Brasil

Delator revela comitê clandestino de campanha de Beto Richa

Imóvel hoje abriga um lar para idosos, por isso não foi alvo de buscas da PF nesta quarta, 26, na deflagração da fase 55 da Lava Jato

Lava Jato descobriu um endereço em Curitiba onde teria operado um comitê clandestino de Beto Richa (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Lava Jato descobriu um endereço em Curitiba onde teria operado um comitê clandestino de Beto Richa (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de setembro de 2018 às 13h22.

São Paulo - A Operação Lava Jato (55ª fase) descobriu um endereço no bairro Água Verde, em Curitiba, onde teria operado um comitê clandestino de campanha do ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB).

O imóvel, situado à Rua Baltazar Carrasco dos Reis, 2863, hoje abriga um lar para idosos, por isso não foi alvo de buscas da Polícia Federal nesta quarta, 26, na deflagração da Operação Integração II, a fase 55 da Lava Jato.

A PF prendeu o irmão de Beto Richa, seu ex-secretário de Infraestrutura e Logística no governo, José Richa Filho, o Pepe Richa. Outros 18 mandados de prisão foram expedidos pelo juiz Paulo Sérgio Ribeiro, da 23.ª Vara Criminal de Curitiba.

O ponto central da nova etapa da Lava Jato é a delação premiada do ex-diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) no Estado, Nelson Leal Júnior. A PF e o Ministério Público Federal reuniram provas de corroboração das revelações do delator.

Ele contou que "em meados de março ou abril" de 2014, o irmão de Beto Richa o levou à casa da Água Verde. "Ele (Pepe Richa) contou que o único objetivo do imóvel seria abrigar um comitê financeiro e contábil 'clandestino', pois seria um local específico para armazenar dinheiro em espécie decorrente de contribuições eleitorais não oficiais", afirma o delator

O procurador da República Diogo Castor de Mattos disse que "segundo relato do ex-diretor geral do DER, havia o comitê oficial para arrecadações de caixa 1 e havia um comitê de arrecadações de caixa 2, que só servia para arrecadar dinheiro em espécie, dinheiro de origem ilícita".

Nelson Leal relatou aos investigadores que aceitou o convite de Pepe Richa e se dirigiu até o endereço da Água Verde provavelmente no mesmo veículo que o irmão do ex-governador, um Renault Fluence. "Ele possuía as chaves do imóvel."

Segundo o delator, ambos entraram na residência. "Que o colaborador conheceu todos os cômodos do imóvel, os quais ainda estavam vazios; Que José Richa Filho contou ao declarante que haviam recém alugado o imóvel e que iriam promover adaptações para que ele se tornasse o comitê financeiro e contábil da campanha de 2014; Que o colaborador estranhou a informação, pois já existia um comitê oficial da campanha que estava localizado em um barracão no bairro Centro Cívico, que hoje abriga o estacionamento Top-Park)."

Em outro trecho de seu relato, o ex-diretor-geral do DER afirma que Pepe Richa contou a ele que "o único objetivo do imóvel seria abrigar um comitê financeiro e contábil clandestino, pois seria um local específico para armazenar dinheiro em espécie decorrente de contribuições eleitorais não oficiais".

Segundo ele, "somente as pessoas mais próximas do núcleo da campanha de 2014 sabiam da existência e localização do comitê financeiro e contábil". "Que José Richa Filho considerava o colaborador uma dessas pessoas de confiança, por tal motivo lhe mostrou o imóvel; Que o colaborador e José Richa Filho permaneceram por aproximadamente trinta a quarenta minutos no imóvel; Que o colaborador tomou ciência, através de Paulo Bley e Adilso, pessoas que trabalhavam na contabilidade da campanha, e de Luiz Claudio da Luz, assessor de José Richa Filho que, de fato, o referido imóvel abrigou o comitê financeiro e contábil da campanha de 2014; Que ao contrário do comitê oficial localizado no bairro Centro Cívico, o imóvel do comitê financeiro e contábil não ostentava nenhuma placa ou sinal identificador durante a campanha de 2014."

As revelações de Nelson Leal Júnior indicam à Lava Jato 55 os nomes de diversas pessoas físicas e jurídicas "envolvidas com as irregularidades que favoreciam as concessionárias de pedágio".

Ele afirmou que Pepe Richa era o "responsável por determinar favorecimentos às concessionárias de pedágio, destinatário principal de parte dos valores ilicitamente arrecadados".

Outro lado

A reportagem está tentando localizar todos os citados e deixou espaço aberto para manifestação.

A defesa do ex-secretário de Estado de Infraestrutura e Logística, José Richa Filho, informou que o investigado "nunca foi chamado pela Polícia Federal para esclarecer quaisquer fatos" atinentes à operação realizada nesta quarta. "O processo tramita sob sigilo na 23a. Vara Federal e, apesar de requerido pela defesa, até o momento, não se obteve acesso aos autos. O ex-secretário seguirá colaborando com a Justiça e confia que sua inocência restará provada na conclusão do processo."

O ex-governador Beto Richa destacou que nunca foi "condescendente com desvios de qualquer natureza e é o maior interessado na investigação de quaisquer irregularidades". "Beto Richa segue confiando na Justiça e tem a certeza que o devido processo legal provará sua inocência."

Acompanhe tudo sobre:Operação Lava JatoParanáPolícia Federal

Mais de Brasil

Moraes deve encaminhar esta semana o relatório sobre tentativa de golpe à PGR

Acidente com ônibus escolar deixa 17 mortos em Alagoas

Dino determina que Prefeitura de SP cobre serviço funerário com valores de antes da privatização

Incêndio atinge trem da Linha 9-Esmeralda neste domingo; veja vídeo