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Com apenas 8 páginas, programa de governo de Crivella não citava chuvas

Documentos de adversários do prefeito carioca tinham de 70 a 100 páginas; ao menos 10 pessoas morreram com o temporal na cidade

Crivella: prefeito do Rio foi criticado por plano de governo com apenas 8 páginas (Antonio Cruz/Agência Brasil)

Crivella: prefeito do Rio foi criticado por plano de governo com apenas 8 páginas (Antonio Cruz/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de abril de 2019 às 18h38.

Última atualização em 9 de abril de 2019 às 18h40.

O programa de governo do prefeito do Rio, Marcelo Crivella (PRB), foi o único dentre os três mais votados na eleição carioca de 2016 que não citou a palavra "chuvas". Com apenas oito páginas, o documento chegou a ser criticado nos debates por ser pequeno e genérico.

O programa do segundo colocado no pleito, o hoje deputado federal Marcelo Freixo (PSOL), tinha 67 páginas. O do terceiro, o também deputado Pedro Paulo (hoje no DEM, antes no MDB), contava com 110. Ambos mencionavam as chuvas que historicamente assolam a cidade e provocam danos e mortes - até a tarde desta terça-feira, 9, dez pessoas morreram por causa dos temporais na cidade.

No de Freixo, por exemplo, um parágrafo determinava que, caso o candidato fosse eleito, estabeleceria metas para ampliar as taxas de permeabilidade do solo, "com intuito de evitar as enchentes e inundações em período de cheia e de chuvas fortes."

Já o de Pedro Paulo elencava seis medidas para conter a situação caótica em que o Rio costuma ficar após tempestades, a fim de "dotar a cidade de estruturas de drenagem que reduzam o impacto dos eventos chuvosos ao patrimônio, à segurança individual do cidadão, à circulação de bens e serviços e à mobilidade urbana."

Crivella venceu as eleições no segundo turno contra Freixo por 59,3% a 40,6% dos votos válidos.

Ao comentar os danos materiais e as mortes decorrentes da chuva, Crivella atribuiu o problema ao histórico de negligência na cidade e até à falta de investimentos do governo federal.

CPI de enchentes

O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das enchentes no Rio de Janeiro, vereador Tarcísio Motta (PSOL), disse que vai apresentar na próxima sessão da comissão um pedido de convocação de Crivella. Motta disse que a convocação será para uma audiência pública na Câmara Municipal com famílias afetadas pelos temporais na cidade.

"Vamos apresentar um requerimento para convocar o Crivella para estar na Câmara dos Vereadores e ouvir diretamente os moradores atingidos e se explicar em uma audiência pública sobre a calamidade que a cidade do Rio de Janeiro vive hoje", disse ele em vídeo publicado em suas redes sociais.

Tarcísio Motta deve apresentar o requerimento na quinta-feira (11), em uma reunião da comissão, marcada para as 13h. Além do presidente, integram a CPI o relator, Renato Cinco (PSOL), e os membros Marcelo Arar (PTB), Rosa Fernandes (MDB) e Tiãozinho do Jacaré (PRB).

Em um texto postado em suas redes sociais, Motta disse que a prefeitura cortou 90% recursos para a prevenção de enchentes e 70% dos destinados à proteção de encostas. Para o vereador, a enchente de ontem e hoje era uma tragédia anunciada.

"Entre janeiro e abril deste ano, o município não gastou um centavo sequer na manutenção da drenagem urbana da cidade, nem investiu recursos em obras de contenção de encostas. Vale lembrar que neste mesmo período o Rio sofreu com três temporais. Pessoas morreram", disse o vereador.

Procurada, a prefeitura não se posicionou até o fechamento desta reportagem.

Impeachment

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro decidiu na terça-feira, 2, por 35 votos a 14, abrir uma comissão para processar o prefeito Marcelo Crivella (PRB), acusado de crime de responsabilidade. Alvo de um inédito processo de impeachment, o prefeito reuniu no dia seguinte a imprensa para se defender. Segundo ele, a "fragilidade da denúncia é total" e a ação, "completamente descabida". "Tenho certeza de que a Câmara dos Vereadores, de posse dos documentos e do relatório da comissão, vai concordar conosco", afirmou.

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