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Atingida pelas queimadas do Pantanal, Corumbá é a cidade que mais perdeu superfície de água em 2023

Município do Pantanal teve redução de 261 mil hectares de água, 53% abaixo da média histórica, segundo MapBiomas

This handout photo released by the Mato Grosso do Sul Government shows firefighters battling to control a wildfire at Pantanal Biome, in the region of Corumba, Mato Grosso do Sul State, Brazil on June 23, 2024. (Photo by Handout / Mato Grosso do Sul State Government / AFP) / RESTRICTED TO EDITORIAL USE - MANDATORY CREDIT "AFP PHOTO / Mato Grosso so Sul Government " - NO MARKETING NO ADVERTISING CAMPAIGNS - DISTRIBUTED AS A SERVICE TO CLIENTS (AFP Photo/AFP Photo)
Agência o Globo

Agência de notícias

Publicado em 26 de junho de 2024 às 07h44.

Última atualização em 26 de junho de 2024 às 07h47.

No último domingo, imagens das celebrações do Arraial do Banho de São João em Corumbá (MS) com um incêndio ao fundo viralizaram e chamaram a atenção para o atual problema do fogo no Pantanal.

Segundo dados do MapBiomas Água,Corumbá foi justamente o município brasileiro que mais perdeu superfície de água— formada por corpos hídricos naturais, como rios e terrenos alagados, e também por reservatórios — no Brasil em 2023.

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Os números do levantamento mostram que acidade pantaneira teve 261 mil hectares de superfície de água a menos que o valor médio da série histórica desde 1985 para o município.O valor é 53% menor que a média. No top5 das cidades com maior retração de superfície de água, há outras três do Centro-Oeste: Cáceres (MT), em segundo; Poconé (MT), em terceiro; e Aquidauana (MS), em quinto. Barcelos (AM) completa o pódio.Entre todas as cidades brasileiras, 53% teve superfície de água abaixo da média histórica, em 2023.

De acordo com o MapBiomas, o Pantanal foi o bioma que mais secou no país desde 1985. Os dados mostram que a área de superfície de água — formada por corpos hídricos naturais, como rios e terrenos alagados, e também por reservatórios — do ano passado foi 61% menor que a média histórica, no Pantanal.

Em 2018 houve a última grande cheia do bioma, conhecido pelas suas áreas alagadas. Mas mesmo naquele ano a água já estava abaixo da média histórica. E o que era preocupante se agravou: em 2023, a superfície de 382 mil hectares representou metade da área alagada de 2018 e apenas 2,6% do bioma foi coberto por água.

"A corrente de água que vem da Amazônia, os chamados rios voadores, está diminuindo por causa do desmatamento na região. Outro problema é que no planalto, no entorno do Pantanal, muitas áreas estão sendo convertidas em pastagem ou em campos de soja. E isso aumentou muito o assoreamento da Bacia do Paraguai, porque está vindo muito sedimento. Tanto que o Pantanal está ficando mais raso. E tem um terceiro problema que é a destruição do pasto natural para ser substituído pelo pasto plantado", explica Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.

Em um cenário de mudanças climáticas, o desmatamento não só impede a possibilidade de mitigação de impactos como acelera as emissões de gases de efeito estufa e intensifica os eventos extremos.Somado a esse contexto, o recente El Niño intensificou a seca.

"Mudanças climáticas vão continuar agravando essa situação, tornando esses períodos de seca cada vez mais intensos e frequentes. Não só no Pantanal, mas nos outros biomas", explica Fernando Rodovalho, especialista em manejo integrado do fogo do Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê).

De acordo com projeções do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ), se a situação continuar assim, mais de 2 milhões de hectares de área do Pantanal podem ser queimados até o final do ano. Até domingo, 23, a área queimada já havia alcançado 627 mil hectares. Em 2020, ano em que um terço do bioma foi devastado, foram 4,5 milhões de área queimada.

"Em 2024, nós não tivemos o pico de cheia. O ano registra um pico de seca, que deve se estender até setembro. O Pantanal em extrema seca já enfrenta incêndios de difícil controle", ressalta Eduardo Rosa, do MapBiomas Pantanal.

A bacia do Rio Paraguai, que é a principal bacia hidrográfica do bioma, está com níveis extremamente baixos neste ano. No período de 1º de janeiro a 24 de junho, a média do nível do rio, na altura de Ladário (MS), vizinha de Corumbá (MS), foi de apenas 92 centímetros. A efeito de comparação, a média do rio no ano passado foi de 2,56 metros e de 1,30 metro em 2020.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou na segunda-feira que as queimadas no Pantanal são "fora da curva" e "uma das piores situações já vistas" no bioma.

"Na Amazônia, a estiagem leva a esforços em relação à logística e abastecimento. E, no Pantanal, tem a ver com logística e incêndio. Porque nós estamos diante de uma das piores situações já vistas no Pantanal", disse a ministra.

A Junta de Execução Orçamentária (JEO) se reunirá nesta quarta (26) para discutir a necessidade de crédito extraordinário destinado ao enfrentamento dos incêndios. Além disso, o governo federal prometeu o envio de sete aeronaves e 50 homens da Força Nacional para o combate ao incêndio.

Já o governo estadual do Mato Gorro do Sul publicou um decreto de emergência na segunda, a fim de facilitar o envio de recursos aos municípios. A Operação Pantanal 2024 foi iniciada no dia 2 de abril e instalou 13 bases avançadas no bioma, para reduzir o tempo de resposta ao fogo em locais mais isolados. Segundo o governo, já foram investidos R$50 milhões na estrutura de enfrentamento ao fogo.

Superfície de água reduziu em todo o país

Segundo o MapBiomas Água, 18,3 milhões de hectares do Brasil, ou 2% do território nacional, foram cobertos por água em 2023. O número é 1,5% menor em relação à média histórica. Metade das bacias hidrográficas do país estiveram abaixo da média. Desde 1985, o Brasil perdeu 30% de sua superfície de água natural.

Os casos mais graves ano passado aconteceram justamente nos estados do Pantanal: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que perderam, respectivamente 33% e 30% da superfície de água.

Na Amazônia, que sofreu com uma seca extrema em 2023, houve a maior queda em números absolutos: redução de 3,3 milhões de hectares, ou 2,8%, em relação à média histórica.

O Cerrado teve recorde de superfície de água em 2023, mas a maioria fica em reservatórios e não nos rios. Desde 2003 essa proporção se repete. Hoje, 37,5% da superfície de água do Cerrado está em corpos naturais, enquanto 62,5% se dividem entre hidrelétricas e reservatórios. Em 2023, a superfície foi de 1,6 milhão de hectares ou 9% do total nacional, valor 11% acima da média histórica.

Outros biomas que tiveram superfícies de água acima da média foram Caatinga e Mata Atlântica. Após sete anos de seca, a Caatinga volta a ter ciclo chuvoso consolidado, apontou Mapbiomas.

Já o Pampa, mesmo com as enchentes no Sul, teve superfície de água 40% menor que a média história, em 2023. Apesar das fortes chuvas no final do ano, os primeiros meses da região foram de extrema seca.

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