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Cartel foi mais efetivo com Duque e Costa, diz delator

O executivo Augusto Mendonça disse que o cartel existe desde a década de 1990, período abrange a gestão de FHC


	Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras: segundo Mendonça, ex-representante da Toyo Setal, o cartel "passou a ser mais efetivo a partir de 2004"
 (Ueslei Marcelino/Reuters)

Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras: segundo Mendonça, ex-representante da Toyo Setal, o cartel "passou a ser mais efetivo a partir de 2004" (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 10 de fevereiro de 2015 às 14h06.

Em novo depoimento à Justiça Federal do Paraná na segunda-feira, 9, o executivo Augusto Mendonça, que fez acordo de delação premiada no processo da Operação Lava Jato, afirmou que o cartel, chamado por ele de "clube" de empreiteiras que atuava nas licitações da estatal, existe desde meados da década de 1990, período que abrange a gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Segundo Mendonça, ex-representante da Toyo Setal, o cartel "passou a ser mais efetivo a partir de 2004, graças às negociações dos diretores Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Engenharia e Serviços)".

"Isso (o acerto entre as empresas) passou a ter efetividade, de fato, a partir de 2004, quando este grupo negociou com os dois diretores, Paulo Roberto e Renato Duque, de modo que a lista de convidados fosse restrita às empresas que participassem desse grupo. A partir daí, durante um período o resultado dessas reuniões, dessas escolhas, passou a ser mais efetivo", explicou o executivo, que firmou acordo de delação premiada com a força-tarefa do Ministério Público Federal.

Augusto foi arrolado como testemunha de acusação nas ações penais contra as empreiteiras decorrentes da sétima etapa da Lava Jato.

Segundo ele, desde meados da década de 1990, em meio a uma crise do setor, as empresas se reuniram por meio da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi) e realizaram grupos de trabalho com a estatal petrolífera "no sentido de discutir e melhorar as condições contratuais, de modo que as empresas poderiam performar melhor e a Petrobras obter melhores preços e condições contratuais".

Paralelo a estas negociações, segundo o delator, as nove empresas que faziam parte do grupo, na época, se reuniam cerca de três vezes por ano tinham o compromisso de não competir umas com as outras.

Propinas

Em 2014, explicou, os contatos com as diretorias de Paulo Robert Costa e Renato Duque intensificaram a atuação do cartel em contrapartida às propinas que passaram a ser pagas para a diretoria de Costa, que encaminhava para o PP, e para a de Duque, que o delator afirmou não ter nenhum político envolvido, mas que as investigações apontam que ia para o PT.

"Pelo lado da diretoria do Paulo Roberto existia a figura do José Janene que procurou as companhias dizendo que o partido dele (PP) tinha sido o responsável pela indicação de Paulo Roberto e que por conta disso iam passar a pedir uma comissão nos contratos da Petrobras", contou o delator.

Augusto detalhou como se davam os pagamentos da propina nas duas diretorias, sendo que na de Abastecimento o processo começou com Janene e depois passou a ser operacionalizado por Youssef, e que na de Serviços eles conseguiam emitir notas fiscais "de cinco empresas", sem detalhar quais, e que os pagamentos podiam ocorrer tanto por meio de transferências para contas no exterior como em dinheiro vivo no Brasil.

Por fim, ele relatou que, a partir do fim de 2011 e começo de 2012, a atuação do clube foi perdendo eficácia.

"(As reuniões) foram interrompidos porque perderam completamente a eficácia. Ainda na gestão do Paulo e do Duque foram perdendo eficácia com inclusão de novas companhias propositadamente pelo lado da Petrobras. E também a partir da saída deles, que aconteceu no começo de 2012, essa interlocução com a companhia acabou, a partir daí essas reuniões se tornaram absolutamente ineficazes e deixaram de acontecer, não houve mais nenhuma tentativa de acordo a partir dessa época", relatou.

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