Brasil

Dilma quer China comprando mais do que soja e minério de ferro

País asiático é, ao mesmo tempo, o maior parceiro comercial e o maior concorrente do Brasil

Dilma na China: matérias-primas responderam por 83,7% das vendas aos chineses em 2010 (Roberto Stuckert Filho/PR)

Dilma na China: matérias-primas responderam por 83,7% das vendas aos chineses em 2010 (Roberto Stuckert Filho/PR)

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Da Redação

Publicado em 11 de abril de 2011 às 11h36.

Brasília - Ao iniciar hoje sua primeira viagem à China como chefe de estado, a presidente Dilma Rousseff tem planos de pressionar os chineses a comprar do Brasil mais do que o minério de ferro da Vale SA.

Dilma deve se reunir com o presidente Hu Jintao amanhã e participar de uma cúpula dos chamados BRIC em 14 de abril. Ela tem sido mais crítica do que seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, ao falar de questões comerciais e cambiais entre Brasil e China. O país asiático é hoje o maior parceiro comercial e também o principal concorrente do Brasil.

A demanda por matérias-primas pela segunda maior economia do mundo tem contribuído para a mais forte expansão econômica do Brasil em mais de duas décadas. Ao mesmo tempo, uma enxurrada de importações de produtos chineses prejudica as indústrias brasileiras. O real acumula uma apreciação de 41 por cento sobre o yuan desde o final de 2008, mais do que qualquer outra moeda, com exceção do dólar australiano.

“Tanto o Brasil precisa da China como a China precisa do Brasil,” disse Sérgio Amaral, ex-ministro do Comércio Exterior e presidente do Conselho Empresarial Brasil-China. “Mas é preciso corrigir distorções no que diz respeito à diferença e qualidade do intercâmbio, no qual o Brasil exporta commodities e a China exporta manufatura. A visita da Dilma é uma grande oportunidade.”

Balança comercial

As matérias-primas, lideradas por minério de ferro e soja, responderam por 83,7 por cento das vendas brasileiras para a China em 2010, acima dos 68,2 por cento em 2000, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A China superou os Estados Unidos como principal parceiro comercial do Brasil em 2009. As exportações chinesas para o País aumentaram de US$ 1,2 bilhão no ano 2000 para US$ 25,6 bilhões em 2010, enquanto as vendas do Brasil para a China saltaram de US$ 1,1 bilhão para US$ 30,8 bilhões no mesmo período, segundo o Ministério.


O superávit comercial de US$ 5,2 bilhões do Brasil com a China no ano passado deve-se ao aumento do volume e dos preços das commodities. As vendas de minério de ferro do Brasil à China aumentaram para 153 milhões de toneladas no ano passado, avaliadas em US$ 13,2 bilhões. Em 2005, foram 59 milhões de toneladas, ou US$ 1,8 bilhão. Os preços do minério quase triplicaram nos últimos dois anos, para US$ 181 por tonelada, de acordo com o Business Briefing Commodities Research. Enquanto isso, 98 por cento das vendas chinesas para o Brasil são de produtos manufaturados, segundo o Ministério do Desenvolvimento.

Valor agregado

Dilma, de 63 anos, quer diversificar as exportações para a China para incluir mais aviões, alimentos processados e outros produtos de maior valor agregado, disse o porta-voz Rodrigo Baena, a jornalistas em Brasília em 5 de abril. Ela será acompanhada na China por 309 líderes empresariais incluindo Eike Batista.

Na terceira cúpula dos países chamados de BRIC -- termo criado em 2001 por Jim O’Neill, presidente do conselho do Goldman Sachs Asset Management, para se referir a Brasil, Rússia, Índia e China -- os líderes devem discutir questões “econômicas, financeiras e comerciais”, segundo o Ministério do Desenvolvimento. A África do Sul deve participar do encontro como novo integrante do grupo.

Licença à Embraer

Entre os principais assuntos da agenda de Dilma em Pequim estão as negociações para acabar com as restrições aos planos da Embraer SA de expandir suas vendas na China para além dos jatos ERJ-145, disse Mauricio Mesquita Moreira, economista-chefe de comércio do Banco Interamericano de Desenvolvimento, em entrevista por telefone de Washington.

O governo chinês não concedeu à Embraer, quarta maior fabricante mundial de aviões, a licença para produzir seus mais novos e mais competitivos aviões na fábrica local de Harbin, disse Moreira. A Embraer, sediada em São José dos Campos, mantém uma parceria com a Aviation Industry Corporation da China desde 2003.


“Estamos trabalhando para ter uma decisão dos chineses, uma resposta durante a visita da presidente Dilma seria ideal”, disse Maria Edileuza Fontenele Reis, subsecretária de assuntos políticos para Ásia e Oceania no Ministério das Relações Exteriores.

O embaixador do Brasil na China, Clodoaldo Hugueney, disse hoje em Pequim que a Embraer vai assinar acordo para produzir seus jatos executivos Legacy e vender os modelos comerciais ERJ 190, sem dar detalhes. O acordo deve ser assinado durante a visita de Dilma, disse o diplomata.

Medidas antidumping

As perspectivas para Dilma conseguir abrir as portas comerciais da China podem ser prejudicadas por uma posição herdada de seu antecessor: Lula não atendeu a um pedido de 2004 para reconhecer a nação mais populosa do mundo como economia de mercado sob as regras da Organização Mundial de Comércio. Tal reconhecimento limitará a habilidade do Brasil em impor tarifas antidumping, disse o ex-ministro de Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia.

“Os chineses estão ressentidos”, disse Lampreia em entrevista por telefone do Rio de Janeiro.

Reclamações de sindicatos e setores industriais, incluindo fabricantes de brinquedos e têxteis, levaram o governo brasileiro a impor 29 medidas antidumping contra produtos chineses. É mais do que os pedidos contra qualquer outro país e quase quatro vezes mais do que as dirigidas contra os Estados Unidos, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento. As medidas tentam limitar as importações de produtos que o governo considera que estão sendo comercializados abaixo do custo. Na semana passada, o Brasil aprovou barreiras a produtores chineses de viscose.

Dilma, diferente de Lula, aumentou publicamente a discussão sobre o valor do yuan. Pouco depois de sua posse, em 1 de janeiro, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, disse que o Brasil faria da política cambial chinesa uma “prioridade” nas conversas bilaterais.

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