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Delcídio diz ser "surreal" falar que Lula não sabia de corrupção

Em depoimento, Delcídio disse que, ao contrário de outras estatais, o que acontece na Petrobras é sempre acompanhado pelos presidentes da República

Delcídio: "Diz 'ah, eu não sei'. A classe política e a torcida do Flamengo inteira sabiam disso daí. Toda a classe política sabia" (Evaristo Sá / AFP)

Delcídio: "Diz 'ah, eu não sei'. A classe política e a torcida do Flamengo inteira sabiam disso daí. Toda a classe política sabia" (Evaristo Sá / AFP)

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Reuters

Publicado em 21 de novembro de 2016 às 21h07.

O ex-senador Delcídio do Amaral disse nesta segunda-feira em depoimento à Justiça ser "surreal" a afirmação de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não sabia do esquema de corrupção na Petrobras e afirmou que Lula era próximo de empresários que tinham negócios com a estatal.

Em depoimento no processo em que Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por supostamente ter recebido um triplex da OAS e de ter tido despesas de armanazenamento pagas pela empreiteira, Delcídio disse que, ao contrário de outras estatais, o que acontece na Petrobras é sempre acompanhado pelos presidentes da República e isso ocorria com Lula.

"O presidente não entrava nos detalhes, mas ele tinha conhecimento absoluto de todos os interesses que rodeavam a gestão da Petrobras, as diretorias e dos partidos que apoiavam os diretores", disse Delcídio no depoimento, cuja gravação foi disponibilizada nos autos do processo.

"Diz 'ah, eu não sei'. A classe política e a torcida do Flamengo inteira sabiam disso daí. Toda a classe política sabia. Então é uma coisa até surreal esse tipo de afirmação."

A audiência foi marcada por uma série de contestações dos advogados de Lula, que questionaram as perguntas do Ministério Público e o fato de os procuradores perguntarem, e Delcídio responder, sobre um sítio em Atibaia, que poderia pertencer ao ex-presidente, mas não é citado neste processo específico.

O juiz Sérgio Moro, que cuida dos processos da Lava Jato em primeira instância, indeferiu a maioria dos questionamentos da defesa e chegou a afirmar que os advogados de Lula estavam buscando tumultuar o processo.

Sobre o sítio em Atibaia, Delcídio afirmou nunca ter visitado o local, mas que pessoas que o frequentavam afirmavam que o imóvel pertence a Lula e que soube pelo pecuarista José Carlos Bumlai que a OAS realizou obras no local.

"Onde é que eu tive informações sobre essas obras no sítio? Através do José Carlos Bumlai", disse o ex-senador, que firmou acordo de delação premiada com os procuradores da Lava Jato e teve o mandato cassado depois de ser preso sob acusação de obstruir a Lava Jato, o que ele admitiu no depoimento desta segunda.

"Numa das conversas que eu tive com o doutor José Carlos Bumlai ele me relatou sobre as reformas nesse sítio, que estava aliviado, porque tinha contratado arquiteto, engenheiro, assim por diante, mas aí sobreveio uma orientação de que ele saísse do processo porque a OAS faria essa obra do sítio e dentro do prazo estabelecido, dentro do prazo desejado", disse.

Segundo Delcídio, Lula tinha relação próxima com o ex-presidente da OAS José Aldemario Pinheiro Filho, conhecido como Leo Pinheiro.

"O Léo era uma pessoa que conversava sistematicamente com o presidente Lula", disse.

Sobre o apartamento triplex em Guarujá, litoral de São Paulo, Delcídio declarou não ter informações sobre este assunto.

"Essa questão desse prédio, desse edifício, eu nunca tive nenhuma informação", afirmou.

Além de Delcídio, também foram ouvidas outras três testemunhas de acusação contra o ex-presidente.

Em nota, a defesa de Lula disse que nenhuma das testemunhas ouvidas nesta segunda apresentou qualquer prova de que o ex-presidente tenha cometido irregularidades na Petrobras ou de que seja o proprietário do triplex.

Sobre Delcídio, os advogados do ex-presidente acusaram o ex-parlamentar de ter uma "obsessão" de incriminar Lula.

"Essa obsessão por incriminar o ex-presidente, mesmo sabendo de sua inocência, foi hoje mais uma vez comprovada. Delcídio foi incapaz de apontar um fato ou conversa concreta em relação a Lula", afirma a nota.

"Mais uma vez ficou claro que as acusações que o MPF fez contra Lula são frívolas, sem materialidade e fazem parte de um processo de lawfare, que é o uso de procedimento jurídico para fins de perseguição política", acrescentaram os advogados.

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