Centrão cobra participação na campanha de Alckmin
O bloco partidário pretende indicar o nome do coordenador de campanha e defende que seja alguém com trânsito em todos os partidos
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de julho de 2018 às 09h37.
Última atualização em 24 de julho de 2018 às 09h39.
São Paulo - Após acertar na semana passada o apoio ao ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) na disputa presidencial , os dirigentes do Centrão reivindicam agora uma participação efetiva na coordenação de campanha e na elaboração do futuro programa de governo do tucano. O bloco partidário, formado por DEM, PP, PR, Solidariedade e PRB, pretende indicar o nome do coordenador de campanha e defende que seja alguém com trânsito em todos os partidos.
O Centrão deve anunciar oficialmente na quinta-feira, em Brasília, a aliança com Alckmin. As siglas indicaram o nome do empresário Josué Gomes como vice na chapa, sugestão que foi acatada pelo presidenciável do PSDB. Havia expectativa da campanha tucana de que a dobradinha com o empresário mineiro - filho do ex-vice-presidente José Alencar, que morreu em 2011 -, fosse anunciada nesta segunda-feira, 23, mas as primeiras conversas não foram conclusivas. Alckmin se reuniu em São Paulo com Josué e o ex-deputado Valdemar Costa Neto, líder informal do PR.
O presidente da indústria têxtil Coteminas disse, conforme relatos, que o ex-governador deveria ficar à vontade se quiser procurar outro nome do bloco para o posto de vice que acrescente eleitoralmente. O teor de parte da conversa foi transmitido por Costa Neto ao líder do PR na Câmara, José Rocha (BA).
Para aliados de Alckmin, a reticência do empresário pode ter explicação na sua relação com o PT. Josué se filiou ao PR a pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Lava Jato. Ele era considerado por petistas como o vice ideal do candidato do partido.
A expectativa é de que o empresário só se decida após uma conversa com o governador de Minas, Fernando Pimentel (PT). Segundo a assessoria de Pimentel, um encontro entre os dois está previsto para esta terça-feira, 24, na capital paulista.
"Não sei quem será meu vice, mas a indicação do Josué me honra muito. Se ele for o nome, ótimo. Se não, vamos escolher juntos", disse Alckmin no programa Roda Viva da TV Cultura.
'Conselho político'. Para os dirigentes do Centrão, a aliança com Alckmin precisa avançar além da vaga de vice e o comando de sua campanha não pode ser "exclusivamente tucano". Eles reclamam da condução política da pré-campanha, hoje sob chefia do ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB). Uma das exigências do DEM nas negociações com Alckmin foi a saída de Perillo do posto. O pedido foi feito pelo senador Ronaldo Caiado (DEM), adversário do ex-governador goiano.
Alckmin vai criar um conselho político com representantes dos dez prováveis partidos que estarão na coligação. "A expectativa é ter um grupo mais amplo para discutir os rumos da campanha e o programa de governo", disse o deputado Silvio Torres (PSDB-SP).
Os aliados, porém, acham pouco e temem que o colegiado não tenha poder de fato. "É fundamental que haja não somente um conselho político, mas que os partidos da aliança possam discutir de forma conjunta a construção do plano de governo para os próximos quatro anos. Não queremos que nosso apoio seja meramente eleitoral. Não é esse o objetivo. Se essa fosse a intenção, teríamos outras opções. Queremos sentar à mesa para governar juntos", disse à reportagem o presidente do PRB, Marcus Pereira.
"Um grande nome para coordenar a campanha é alguém que tenha experiência de campanha majoritária, vivência para além de São Paulo, e onde Alckmin seja mais fraco, e que possa maximizar o potencial do candidato. Alguém que tenha trânsito em todos os partidos", afirmou o deputado e ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM-PE).
O apoio do Centrão ao tucano já vem sendo explorado por adversários na disputa presidencial. "O condomínio do Alckmin é agora o condomínio que era da (presidente cassada) Dilma (Rousseff) em 2014", disse a presidenciável da Rede, Marina Silva, em evento com filiados da sigla em Piracicaba (SP).
No entorno de Alckmin, a avaliação, porém, é de que esse debate não alcança o "povão" e "vale o desgaste" em função da injeção de tempo de TV. Do tempo de Alckmin no horário eleitoral, cerca de 40% se deve à aliança com o Centrão (mais informações nesta página). O discurso para blindar o tucano está pronto: ele precisa de ampla coalizão para ter força no Congresso e promover reformas.