Coordenador da força-tarefa da Lava Jato na PGR pede demissão
Notícia vem à tona no mesmo dia que Dodge se reúne com equipe da operação de Curitiba para discutir vazamentos de mensagens pelo Intercept
Clara Cerioni
Publicado em 16 de julho de 2019 às 09h48.
Última atualização em 16 de julho de 2019 às 10h10.
São Paulo — O procurador José Alfredo de Paula Silva, coordenador do grupo de trabalho da Operação Lava Jato na Procuradoria-Geral da República (PGR), pediu demissão do cargo.
A informação, antecipada pelo jornal O Globo, foi confirmada a EXAME pela equipe de comunicação do órgão. Silva pediu exoneração na última sexta-feira (12) alegando "motivos pessoais".
Segundo O Globo, no entanto, eleestava insatisfeito com o ritmo lento das investigações da Operação, emperradas devido ao excesso de centralização do gabinete de Raquel Dodge , e com a tentativa dela de se reconduzir fora da lista tríplice.
Duas importantes delações estavam em banho-maria na PGR: a dodelator da Operação Carne Fraca, Daniel Gonçalves, e daoperadora do PT na Bahia, Dalva Sele Paiva. Ambas, apesar de homologadas, não tiveram desdobramentos em operações, informou a VEJA recentemente.
A saída de Silva amplia o desgaste interno de Dodge, uma vez que ele ocupava um dos cargos mais importantes da sua gestão.
O procurador era responsável pelas articulações das investigações com políticos com foro privilegiado na Lava Jato e fazia a ponte daPGR com as forças-tarefas da operação nos estados.Delação premiada, oferecimentos de denúncias, pedidos de operações policiais e de quebras de sigilo estavam no escopo de suas funções dentro da PGR.
Reunião
Nesta terça-feira (16), Dodge receberáintegrantes da força-tarefa da Lava Jato, sediada em Curitiba, para avaliar os recentes vazamentos de mensagens entre procuradores da operação com o então juiz Sergio Moro, divulgadas pelo site The Intercept.
As reportagens põem em xeque a conduta dos envolvidos, ao revelar supostos diálogos travados entre Deltan Dallagnol e outros integrantes do MPF e do próprio ex-juiz federal.
Os citados afirmam não reconhecerem a autenticidade das mensagens, negam irregularidades e se dizem vítimas de crime de hackers que tentam manchar os feitos e anular processos ligados à operação.
Neste mês, a PGR já se manifestou contra pedidos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que aponta suspeição do então juiz Sergio Moro na condução de ações penais contra si.
A PGR já afirmou que houve atuação criminosa contra integrantes do Ministério Público Federal, no ofício enviado em junho à Polícia Federal pedindo uma investigação sobre os motivos e eventuais contratantes do "ataque cibernético sistemático".
Alguns procuradores, no entanto, entendem que falta fazer uma defesa pública mais enfática dos integrantes da Força-Tarefa. A expectativa de procuradores é que, depois da reunião, a PGR possa apresentar uma posição da instituição.
A informação na Procuradoria-Geral da República é que a reunião já estava sendo articulada há semanas e não se deve a nenhum conteúdo específico divulgado na imprensa recentemente.
Órgão do MPF critica Lava Jato
A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFCD), do Ministério Público Federal, divulgou nesta segunda-feira (15) uma nota pública com duras críticas a procuradores da Lava Jato.
A instituição demonstrapreocupação com a eventual ocorrência de abusos a direitos legais e humanos em nome do combate à corrupção, após as revelações do Intercept. Essa foi a primeira vez que um órgão ligado ao MPF se pronuncia publicamente sobre os vazamentos.
“A revelação pela imprensa de diálogos mantidos entre agentes públicos do sistema de Justiça no contexto da Operação Lava-Jato reforça a necessidade de compreensão das diversas dimensões dos direitos humanos e de promoção conjunta do enfrentamento à corrupção, do devido processo legal, do direito à informação e da liberdade de imprensa”, afirma a PFDC. Leia a nota na íntegra.
(Com Estadão Conteúdo)