes que o governo concentre todas as suas energias nas eleições de outubro de 2014, quando Dilma deve tentar a reeleição.

"Muda o ministro, mas continua a mesma linha política", disse Rubens Barbosa, ex-embaixador brasileiro nos EUA e assessor de assuntos internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). "A política externa seguirá em segundo plano, porque a prioridade da Dilma é a crise econômica e a reeleição", acrescentou.

Desde que assumiu a Presidência, em janeiro de 2011, Dilma passa a impressão de ser menos preocupada com a política externa do que seu antecessor e mentor político, Luiz Inácio Lula da Silva.

E o interesse diminuiu à medida que aumentaram seus problemas domésticos, com a forte desaceleração da economia e os grandes protestos de junho contra a corrupção e a má qualidade dos serviços públicos, que derrubaram a popularidade da presidente.

Diplomatas brasileiros falam de uma crescente insatisfação nos corredores do Itamaraty pelo o que definem como falta de firmeza de Patriota nos últimos meses.

A política externa brasileira, dizem eles, não corresponde à imagem de potência emergente da maior economia latino-americana. Eles se queixam também que a diplomacia teria sido subordinada à estratégia sul-sul do PT.

Um pouco mais duro

Figueiredo é descrito por seus colegas como um negociador hábil que defendeu com unhas e dentes as posições do Brasil nos fóruns de mudança climática, como a conferência de Copenhague em 2009, além de ter sido um dos organizadores da cúpula ambiental Rio+20, em 2012.


"Um papel será não gerar notícias negativas, tentar colocar ordem na casa e promover uma agenda verde", disse o analista político da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marcelo Coutinho. "É um político hábil e articulado", acrescentou. "A Rio+20 não teve resultados, mas tampouco deu problemas. E é isso exatamente que Dilma quer." Mas a troca de cadeiras, já que Patriota irá do Itamaraty para a vaga de Figueiredo na ONU, não deve trazer surpresas.

"A política externa não muda", disse à Reuters uma fonte do Palácio do Planalto. "O que muda é o perfil do ministro. Diferentemente de Patriota, que era muito suave, Figueiredo briga mais pelas coisas que a presidenta manda", acrescentou.

A fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina, com a ajuda do encarregado de negócios da embaixada brasileira em La Paz, foi apenas a gota d'água no desgaste da relação de Dilma com Patriota, segundo a fonte da Presidência.

Dilma já estava descontente com as ressalvas de Patriota à suspensão do Paraguai no Mercosul, depois do impeachment do presidente paraguaio Fernando Lugo em 2012, e com a morna resposta dele à detenção pela Grã-Bretanha do brasileiro David Miranda, que traria para o Rio de Janeiro informações fornecidas pelo ex-técnico de inteligência norte-americano Edward Snowden.

Mas, afinal de contas, a diferença entre Patriota e Figueiredo pode ser apenas isso, uma questão de estilo.

Ao encerrar uma entrevista de mais de uma hora em 2012, Patriota, um homem amável e de maneiras suaves que mede cada sílaba, perguntou a jornalistas: "Não disse nada de novo, não é?".

E Figueiredo ainda é lembrado em São Paulo por começar certa vez uma entrevista coletiva sobre a mudança climática advertindo que todo o conteúdo seria "em off", ou seja, ele não poderia ser citado como fonte das informações.

Figueiredo estreará no comando da diplomacia brasileira durante uma reunião do grupo regional União de Nações Sul-Americanas (Unasul) no próximo fim de semana em Paramaribo, no Suriname.

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