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Delegado diz que houve interferência na investigação contra 'gabinete paralelo' no MEC

Delegado Bruno Calandrini foi o responsável pela operação Acesso Pago, que levou à prisão o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e pastores ligados a esquema investigado no MEC

Milton Ribeiro: ex-ministro da Educação foi preso preventivamente na quarta-feira e liberado no dia seguinte (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Milton Ribeiro: ex-ministro da Educação foi preso preventivamente na quarta-feira e liberado no dia seguinte (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de junho de 2022 às 06h00.

O delegado Bruno Calandrini, responsável pela investigação que levou à prisão o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e pastores ligados ao 'gabinete paralelo' instalado na pasta denunciou suposto 'tratamento privilegiado concedido' pela Polícia Federal ao aliado do presidente Jair Bolsonaro.

Em mensagem de agradecimento enviada à equipe que participou da Operação Acesso Pago nesta quarta-feira, 22, Calandrini disse não ter 'autonomia investigativa e administrativa para conduzir o inquérito policial do caso com independência e segurança institucional'.

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As informações sobre a mensagem do delegado Bruno Calandrini foram divulgadas pelo jornal Folha de S. Paulo. A reportagem do Estadão também teve acesso à íntegra da carta do delegado apontando ingerências na investigação que pegou o ex-ministro.

Após a mensagem vir a público, a Polícia Federal disse ter aberto um procedimento apuratório sobre suposta 'interferência na execução' da Acesso Pago. Em nota, a corporação citou 'boatos' sobre a 'possível interferência' e diz ter o objetivo de 'garantir a autonomia e a independência funcional do delegado da PF'.

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Em seu texto, o delegado que conduz a investigação que atinge não só Ribeiro, mas pastores com livre trânsito no governo Jair Bolsonaro, afirmou que a ida do ex-ministro da Educação para a carceragem da corporação em São Paulo 'é demonstração de interferência na condução da investigação'.

A ordem de prisão preventiva de Ribeiro determinava que o ex-ministro fosse levado para a Superintendência da PF em Brasília tão logo o investigado fosse preso. A defesa do aliado de Bolsonaro entrou com pedido para barrar a transferência, mas a solicitação foi negada pelo juiz Renato Borelli, da 15ª Vara Federal Criminal do Distrito Federal, relator da investigação.

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No entanto, no início da noite foi informado que Ribeiro permaneceria na capital paulista e que sua audiência de custódia seria realizada por videoconferência na tarde desta quinta-feira 23. No entanto, antes que o procedimento fosse realizado, o desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região mandou soltar Ribeiro e outros quatro investigados que haviam sido presos no âmbito da ofensiva aberta ontem.

Calandrini disse ter repassado a alegação de 'interferência na condução da investigação' ao chefe do Coordenação de inquéritos nos tribunais superiores, após saber que, 'por decisão superior' não iria haver o deslocamento de Milton Ribeiro para Brasília. "Manterei a postura de que a investigação foi obstaculizada ao se escolher pela não transferência de Milton à Brasília à revelia da decisão judicial", registrou.

O delegado diz que Ribeiro, principal alvo da operação 'foi tratado com honrarias não existentes na lei, apesar do empenho operacional da equipe de Santos que realizou a captura de Milton Ribeiro, e estava orientada a escoltar o preso até o aeroporto em São Paulo para viagem à Brasília'. "Quantos presos de Santos, até ontem, foram levados para a carceragem da SR/PF/SP?", questionou.


Leia a íntegra da mensagem do delegado à equipe:

"Muito obrigado a todos pelo empenho na execução da Operação Acesso Pago.

A investigação envolvendo corrupção no MEC foi prejudicada no dia de ontem em razão do tratamento diferenciado concedido pela PF ao investigado Milton Ribeiro.

Vejo a operação policial como investigação na essencia e o momento de ouro na produção da informação/prova.

O deslocamento de Milton para a carceragem da PF em SP * é demonstração de interferência na condução da investigação, por isso, afirmo não ter autonomia investigativa e administrativa para conduzir o Inquérito Policial deste caso com independência e segurança institucional.

Falei isso ao Chefe do CINQ ontem, após saber que, por decidão superior, não iria haver o deslocamento de Milton Ribeiro para Brasília, e, manterei a postura de que a investigação foi obstaculizada ao se escolher pela não transferência de Milton à Brasília à revelia da decisão judicial.

As equipes de Gyn, Brasília, Belém e Santos, que cumpriram a missão de ontem, trabalharam com obstinação nas ruas e no suporte operacional, um trabalho hercúleo para o cumprimento dos mandados durante a Operação Acesso Pago, literalmente se esforçaram 24/7 e foram aguerridos em capturar todos os alvos. Faço referência especial às equipes de GYN que, mesmo após a prisão, ainda escoltaram os presos via terrestre, para a SR/PF/DF, incontinenti.

No entanto, o principal alvo, em São Paulo, foi tratado com honrarias não existentes na lei, apesar do empenho operacional da equipe de Santos que realizou a captura de Milton Ribeiro, e estava orientada, por este subscritor, a escoltar o preso até o aeroporto em São Paulo para viagem à Brasília,

Quantos presos de Santos, até ontem, foram levados para a carceragem da SR/PF/SP?

É o que tinha a manifestar em lealdade a vocês que cumpriram a missão de ontem com o espírito do verdadeiro policial federal.

Abraço."

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