Dilma pediu "paciência" sobre pagamento, diz Mônica
Antes dos problemas com atrasos no pagamento de caixa 2, a delatora afirmou que Dilma deixou claro que ela mesma ia cuidar de sua campanha em 2014
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de maio de 2017 às 13h16.
Última atualização em 14 de maio de 2017 às 13h22.
Brasília -- A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) pediu que Mônica Moura tivesse "paciência" com os atrasos nos pagamentos da Odebrecht , disse a delatora em depoimento ao Ministério Público Federal (MPF). Segundo Mônica, a empreiteira não pagou R$ 25 milhões via caixa 2 que haviam sido acertados devido aos serviços de marketing político prestados à campanha de Dilma à reeleição em 2014.
"Quando chegou o final de 2014, a campanha acabou, nós ganhamos (a eleição), a Lava Jato estava adiantada. E aí esses R$ 25 milhões nunca foram pagos, nunca foram depositados na conta da Shell Bill (conta mantida pelo casal na Suíça), a Odebrecht já 'tava' com medo, tinha confusão em torno disso", disse Mônica Moura ao MPF.
A empresária definiu a experiência como a primeira vez em que recebeu "cano da Odebrecht" por conta da "situação que estava acontecendo". De acordo com a delatora, o assunto foi discutido com Dilma Rousseff em vários encontros no Palácio da Alvorada ao longo de 2015. "Você precisa ter paciência, espera que eles vão resolver", disse Dilma à empresária, conforme depoimento.
"Foi um ano intenso para não ganhar um tostão. Essa campanha não nos deu um real de lucro, porque todo o lucro que a gente ia receber depois ficou travado", comentou Mônica Moura, ao falar do impacto da Lava Jato.
O valor oficial combinado para o marketing político do marqueteiro João Santana, marido de Mônica, foi de R$ 70 milhões. Outros R$ 35 milhões seriam pagos pela Odebrecht via caixa 2 - dessa parte, apenas R$ 10 milhões foram efetivamente pagos, de acordo com a empresária.
Antes dos problemas com atrasos no pagamento de caixa 2 da Odebrecht, a delatora afirmou em depoimento que Dilma deixou claro que ela mesma ia cuidar de sua campanha em 2014.
"A Dilma me disse isso: "O PT não vai se envolver em nada, eu não quero o PT em nada, não quero o Vaccari (João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT) em nada, porque não confio nele". Ela me falou assim mesmo: "Não quero mais que o PT se meta'", relatou Mônica.
De acordo com a empresária, Dilma não queria mais ninguém do PT cuidando da campanha dela porque a petista já se considerava fortalecida por ser presidente e buscar a reeleição.
Com a palavra, Dilma
Em nota enviada à imprensa, a assessoria de Dilma Rousseff disse que a petista "nunca negociou doações eleitorais ou ordenou quaisquer pagamentos ilegais a prestadores de serviços em suas campanhas, ou fora delas".
"São mentirosas e descabidas as narrativas dos delatores sobre supostos diálogos acerca dos pagamentos de serviços de marketing. Dilma Rousseff jamais conversou com João Santana ou Monica Moura a respeito de caixa dois ou pagamentos no exterior. Tampouco tratou com quaisquer doadores ou prestadores de serviços de suas campanhas sobre tal assunto", informou a assessoria da ex-presidente.
Com a palavra, a Odebrecht
A Odebrecht, por sua vez, informou que "está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua". Em nota enviada à imprensa, a empreiteira disse que "já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um acordo de leniência com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Suíça e República Dominicana, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas".