Contra todas as chances: Como Silva virou 1° e único prefeito do Novo
Empresário, bombeiro voluntário e avesso à política até 2017, Adriano Silva tinha como principais adversários um deputado federal e outro estadual
Ligia Tuon
Publicado em 1 de dezembro de 2020 às 17h31.
Última atualização em 2 de dezembro de 2020 às 07h02.
Com a metade dos recursos de seu principal adversário e apenas 13 segundos de propaganda na TV, o empresário da indústria farmacêutica Adriano Silva inaugurou sua carreira política recentemente, na campanha pela prefeitura de Joinville (SC), e se tornou o primeiro e único prefeito eleito pelo partido Novo .
Em um momento delicado para Joinville, em que o número de casos de covid-19 volta a subir e a cidade passa pelo endurecimento das regras de distanciamento social, Silva diz que evitar aglomerações e conscientizar a população a respeito da necessidade do uso de máscaras são políticas essenciais, mas é contra fechar o comércio novamente: "A ideia é proteger a economia, pois, quando passamos por esse tipo de restrição, tivemos um problema grave de desemprego e fome", diz.
Para fomentar a economia regional a partir de 2021, espera desburocratizar a abertura e fechamento de empresas e fazer parcerias público privadas na área de cultura.
Presidente da Laboratório Catarinense, que pertence à sua família, Silva remete sua vitória à visibilidade que tem na região, sobretudo, em função dos serviços prestados como bombeiro voluntário. "Sempre coordeno a central solidária de captação e redistribuição de donativos quando a cidade entra em estado de calamidade pública. A gente sofre muito com cheias e enchentes aqui", diz.
Mesmo com seu histórico, as chances de vitória de Silva eram reduzidas. Além de ter menos verbas e tempo de propaganda, seu adversário no segundo turno, Darci de Matos (PSD) já é um nome popular, por ser deputado federal e ter tentado chefiar a prefeitura da cidade pela terceira vez.
Como muitos brasileiros descontentes, Silva ignorava a política até 2017, quando o país passava por um momento conturbado, após o vazamento de uma gravação do então presidente Michel Temer pelo empresário Joesley Batista. "Percebi que precisava começar a participar, se não, seriam sempre os mesmos", diz.
Veja os principais trechos da entrevista que concedeu à Exame:
O senhor é o primeiro e único prefeito pelo partido Novo que o Brasil já teve. A que liga essa vitória, sobretudo com o fato de seu principal adversário ter tido o dobro de recursos na campanha e mais tempo de TV?
São vários fatores, mas principalmente pelo meu histórico na própria cidade, onde sou presidente do Laboratório Catarinense, indústria farmacêutica daqui. Além disso, sempre tive uma atuação na sociedade como bombeiro voluntário. O corpo de bombeiro em Joinville não é militar, é uma organização social, e eu me formei bombeiros há 17 anos.
Assim, conheci bastante o bairro, as casas das pessoas, coordenei o programa dos bombeiros mirins durante 7 ou 8 anos. Sou sempre eu quem coordeno a central solidária, de captação e redistribuição de donativos quando a cidade entra em estado de calamidade pública. A gente sofre muito aqui com cheias e enchentes.
O que ajudou também foi o fato de partido Novo de definir de forma muito rápida os pré-candidatos, já no ano passado, o que fez com que a gente começasse a trabalhar mais cedo divulgando as ideias liberais do partido, então isso nos deu condição de fazer um trabalho a médio e longo prazo.
O senhor entrou na política recentemente. Por que resolveu seguir esse caminho?
Até 2017 eu ignorava a política, mas aprendi que as consequências da política a gente não consegue ignorar. Naquele ano, o país passava pela crise econômica fomentada por uma grande crise política, que nos forçou a fazer uma nova redução no quadro de funcionários na empresa. Aquilo me deixou muito bravo, porque a gente tinha acabado de sair da crise Dilma, que culminou na recessão de 2015. Percebi que precisava começar a participar, se não, seriam sempre os mesmos, sem perspectiva de mudança.
Conheci o partido Novo, em 2018, numa palestra onde fui escutar sobre o partido, gostei muito das premissas e questões que o partido colocava, e decidi me filiar. Inicialmente, eu seria apenas filiado. E no ano passado fui convidado pelo diretório municipal para ser o candidato à prefeito. Foi quando fiz o processo seletivo do partido.
Quais os planos do senhor para Joinville no campo econômico, visto que as prefeituras deverão ter seu orçamento pressionado no ano que vem com despesas obrigatórias maiores, como o Fundeb, e queda na arrecadação?
Acredito que Joinville não deve ser a única cidade a sofrer com a burocracia no Brasil, mas sofre demais com isso, e, por isso, vamos fazer mutirão da desburocratização para facilitar a abertura de empresas e atrair empresas para o município e geração de empregos.
Há alguns equipamentos públicos, como arena de futebol, e uma área de eventos que se chama Centreventos Cau Hansen, na cidade, e uma outra área que se chama Cidadela Cultural, que exigem muito valor de investimento e manutenção da prefeitura e nós estamos propondo fazer a concessão público privada para justamente poder diminuir esses custos e reverter em mais investimentos para a sociedade.
O senhor já disse que se identifica com algumas políticas do governo Bolsonaro. Quais são elas e com quais o senhor não se identifica?
Não estou me colocando muito nas pautas do governo federal, estamos muito preocupados agora no governo de transição municipal. Ontem participei de uma reunião com ministro Tarcísio Gomes para a gente atrair mais verbas para Santa Catarina e Joinville para obras de infraestrutura, que é o que a gente precisa, e é essa minha posição, estar mais preocupado com a política municipal.
A região de Joinville voltou a entrar em risco gravíssimo em função do aumento de internações por causa da covid-19, o que fez a atual administração endurecer algumas regras para evitar aglomeração. Se o cenário continuar, o senhor pretende manter o ritmo das políticas de enfrentamento ao vírus?
Hoje a gente tem que se preocupar muito com a quantidade dos leitos que temos nos hospitais, pois tivemos aumento significativo dos casos, e isso se deve muito aos feriados que tivemos, a gente tem a influência das praias, então nos preocupa muito as festas de fim de ano agora que a cidade, a região de Santa Catarina recebe muitas pessoas de fora. Identificar a questão da educação, do uso de máscaras, distanciamento social, evitar aglomeração é fundamental, mas protegendo a economia do município.
O senhor foi colocado como crítico das medidas de restrição ao comércio. Se os casos começarem a piorar, a ideia é manter o comércio intacto?
Exatamente. A ideia é protegermos a economia, porque quando nós tivemos essa restrição na economia, tivemos um problema grave de desemprego, fome, então temos que defender os empregos para que a gente não crie dessa crise social novamente.