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Cartunista compara atentado a jornal ao 11 de setembro

O cartunista Víctor Henrique Woitschach, conhecido como Ique, comparou o atentado ao Charlie Hebdo ao ataque às torres gêmeas do World Trade Center


	Homenagens aos jornalistas assassinados após atentado à revista Charlie Hebdo
 (Anne-Christine Poujoulat/AFP)

Homenagens aos jornalistas assassinados após atentado à revista Charlie Hebdo (Anne-Christine Poujoulat/AFP)

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Da Redação

Publicado em 8 de janeiro de 2015 às 16h09.

Rio de Janeiro - O cartunista Víctor Henrique Woitschach, conhecido profissionalmente como Ique, comparou o atentado ao jornal Charlie Hebdo, em Paris, ontem (7), ao ataque às torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York, no dia 11 de setembro de 2001.

“Foi o 11 de setembro dos cartunistas, porque a dor que a gente sente, eu senti como se o tiro tivesse passado muito perto, porque é a realidade. Como disse um amigo meu. eles são da minha espécie. É o meu trabalho. Eu me senti como um cartunista dentro da redação e gente entrado e atirando a esmo”, destacou.

Ique teme que o atentado ao jornal de Paris provoque mudanças no comportamento e no trabalho dos cartunistas.

“O externo já vai mudar, a segurança vai mudar, uma série de coisas vai mudar, mas o mais importante é que a gente não mude o interno. Para que a gente não comece o trabalho já com autocensura, com medo e com receio, porque este era o objetivo deles. Quando eles foram até aquele ponto, matar aqueles cartunistas, daquela publicação, eles ampliaram muito o alcance do medo que eles queriam colocar no mundo inteiro”, indicou.

O cartunista brasileiro lembrou que depois do ato terrorista às torres gêmeas houve uma série de mudanças no mundo, desde as alterações no protocolo da aviação e no movimento dos aeroportos até o dia a dia das pessoas.

“A gente descobriu que aquilo era possível. Até então não passava na cabeça de ninguém que aquilo era possível”, analisou, acrescentando que o ataque ao Charlie Hebdo foi um tiro na liberdade de expressão e no direito de ir e vir. Para ele, o momento é de união para não ceder ao medo.

Segundo Ique, tratar o caso como uma questão religiosa é minimizar um problema internacional.

“É político, é do terror, é do medo e está afetando o que a humanidade conseguiu às custas de muito esforço que é o estado democrático e a liberdade de expressão. A decisão do jornal de lançar uma nova edição na próxima semana é uma forma de mostrar que os responsáveis pelo ataque vão ter que se expor novamente. “É uma resposta à altura e contra este medo que se instalou em todo o mundo”, apontou.

Para o professor do Instituto de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC), Marcio Scalércio, o episódio vai provocar a radicalização tanto dos extremistas islâmicos como das correntes de política da direita e chamou atenção também para a tentativa de aproveitamento oportunístico do atentado, especialmente, das forças políticas na Europa que são contrárias à imigração e intensificam a islamofobia. “Do mesmo modo que os radicais islâmicos apoiam ações como esta, com o objetivo de aproveitar-se delas para radicalizar e tornar a força a única linha de resolução de problemas, a extrema direita vai pelo mesmo caminho. O setor ultraconservador vai pela mesma linha”, indicou.

De acordo com Ique, neste momento, há uma certa unanimidade, no que se refere ao repúdio ao ataque, mas em uma segunda etapa é possível que os setores mais intransigentes vão se aproveitar da situação.

Marcio Scalércio acrescentou que os líderes islâmicos têm procurado condenar o ataque. “Os lideres consequentes e razoáveis não têm feito outra coisa desde ontem a não ser condenar o atentado, inclusive houve um pronunciamento da Universidade Islâmica do Cairo, que é a mais importante do mundo, condenando veementemente este atentado, mas essa condenação é uma espécie de autodefesa, já prevendo o que vem por aí”, avaliou.

Em uma nota divulgada ontem, a Associação dos Cartunistas do Brasil (ACB) condenou o episódio e lembrou que o jornal já tinha sofrido um atentado em novembro de 2011. A nota aponta, que ainda que tenham sido desrespeitados os preceitos religiosos, não se justifica a violência provocada.

“Repudiamos, sempre, todo e qualquer modo de violência à liberdade de expressão. O desenhista é justamente o artista que busca a defesa dos mais fracos e oprimidos desde que as charges começaram há 200 anos. A palavra charge é francesa, e significa carga, por ser sempre uma carga crítica aos governos e dogmas que mancham os direitos humanos e a livre expressão. Esses mesmos desenhistas, mortos, foram críticos em suas vidas em relação aos governos que oprimem povos de países do terceiro mundo”, destacou a nota.

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