Consumo alto, calorão e seca: começou a temporada de apagão?
Sistemas de geração e transmissão de energia elétrica operam no limite no país, o que aumenta o risco de novos cortes de luz durante este verão
Vanessa Barbosa
Publicado em 19 de janeiro de 2015 às 19h46.
São Paulo – Pelo menos 8 estados brasileiros e o Distrito Federal foram afetados pelo apagão da tarde desta segunda-feira (19). As principais distribuidoras de energia afirmaram que o corte no fornecimento, que durou cerca de uma hora, foi feito a pedido do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Em nota oficial divulgada no final da tarde, o órgão atribuiu a falta de luz à “elevação da demanda no horário de pico” e a “restrições na transferência de energia”. O ONS explica que adotou as medidas necessárias junto às distribuidoras para restabelecer o sistema às “condições normais”. Segundo o órgão, menos de 5% da carga do sistema foi impactado.
Apagões têm acontecido com frequência nos últimos anos no Brasil.
As razões para a escuridão podem variar, mas em geral - e como um déjà vu - refletem as fragilidades do sistema elétrico nacional. Geração e transmissão de energia elétrica operam no limite no país, o que aumenta o risco de novos cortes de luz durante este verão (e os próximos).
Para se ter uma ideia, os reservatórios da Região Sudeste e Centro Oeste, que representam o maior sistema do país, fechou dezembro com 19% da capacidade. Pelas estimativas do ONS, as chuvas de janeiro não serão suficientes para melhorar esse quadro.
Em tempos de “águas magras”, o governo federal recorreu às usinas termelétricas, que estão funcionando à todo vapor, com geração recorde de energia.
Para efeito de comparação, em janeiro de 2014, o nível dos reservatórios era de 40%, o dobro da taxa atual. E as termelétricas caminhavam para bater seu recorde de geração.
Apesar da aparente situação de controle na ocasião, corroborada repetidas vezes pelo Ministério de Minas e Energia, o Brasil sofreu um tremendo apagão na tarde do dia 04 de fevereiro.
O motivo? Pico no consumo, assim como no blecaute de hoje. A demanda em alta é provocada, por exemplo, por uso elevado de arcondicionados durante um mesmo periodo. Segundo o ONS, o horário de pico costuma ocorrer entre as 15h e 16h.
A cidade de São Paulo, por exemplo, uma das cidades atingidas pelo blecaute, bateu às 15h desta tarde um recorde de temperatura, ao registrar 36,5 °C, a quarta tarde mais quente de uma mês de janeiro em 71 anos da cidade.
Segundo Carlos Faria, presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), o governo falha em tratar o problema e sinalizá-lo, com clareza, para a população.
“Se tivemos problemas no ano passado, é óbvio que vamos ter mais problemas neste ano. E por quê? Desde que reduzimos o preço da energia, em 2012, o governo só vem dizendo para a população que o preço está barato, que pode consumir porque não vai faltar luz”, afirma.
“Passou do tempo de chamar a população para racionalizar”, defende.
Segundo ele, não se trata de fazer um racionamento ao pé da letra, mas de evitar desperdícios. Para Faria, o sistema elétrico passa por um momento difícil, que pode gerar mais apagões. “Simplesmente, não temos condições de atender à demanda”, avalia, lembrando que várias partes do país enfrentam condições históricas de seca.
Transmissão
Mesmo considerando uma geração segura de energia, quando o pico de demanda ocorre, o sistema de transmissão pode não dar conta do recado.
Solicitações extremas, como a registrada hoje (e no apagão de fevereiro de 2014), aumentam a pressão sobre o sistema de transmissão, que tem de estar preparado.
O desafio é a infraestrutura aguentar esses "picos de demanda" que prometem aumentar por conta do calorão no país, agravado pela falta de chuva.
Falhas técnicas causadas pelo calor podem gerar oscilações pontuais no fornecimento de energia.
O calor muito forte pode, por exemplo, ionizar o ar e dar condução da corrente para a terra, provocando pequenos curtos circuitos e o desligamento automático de subestações.
