Ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto teria usado a gíria para se referir a propina que recolhia das empresas a cada novo contrato com a Petrobras. (Marcelo Camargo/ Agência Brasil)
Rita Azevedo
Publicado em 3 de agosto de 2015 às 15h54.
Última atualização em 1 de fevereiro de 2017 às 15h21.
São Paulo - Não adianta procurar "pixuleco" nos dicionários. A definição do nome que batiza a 17° fase da Operação Lava Jato, deflagrada nesta segunda-feira (03), não aparece em nenhum deles.
Na literatura, um termo parecido foi usado pelo escritor paulista João Antônio (1937-1996), no conto “Paulinho perna torta”. Na história do engraxate que vira assaltante, “pixulé” é sinônimo do “dinheiro miúdo” que seu personagem recebe durante o trabalho:
“O tipo se levantava da cadeira, se arrumava todo; se empinava, me escorregava uma nota. Humilde, meio encolhido, eu recolhia a groja magra. Tudo pixulé, só caraminguás, uma nota de dois os cinco cruzeiros. Mas eu levantava os olhos e agradecia”.
Nos processos da Lava Jato, "pixuleco" está longe de designar pouco dinheiro. Segundo o empreiteiro Ricardo Pessoa, dono da UTC, a gíria era usada pelo ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto para se referir à propina que recolhia das empresas a cada novo contrato com a Petrobras.
No caso do ex-ministro José Dirceu, preso na manhã de hoje, a Polícia Federal (PF) suspeita que o "pixuleco" cobrado também não fosse pequeno.
Segundo a PF, a propina chegava ao ex-ministro em diversos formatos: pagamentos de serviços da sua empresa de consultoria, alguns favores, como a reforma de um apartamento, e uma mesada paga pelas construtoras mesmo após a condenação de Dirceu no mensalão.
Outros nomes para a mesma prática
Essa não é a primeira vez em que o pagamento de propina ganha apelidos. No mensalão era “pegar uma encomenda”. Para Carlinhos Cachoeira, uma “assistência social”.
No cinema, um dos sinônimos mais conhecidos é o “faz-me rir”, que aparece em “Tropa de Elite”. O escritor Machado de Assis (1839 - 1908) usou outros dois: “molhadura” e “gorjeta”.