Presidente Jair Bolsonaro (Alan Santos/PR/Flickr)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 23 de dezembro de 2021 às 17h08.
Última atualização em 23 de dezembro de 2021 às 17h11.
A parcela dos brasileiros que avalia o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) como ruim e péssimo cresceu de 34% para 51% ao longo deste ano. A retrospectiva da pesquisa EXAME/IDEIA do ano de 2021 mostra que o governo perdeu o apoio de boa parte da população, sobretudo em lugares considerados essenciais, como o Sudeste e o Nordeste.
A pesquisa EXAME/IDEIA é um projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública, e periodicamente questiona os brasileiros sobre questões importantes para a sociedade, como eleições, economia, além da avaliação presidencial.
Maurício Moura, fundador do IDEIA, diz que esse aumento na desaprovação - de quase 20% - é a combinação de dois fatores. "Bolsonaro não conseguiu capitalizar com a vacinação em 2021. Houve a sensação da população de que o governo atrasou a imunização. O segundo ponto, talvez o mais importante, é a questão econômica. Nós tivemos um ano de inflação, desemprego e perda de renda, passando por todas as classes sociais e regiões", afirma.
Ao analisar os números por camadas, é possível perceber que Bolsonaro perdeu apoio em regiões muito populosas: Nordeste e Sudeste. Juntas, elas concentram quase 150 milhões de habitantes, o equivalente a 70% da população brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É justamente nesses dois locais onde a desaprovação do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) é maior, se comparado com outras regiões.
Ao longo de 2021, o presidente tentou reverter este quadro, com vistas frequentes às duas regiões. Em apuração feita por EXAME, com base na agenda oficial da Presidência da República, disponível no portal oficial do governo, entre 25 de agosto a 25 de novembro, Bolsonaro esteve no Nordeste, pelo menos, em sete viagens oficiais. Os compromissos foram assinatura de contratos do governo federal, a lançamento de obras, em especial as que levam água ao semiárido nordestino.
A mesma quantidade de viagens - sete - do presidente teve como destino o Sudeste, no mesmo período.Em comparação, a visita a estados do Norte, Sul e Centro-Oeste ocorreram com menor frequência, não passando de três, cada.
“As idas constantes de Bolsonaro a regiões onde a avaliação dele é pior, como é o caso do Nordeste e do Sudeste, são uma tentativa de mudar a percepção dos eleitores. Precisamos verificar se daqui para frente isso realmente vai ter algum impacto nas próximas pesquisas”, avalia Maurício Moura.
O fundador do IDEIA também lembra que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado, que investigou possíveis irregularidades durante a gestão da pandemia de covid-19, também impactou negativamente o sentimento da população em relação ao governo.
O pior momento da avaliação - chegou a 57% dos entrevistados considerando a gestão do presidente como ruim ou péssima - coincidiu com a citação do nome de Bolsonaro durante os trabalhos dos senadores. Na ocasião, a CPI investigava o acordo de compra da vacina indiana Covaxin - que não chegou a ser concretizado.
Em depoimento no dia 25 de junho, o deputado Luis Miranda (DEM-DF), irmão de Luis Ricardo, colocou no olho do furacão o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR). De acordo com o parlamentar, ao levar a informação de uma possível corrupção no processo de compra da vacina, o presidente Jair Bolsonaro teria dito que era “coisa” do Barros.
E a avaliação ruim reflete diretamente em 2022, ano das eleições presidenciais. "Bolsonaro entra em 2022 com a popularidade bem abaixo dos pares que tentaram reeleição (Fernando Henrique Cardoso-1998, Luiz Inácio Lula da Silva-2006 e Dilma Rousseff-2014). Tanto a sua aprovação é menor como sua rejeição é maior", explica Maurício Moura.
Na última pesquisa EXAME/IDEIA de 2021, em um eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro, o petista aparece com 47% das intenções de voto, e o candidato à reeleição está com 36%.