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Depoimentos de amigos de João Pedro contradizem policiais investigados

Jovens afirmam que os agentes já tinham visto os adolescentes deitados, tentando se proteger, quando atiraram

Casa do João Pedro: balas atravessaram a janela durante a operação policial que matou João Pedro, de 14 anos, no Rio de Janeiro (Ricardo Moraes/Reuters)

Casa do João Pedro: balas atravessaram a janela durante a operação policial que matou João Pedro, de 14 anos, no Rio de Janeiro (Ricardo Moraes/Reuters)

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Clara Cerioni

Publicado em 13 de junho de 2020 às 13h21.

Última atualização em 14 de junho de 2020 às 15h30.

Depoimentos de amigos do adolescente João Pedro Matos Pinto, de 14 anos — morto durante operação conjunta das polícias Civil e Federal no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, Rio de Janeiro — contradizem as versões dos três policiais civis investigados pelo crime.

Enquanto os agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) alegaram que não sabiam que havia crianças na casa quando fizeram disparos no local, os amigos do menino que testemunharam o crime afirmam que os agentes já tinham visto os adolescentes deitados, tentando se proteger, quando atiraram.

Uma amiga de João Pedro afirmou, em depoimento ao Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (Gaesp) do Ministério Público do Rio, que o grupo de adolescentes estava na sala da casa quando os policiais invadiram o local pela portão da frente. Os amigos haviam acabado de entrar na área coberta do imóvel, porque ouviram tiros e se sentiram expostos no quintal.

De acordo com a testemunha, a partir do momento em que os policiais passaram pelo portão, já era possível ver o grupo de adolescentes deitados na sala — a porta e a janela do cômodo, que dão para a parte da frente do terreno, são de vidro. Tanto os jovens podiam ver os policiais quanto os agentes também os viam, segundo o depoimento.

A jovem também alega que vários amigos de João Pedro tentaram se comunicar com os policiais. Alguns gritavam que havia crianças no local, outros pediam socorro. De acordo com o depoimento, os policiais também conseguiam ouvir o que os jovem falavam.

O tiro que atingiu João Pedro foi disparado em seguida, quando o grupo corria para se esconder nos quartos da casa. Depoimentos prestados pelos outros jovens que estavam no local descrevem a mesma cena. Nenhum dos relatos cita a presença de traficantes armados em fuga no imóvel.

Policiais afirmam que havia traficantes armados na casa

Os relatos dos policiais são completamente diferentes. Nenhum dos três afirma ter visto ou ouvido os adolescentes. Todos dizem ter visto traficantes armados no quintal da casa, fugindo em direção aos fundos do imóvel.

Os agentes afirmam ter sido atacados e responderam os disparos. Eles dizem só ter visto o grupo de amigos — e percebido que havia um adolescente baleado — após o final do confronto, quando dois dos agentes entraram na casa pelos fundos para fazer buscas.

Granadas

Os amigos de João Pedro acusaram, em seus depoimentos, os policiais civis de terem lançado granadas no quintal da casa. Uma das testemunhas diz ter visto o momento em que os agentes jogaram granadas num corredor ao lado da casa e na frente do imóvel.

O agente Mauro José Gonçalves, em seu primeiro depoimento, no dia do crime, alegou que viu um dos traficantes arremessar uma granada no quintal. Num segundo relato, ele apenas relatou ter ouvido uma explosão no momento em que entrou na casa. Os outros dois policiais não dizem ter visto traficantes lançando granadas.

Um deles, no entanto, afirma ter encontrado duas granadas perto do muro por onde os supostos traficantes teriam fugido. Segundo os policiais, um terceiro explosivo foi encontrado no mato aos fundos do imóvel. Todos alegam que as granadas pertenciam aos traficantes.

Após a apreensão, um dos agentes investigados foi nomeado pelo próprio delegado que investiga o crime como responsável por levar os explosivos para a perícia. Quem periciou as granadas — que não haviam sido detonadas, estavam intactas — foi o Esquadrão Antibombas da Core, unidade onde os agentes são lotados.

A Defensoria Pública do estado, que representa a família do adolescente, defende que, como policiais civis são investigados, o inquérito deveria ser conduzido por um órgão independente. Por isso, amigos e parentes de João Pedro foram apresentados para prestarem depoimentos ao MP.

A Polícia Civil chegou a intimar parentes do menino. A família, entretanto, não compareceu na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí. Os depoimentos a promotores do Gaesp foram prestados dos dias 1º a 3 de junho. Além do inspetor Mauro Gonçalves, os outros policiais investigados são Maxwell Gomes Pereira e Fernando de Brito Meister.

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