O ONS marcou para a amanhã, 20/01, uma reunião técnica para discutir o apagão. O encontro deverá contar com representantes de empresas, do Ministério das Minas e Energia e da Aneel.
São Paulo – Pelo menos 8 estados brasileiros e o Distrito Federal foram afetados pelo apagão da tarde desta segunda-feira (19). As principais distribuidoras de energia afirmaram que o corte no fornecimento, que durou cerca de uma hora, foi feito a pedido do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Em nota oficial divulgada no final da tarde, o órgão atribuiu a falta de luz à “elevação da demanda no horário de pico” e a “restrições na transferência de energia”. O ONS explica que adotou as medidas necessárias junto às distribuidoras para restabelecer o sistema às “condições normais”. Segundo o órgão, menos de 5% da carga do sistema foi impactado.
Apagões têm acontecido com frequência nos últimos anos no Brasil.
As razões para a escuridão podem variar, mas em geral - e como um déjà vu - refletem as fragilidades do sistema elétrico nacional. Geração e transmissão de energia elétrica operam no limite no país, o que aumenta o risco de novos cortes de luz durante este verão (e os próximos).
Para se ter uma ideia, os reservatórios da Região Sudeste e Centro Oeste, que representam o maior sistema do país, fechou dezembro com 19% da capacidade. Pelas estimativas do ONS, as chuvas de janeiro não serão suficientes para melhorar esse quadro.
Em tempos de “águas magras”, o governo federal recorreu às usinas termelétricas, que estão funcionando à todo vapor, com geração recorde de energia.
Para efeito de comparação, em janeiro de 2014, o nível dos reservatórios era de 40%, o dobro da taxa atual. E as termelétricas caminhavam para bater seu recorde de geração.
Apesar da aparente situação de controle na ocasião, corroborada repetidas vezes pelo Ministério de Minas e Energia, o Brasil sofreu um tremendo apagão na tarde do dia 04 de fevereiro.
O motivo? Pico no consumo, assim como no blecaute de hoje. A demanda em alta é provocada, por exemplo, por uso elevado de arcondicionados durante um mesmo periodo. Segundo o ONS, o horário de pico costuma ocorrer entre as 15h e 16h.
A cidade de São Paulo, por exemplo, uma das cidades atingidas pelo blecaute, bateu às 15h desta tarde um recorde de temperatura, ao registrar 36,5 °C, a quarta tarde mais quente de uma mês de janeiro em 71 anos da cidade.
Segundo Carlos Faria, presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), o governo falha em tratar o problema e sinalizá-lo, com clareza, para a população.
“Se tivemos problemas no ano passado, é óbvio que vamos ter mais problemas neste ano. E por quê? Desde que reduzimos o preço da energia, em 2012, o governo só vem dizendo para a população que o preço está barato, que pode consumir porque não vai faltar luz”, afirma.
“Passou do tempo de chamar a população para racionalizar”, defende.
Segundo ele, não se trata de fazer um racionamento ao pé da letra, mas de evitar desperdícios. Para Faria, o sistema elétrico passa por um momento difícil, que pode gerar mais apagões. “Simplesmente, não temos condições de atender à demanda”, avalia, lembrando que várias partes do país enfrentam condições históricas de seca.
Transmissão
Mesmo considerando uma geração segura de energia, quando o pico de demanda ocorre, o sistema de transmissão pode não dar conta do recado.
Solicitações extremas, como a registrada hoje (e no apagão de fevereiro de 2014), aumentam a pressão sobre o sistema de transmissão, que tem de estar preparado.
O desafio é a infraestrutura aguentar esses "picos de demanda" que prometem aumentar por conta do calorão no país, agravado pela falta de chuva.
Falhas técnicas causadas pelo calor podem gerar oscilações pontuais no fornecimento de energia.
O calor muito forte pode, por exemplo, ionizar o ar e dar condução da corrente para a terra, provocando pequenos curtos circuitos e o desligamento automático de subestações.
O ONS marcou para a amanhã, 20/01, uma reunião técnica para discutir o apagão. O encontro deverá contar com representantes de empresas, do Ministério das Minas e Energia e da Aneel.