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Dilma e Lula lançam dura ofensiva para barrar impeachment

"Querem condenar uma inocente e salvar os corruptos", disse Dilma


	Dilma e Lula na reeleição de 2014: os dois tentam barrar impeachment
 (Ricardo Stuckert/ Instituto Lula/ Fotos Públicas)

Dilma e Lula na reeleição de 2014: os dois tentam barrar impeachment (Ricardo Stuckert/ Instituto Lula/ Fotos Públicas)

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Da Redação

Publicado em 16 de abril de 2016 às 21h40.

A presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, lançaram uma dura ofensiva neste sábado e costuravam negociações para tentar barrar o julgamento do impeachment da chefe de Estado que a Câmara dos Deputados se prepara para votar este domingo.

"Querem condenar uma inocente e salvar os corruptos", denunciou Dilma, enquanto Lula, líder histórico da esquerda brasileira afirmava em um ato diante de mais de mil simpatizantes em Brasília que "a elite brasileira não gosta da democracia".

A Câmara celebrava neste sábado seu segundo dia de debates enquanto defensores e adversários do impeachment preparavam manifestações maciças que no domingo serão realizadas em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e em outras cidades do país para acompanhar uma votação que decidirá o destino da democracia brasileira.

Dilma, de 68 anos, pediu em um vídeo divulgado nas redes sociais que se continue com as mobilizações para combater o que chama de "um golpe de Estado".

Lula pediu para "defender a democracia" e "evitar que a presidente Dilma seja derrubada", em um ato do qual participaram mais de mil seguidores vestidos de vermelho e agitando cartazes que diziam "Não vai ter golpe", em um local próximo ao estádio Mané Garrincha, em Brasília.

A presidente, que está com a popularidade no chão, perto dos 10%, é acusado de ter manipulado as contas públicas para ocultar a magnitude dos déficits públicos em 2014, ano de sua eleição, e no começo de 2015.

O governo nega as acusações e as atribui a uma conspiração liderada pelo vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, ambos do PMDB.

"A palavra golpe estará estampada na testa de quem votar pelo impeachment", advertiu Dilma no vídeo.

No sábado, ela deu um passo adiante em sua ofensiva e enumerou as acusações e suspeitas de corrupção que pesam sobre Cunha e outros deputados.

"Querem condenar uma inocente e salvam os corruptos", destacou Dilma em um artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo. "Será que eles que lideram o golpe permitirão que o combate à corrupção continue?", perguntou.

Negociações voto a voto

A presidente Dilma deveria assistir ao ato convocado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e outros movimentos sociais ao qual Lula compareceu, em Brasília, mas preferiu permanecer na residência oficial para negociar o apoio à votação de domingo no Congresso, disseram seus assessores à AFP.

A tendência refletida na imprensa brasileira nos últimos dias mostrava que o pêndulo se inclinava a favor do impeachment, mas na noite de sexta a vantagem tinha se estreitado e diluído, segundo o jornal Folha de S. Paulo e fontes parlamentares do PT.

Lula deixou rapidamente o ato popular para se somar às discussões.

"Ainda tenho três governadores para conversar. Precisamos conquistar metade dos 513 votos ou não deixá-los conquistar 342", disse Lula.

"É uma guerra de sobe e desce, parece a bolsa de valores, tem hora que o cara está com a gente, tem hora que não está mais", descreveu a respeito das conversas de última hora antes da votação.

O ex-presidente foi nomeado chefe de gabinete de Dilma, mas o juiz Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, bloqueou sua nomeação por suspeitar que se tratou de uma manobra para livrá-lo da justiça comum por suspeitas de ter se beneficiado do esquema de corrupção na Petrobras.

A abertura de um processo de impeachment requer o apoio de dois terços da Câmara dos Deputados (342 deputados de um total 513) e sua ratificação em maioria simples pelo Senado (metade mais um do total de 81 assentos).

Se esse for o caso, o vice-presidente Michel Temer assumirá o poder e completará o mandato até o fim de 2018, se em um período máximo de seis meses os senadores declararem Dilma formalmente culpada das acusações atribuídas a ela.

Cidade sitiada

Brasília é sacudida pela iminência dessa votação histórica.

Uma cerca metálica de quase um quilômetro divide em dois a Esplanada dos Ministérios. O Congresso está sitiado por uma operação de segurança de grande escala e o trânsito foi fechado em um raio de centenas de metros.

Helicópteros sobrevoam permanentemente a área e apenas veículos da polícia podem circular.

Militantes do PT que acampam nos arredores do estádio Mané Garrincha esperam a chegada de cem mil simpatizantes no domingo e programam manifestações já para a tarde deste sábado.

"Viemos nos juntar à defesa da democracia e do governo que foi eleito legitimamente em 2014", declarou à AFP Tiago Almeida, de 35 anos, um metalúrgico do interior de São Paulo.

Do outro lado, um grupo pró-impeachment realizava no sábado um protesto em frente ao hotel onde Lula se hospeda, próximo ao Palácio da Alvorada, onde Dilma Rousseff discute com deputados a estratégia para barrar o julgamento do impeachment.

"Estamos esperando muita gente, haverá carros de som e telões para acompanhar a votação, que acreditamos que já está decidida ao nosso favor", disse à AFP Renan Santos, um dos líderes do Movimento Brasil Livre, uma das organizações favoráveis ao impeachment.

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