Crises internacionais podem retirar recursos para Amazônia
"É um momento ruim para todos em todos os sentidos, com crises humanitárias, econômicas e políticas diz secretária do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade
Estadão Conteúdo
Publicado em 1 de novembro de 2016 às 16h21.
Brasília - A crise humanitária dos refugiados no Oriente Médio e na Europa, o aumento das preocupações com a situação climática global e a incógnita política dos Estados Unidos têm reorientado a agenda de financiamentos de grandes fundos internacional que atuam em projetos de conservação do meio ambiente na América Latina e no Caribe.
O tema está no centro das discussões da Assembleia de Fundos Ambientais da América Latina e Caribe (RedLAC), que ocorre nos dias 1º, 2 e 4 de novembro, em Brasília.
O encontro vai reunir especialistas em finanças, empresas envolvidas em produtos relacionados à biodiversidade, governo e doadores como o Fundo Mundial para o Meio Ambiente (Global Environmental Facility - GEF), a USAID (agência de cooperação dos Estados Unidos), o Banco Mundial e o banco de cooperação alemão KFW.
O propósito é discutir temas como a proteção da Amazônia e a agenda de outras questões consideradas emergenciais.
"É um momento ruim para todos em todos os sentidos, com crises humanitárias, econômicas e políticas. Tudo isso afeta o recurso disponível para investimento. Historicamente, a Europa tem sido o grande financiador da biodiversidade na América Latina", diz Rosa Lopes de Sá, secretária-Geral do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), uma associação civil sem fins lucrativos que administra o Programa Áreas Protegidas da Amazônia (Arpa).
"Nessa crise, a Alemanha está com um problema enorme de refugiados. Os Estados Unidos também vivem um momento político muito difícil. Existe uma preocupação dos fundos ambientais de haver uma diminuição dos recursos."
O evento funciona como um fórum para discussões troca de experiências sobre financiamento ambiental na América Latina, grandes doadores, fundos ambientais, representantes do governo e organizações não governamentais.
"A gente quer saber o que vai ocorrer, qual é a visão para o futuro. O cenário de hoje é preocupante. No Brasil, temos uma alternativa de ampliar os financiamentos, fazendo com que os recursos privados, resultados de multas, por exemplo, sejam aplicados e convertidos em conservação do meio ambiente. A Samarco deve ser um exemplo disso", diz Rosa.
Hoje, o Brasil é um dos principais destinatários de recursos do Global Environmental Facility (GEF), organização internacional que alocou US$ 4,5 bilhões para projetos mundiais entre 2014 e 2017.
O Brasil, segundo Rosa, recebeu US$ 100 milhões desse fundo, só ficando atrás da China. A definição do que fazer com esse recurso fica com o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
O encontro será aberto na noite desta terça-feira, 1º, pelo fotógrafo Sebastião Salgado, em palestra para representantes de 20 fundos, com participação do ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, e da embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Liliana Ayalde. O encontro é patrocinado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que responde pela gestão do Fundo Amazônia.