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Contaminação com Zika é pior do que imaginado, diz ministro

O ministro da Saúde avalia que a situação do Zika vírus no Brasil pode ser ainda pior do que o imaginado


	O ministro da Saúde, Marcelo Castro: 80 por cento das pessoas contaminadas não apresentam sintomas
 (José Cruz/Agência Brasil)

O ministro da Saúde, Marcelo Castro: 80 por cento das pessoas contaminadas não apresentam sintomas (José Cruz/Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 1 de fevereiro de 2016 às 18h53.

Brasília - O surto do vírus Zika no Brasil pode ser ainda pior do que o imaginado, já que 80 por cento das pessoas contaminadas não apresentam sintomas, disse nesta segunda-feira o ministro da Saúde, Marcelo Castro, alegando que o governo só terá uma noção mais clara da situação a partir da semana que vem, quando a notificação de casos da doença passará a ser compulsória.

“A notificação ainda não é obrigatória, porque ainda não temos os exames para identificar o vírus Zika em todo Brasil", disse o ministro em entrevista à Reuters. "A partir desta semana 24 laboratórios foram credenciados e temos outros cinco do Ministério da Saúde que estarão habilitados para fazer o exame. A partir dessa semana começaremos a fazer os testes e vamos tornar a identificação obrigatória”, disse.

Castro admitiu que o governo brasileiro não tem ideia hoje de quantas pessoas estão ou foram contaminadas pelo vírus Zika.

Até agora, as notificações foram feitas nos casos de microcefalia, que também não precisavam ser informadas ao governo federal, mas passaram a ser acompanhadas depois da confirmação da relação com o Zika. Atualmente, são 4.180 notificações, com 270 casos confirmados e 462, descartados.

"Esses casos estão crescendo todas as semanas, mas não temos número final do que pode acontecer. A situação é grave e preocupante", afirmou. "Não sabemos ao certo (o número de casos do Zika) porque os técnicos nos informam que aproximadamente 80 por cento das pessoas contaminadas não desenvolvem sintomas significativos. Um grande número são acometidas, mas não desenvolvem os sintomas", disse.

"Então a situação é mais grave do que se pode imaginar”, afirmou o ministro.

O ministro lembra que as mulheres que tiveram filhos com microcefalia no final de 2015 possivelmente foram infectadas no início do mesmo ano, quando o mosquito transmissor, Aedes Aegypti, estava mais ativo. O ministro lembrou ainda que o mosquito tem um comportamento sazonal, com número maior no verão, com chuvas e temperaturas elevadas. "O período mais crítico é de fevereiro a maio. As mulheres que estão tendo hoje bebês com microcefalia correspondem ao período de contaminação no ano passado”, disse. Questionado se então o Brasil pode ter um novo aumento nos casos de bebês afetados no final deste ano, o ministro não respondeu.

TESTES

Atualmente, o sistema de saúde brasileiro tem até mesmo dificuldade em separar as três doenças transmitidas pelo Aedes –dengue, Zika e Chikungunya–, especialmente entre dengue e Zika, que chegou a ser considerada um tipo menos nocivo.

Até o final do mês, começará a ser distribuído para os Estados também um teste capaz de identificar as três doenças assim que o paciente apresentar os primeiros sintomas – normalmente febre, dor no corpo, dor nas articulações e manchas vermelhas pelo corpo, informou o ministro.

“A limitação é que esse teste só funciona durante o período em que a pessoa apresenta os sintomas. O Instituto Evandro Chagas está desenvolvendo um teste sorológico que pode ser usado a qualquer tempo”, explicou.

O Zika, pelas pesquisas feitas até agora, teria chegado ao Brasil durante a Copa do Mundo de 2014, pela Bahia, mas há especifidades ainda desconhecidas.

Não se tem, por exemplo, informações sobre se, uma vez contaminada, a pessoa se torna imune à doença para o resto da vida, como acontece com os diferentes tipos de dengue. Também não se tem certeza se é possível a transmissão por alguma outra via que não seja o próprio mosquito ou o sangue contaminado em transfusões, apesar de Castro afirmar que no Brasil não se registrou nenhum caso além da infecção pelo mosquito.

O ministro também disse que existem poucas evidências até agora ligando o Zika vírus à síndrome de Guillain-Barré, afirmando que o aumento de casos na Região Nordeste é pouco significativo.

O ministro lembrou que não há caso registrado na literatura médica de uma ligação da doença com casos de microcefalia, mas garantiu que os cientistas brasileiros não têm nenhuma dúvida da conexão. “A Organização Mundial da Saúde ainda não reconhece de maneira conclusiva que o Zika cause a microcefalia, embora nossos pesquisadores não tenham menor dúvida e afirmaram isso desde o dia 29 de novembro”, afirmou.

Na data, a Ministério da Saúde divulgou um boletim creditando ao Instituto Evandro Chagas a primeira confirmação da ligação entre a doença e a condição em recém-nascidos, depois de verificar a presença do vírus no líquido amniótico de dois bebês. Desde então, os pesquisadores obtiveram outros indícios considerados conclusivos.

Castro citou o fato de o governo brasileiro esperar que a OMS classificasse o Zika como emergência de saúde. Logo após a entrevista concedida à Reuters, a OMS declarou o Zika vírus “emergência global de saúde”, depois de ter sido bastante criticada por demorar a responder ao surto.

A expectativa agora é que a decisão ajude a acelerar a resposta e as pesquisas sobre o vírus. No Brasil, além de insistir na mobilização da sociedade para que o Brasil elimine o mosquito, o governo tomará outras medidas, informou Castro à Reuters. Como nos Estados Unidos, a doação de sangue de pessoas que tiveram a doença será suspensa, afirmou, e o sangue dos doadores, testado. O governo brasileiro, no entanto, aposta no desenvolvimento de uma vacina como a melhor saída.

“Nossa grande esperança é desenvolvimento de vacinas”, confirmou o ministro, garantindo que o ministério está alocando recursos para que os laboratórios estatais invistam em pesquisas, em parcerias com instituições estrangeiras, no prazo mais curto possível.

Além disso, segundo o ministro, há uma tentativa de desenvolver uma medicação para combater a enfermidade. "O (Instituto) Butantã já iniciou a pesquisa para desenvolver um soro para que os pacientes tomassem e evitassem o agravamento da doença, além de diminuir a carga viral”, disse. “O instituto também está iniciando os trabalhos para desenvolver anticorpos para combater o vírus”, acrescentou.

Texto atualizado às 19h53
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