d’Avila, do CLP: a armadilha do populismo
Leo Branco Os brasileiros estão cada vez mais insatisfeitos com a classe política. Se aproveitando dessa lacuna de representatividade, surgem personalidades que se desvinculam cada vez mais do discurso tradicional. Para o cientista político Luiz Felipe d’Avila, do Centro de Liderança Pública (CLP), a polarização de opiniões tem levado os políticos a se destruir publicamente, em […]
Da Redação
Publicado em 3 de maio de 2017 às 15h03.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h24.
Leo Branco
Os brasileiros estão cada vez mais insatisfeitos com a classe política. Se aproveitando dessa lacuna de representatividade, surgem personalidades que se desvinculam cada vez mais do discurso tradicional. Para o cientista político Luiz Felipe d’Avila, do Centro de Liderança Pública (CLP), a polarização de opiniões tem levado os políticos a se destruir publicamente, em vez de construir um debate positivo – e isso afasta o eleitorado. “É um desastre que faz cair na armadilha do populismo, na armadilha do personalismo político”, afirma. O especialista, que é autor do livro “Caráter e liderança: Nove estadistas que construíram a democracia brasileira”, falou a EXAME Hoje sobre a queda do estadismo no Brasil, especialmente nas periferias.
Estamos vendo uma guinada ideológica mais à direita e mais liberalizante no Brasil?
Sim, os sinais vêm claros já há uns dois ou três anos, com as manifestações de rua. Primeiro, o PT tentou estigmatizar como a sendo a elite indo para a rua, e nós vimos que não era a elite, não. Era a população se manifestando com outro olhar. Houve uma mudança de percepção do que o Estado é. Os serviços e as parcerias público-privadas vêm funcionando muito bem em São Paulo, especificamente na saúde. Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), sempre tem um médico com jaleco escrito “Einstein” ou “Sírio-Libanês”, o atendimento é feito por um bom profissional. A população começa a reparar que ali não é o Estado na verdade, mas que tem um outro parceiro por trás. Isso começou a ser percebido pela também no transporte, com o Uber e com as vans comunitárias na periferia. Aquele monopólio do Estado não só está perdendo força, como está falido, e já existem alternativas melhores. Existe bom serviço público com parceria privada. Essa nova classe média já começa a sentir que paga muito imposto, mas não tem o serviço público condizente ao que ela paga, e isso compromete lazer, viagens e outros bens que a família queira adquirir. Além disso, o empreendedorismo chegou aos grotões da cidade de São Paulo, e ao abrir seu próprio negócio, as pessoas começam a sentir que podem viver sem o assistencialismo do Estado.
O fato de esse sentimento estar se tornando mais presente nas periferias, como mostrou a pesquisa da Fundação Perseu Abramo, te surpreende?
Sim. O que me surpreende na pesquisa é a generalização. A amostra foi pequena, mas ela está esparramada geograficamente. E é positivo, vai ser bom para o debate político. Hoje, precisamos de um instrumento para sair desta polarização. A política é destrutiva quando o adversário político é tratado como inimigo a ser derrotado. Na política, o contraditório é importante. Essa pesquisa vai fazer com que as pessoas voltem a buscar o denominador comum. Vamos discutir dentro desta esfera, e não numa situação que parece que é vida ou morte para todo mundo. Isso empobrece o debate, enfraquece as instituições e acaba criando esse fenômeno de que a solução entre “fora da política”. É um desastre que faz cair na armadilha do populismo, na armadilha do personalismo político.
As pesquisas mostram um descontentamento cada vez maior do brasileiro com as reformas da previdência e trabalhista. Isso não depõe contra a tese da guinada liberal no Brasil?
Temos que fazer uma divisão. A pesquisa foi pensada em São Paulo, que é um nicho diferente do resto do Brasil. Em São Paulo, as pessoas sonham em vencer pelo trabalho, pelo empreendedorismo. Acho que a cidade atrai talentos do Brasil inteiro com essa veia. Ninguém vem para cá com o desejo de ser funcionário público. Não sei se é um fenômeno nacional. Nós não podemos esquecer que existem 90 milhões de contracheques do estado. O Brasil ainda tem uma dependência muito grande do estado. E essas são as pessoas que evidentemente são contra a reforma. É um conflito entre um Brasil produtivo e o improdutivo.
Como o senhor avalia o uso do tema reformas nas manifestações de direita?
A resistência existe ainda. As pessoas ainda não entendem que a previdência está quebrada. O público acha que a discussão da previdência é de manter privilégio. O Brasil tem uma pauta liberal, mas quando começam a mexer com interesses particulares, ela some.