CFM autorizou cloroquina sem seguir a Ciência, diz presidente do órgão
Presidente do Conselho Federal de Medicina afirmou que decisão sobre o uso de cloroquina teve de ser tomada para colocar "ponto final" na polarização
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de abril de 2020 às 09h49.
Última atualização em 16 de maio de 2020 às 10h48.
O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Mauro Luiz de Britto Ribeiro, afirma que a decisão de liberar prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina para casos leves do coronavírus não segue a ciência, mas teve de ser tomada para regrar o uso descontrolado da droga no Brasil e colocar "ponto final" na polarização sobre o tema.
O que muda com o parecer?
Não havia permissão para prescrever a cloroquina. O que fizemos foi liberar o uso. Não recomendar.
Mas médicos já prescreviam...
Estavam prescrevendo. Sob risco. OCFMtem a competência de decidir o que é experimental e o que não é. Na realidade, da forma como estava, o médico estava sujeito a todo tipo de ação. Agora está respaldado.
O CFM espera que aumente a prescrição da cloroquina?
Acreditamos que não. Já tem muita gente usando. Estamos numa situação diferente de tudo o que já enfrentamos. É uma doença que pega uma cadeia. Isola pessoas. E não existe tratamento farmacológico.
Por que escolheram uma reunião no Palácio do Planalto, com o presidente Bolsonaro, para anunciar este parecer?
Já estávamos acompanhando o uso da cloroquina. Mas o ex-ministro (Luiz Henrique) Mandetta fez solicitação de posicionamento sobre a hidroxicloroquina. Ele representa o governo. E essa questão foi politizada. O posicionamento doCFMfoi solicitação do ministro de Bolsonaro. O que fizemos foi levar a Bolsonaro o posicionamento oficial doCFM, para depois divulgar ao País.
O CFM não acaba entrando nessa jogada de polarização?
Não. Todas as manifestações doCFM, todas, são no sentido de tirar atenção desta questão.
É seguro prescrever o medicamento para casos leves?
Se você for pensar, oCFMautorizou o uso da droga sem seguir aquilo que nos guia, que é a ciência. O que nos guia é a medicina baseada em evidência, são grandes trabalhos, publicados em grandes revistas. Rigorosos. Que não temos em relação à hidroxicloroquina. É uma excelente medicação para outras doenças mas para a covid não existe nada. Neste caso, como não temos nada e a doença é devastadora, decidimos liberar o uso da droga.
Bolsonaro trocou o ministro. Havia discordâncias e o presidente quer o fim da quarentena. Ele segue participando de manifestações e índices de isolamento caem. Isso preocupa o CFM?
A preocupação doCFMé com o que vai acontecer nos próximos 30 e 60 dias com a população brasileira. Aparentemente as medidas do presidente Bolsonaro e de Mandetta foram eficazes. Torcemos que a curva continue caindo.