Como duas cidades com mais idosos no Brasil estão lidando com a covid-19
Santos e Niterói têm 20% de sua população acima dos 65 anos, a faixa etária com os maiores riscos de morte pelo coronavírus
Clara Cerioni
Publicado em 29 de março de 2020 às 08h00.
Última atualização em 30 de março de 2020 às 14h28.
Já se completou um mês desde que o Brasil passou a lidar diariamente com o rápido avanço do novo coronavírus no país. Todas as regiões, algumas com mais intensidade e outras menos, têm se mobilizado para proteger a população da doença que já vitimou cerca de 100 brasileiros e já registrou 4.000 casos confirmados.
Além dos desafios comuns às cidades, como escassez de testes e redução da atividade econômica por conta do isolamento, os municípios que concentram a maior parte de idosos precisam reforçar ainda mais as medidas de prevenção e contingência para a doença, uma vez que essa é a faixa etária com maior risco de morrer em decorrência da infecção.
No Brasil, Santos e Niterói lideram a lista das cidades com maior concentração de idosos, segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2010. Em ambas, cerca de 20% da população está acima dos 65 anos. À EXAME os municípios informaram que, além das medidas comuns, foi preciso pensar em estratégias para os idosos.
Até agora, Santos, no litoral paulista, registrou apenas 14 casos confirmados da doença, mas, já tem se mobilizado para desenvolver uma rede de proteção aos moradores com mais idade. A principal delas é o Telehelper, um dispositivo que é colocado como uma pulseira e tem um botão que o idoso consegue se comunicar com um atendente ou chamar imediatamente uma ambulância.
"Esse dispositivo já é usado em 250 idosos que vivem sozinhos, não precisam de atendimento hospitalar constante e não têm alguém para ajudar", diz Fábio Ferraz, secretário municipal de Saúde de Santos.
Ferraz faz parte de um comitê criado pelo Centro de Liderança Pública com representantes de saúde de diversas cidades, como Belo Horizonte, São Paulo, Goiânia, Caruaru e Pelotas, para tratar sobre o avanço do coronavírus no país. A ideia dessa pulseira foi apresentada como uma das alternativas promissoras para enfrentar a covid-19 nas população idosa.
A expectativa, segundo o secretário, é de que, em breve, a prefeitura de Santos consiga incluir nesse programa mais 200 idosos com alguma comorbidade ou até mesmo pacientes que já estão infectados, mas não precisam ficar internados.
Além do dispositivo, a cidade praiana também decidiu fechar os acessos às praias para evitar que a população, principalmente os idosos, sigam fazendo caminhadas ou atividades na orla. "Num primeiro momento teve uma certa polêmica, mas depois as pessoas foram se conscientizando", diz Ferraz.
Já Niterói, no interior do Rio de Janeiro, também está mobilizando ações voltadas para a terceira idade. Com 31 casos confirmados da doença e uma morte, a equipe de Saúde da prefeitura decidiu entregar massivamente cartilhas informativas em papel para conscientizar a população mais velha.
Nas últimas semanas foram distribuídos 50 mil folhetos informando as formas de transmissão do vírus, sintomas e prevenção, em caixas de correio, portaria de prédios e nas ruas. Em nota à reportagem, a secretaria de Saúde informou que a ação de conscientização teve como foco o bairro de Icaraí, local que concentra 25% dos habitantes na terceira idade e registrou o primeiro óbito pela doença. A campanha de vacinação contra a gripe também
Seguindo a tendência de outras cidades, o prefeito Rodrigo Neves determinou na semana passada quarentena total em Niterói. "Apenas serviços essenciais podem funcionar, como farmácias, mercados, supermercados, postos de combustíveis, padarias, pet shops, clínicas médicas e odontológicas, laboratórios de imagem e clínicas de vacinação, hotéis e clínicas veterinárias para casos de urgências", diz o decreto.
Para além das medidas de prevenção contra o coronavírus, ambos os municípios informaram que investiram fortemente na campanha de vacinação contra a gripe, que apesar de não prevenir a covid-19, é uma das medidas que podem reduzir o fluxo de doentes aos hospitais públicos.