Segundo Zeina, Lula ganhou a eleição com apoio popular, porém se afastou da agenda petista (Ricardo Moraes/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de agosto de 2018 às 15h52.
São Paulo - Dentre as siglas de esquerda, a experiência e a capacidade do Partido dos Trabalhadores (PT) em fazer campanha deverá levar o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, que deve ser impedido de concorrer em razão da Lei da Ficha Limpa) ao segundo turno da eleição presidencial deste ano. A avaliação foi feita nesta segunda-feira, 13, pela economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, depois de ter feito palestra para um grupo de cerca de 60 investidores da EU Investimentos.
"A dificuldade que vejo com a esquerda de uma maneira geral é a falta de diagnósticos tão claros. Eu acho muito improvável o PT conseguir fazer a repetição do primeiro mandato de Lula", disse.
De acordo com a economista da XP Investimentos, Lula ganhou a eleição com muito apoio popular, se afastou da agenda petista e implementou uma agenda ortodoxa na política macro e liberal e na política pública de modo geral.
Sobre Jair Bolsonaro, candidato do PSL, Zeina chamou a atenção para o fato de ele ainda não ter um plano econômico concreto. De acordo com ela, são apenas afirmações vagas. Sobre o apreço que parte do mercado tem para com o economista Paulo Guedes, responsável pelo capítulo econômico de Bolsonaro, Zeina disse que qualquer um que fale que é preciso deixar a economia respirar com menos intervencionismo terá a simpatia de uma parcela do setor produtivo e do mercado financeiro.
Mas isso, de acordo com ela, não é suficiente. Dilma, lembrou Zeina, ganhou a eleição e colocou o Joaquim Levy, um economista ortodoxo da escola de Chicago, como ministro e deu no que deu. "Não está claro o que é a convicção do Bolsonaro e nós estamos com medo de uma repetição do Dilma 2", afirmou, reiterando que é preciso ter a convicção do presidente já que se trata de uma agenda de governo e não do ministro da Fazenda.
Além disso, a economista ressalta que tem a questão política: "E o Bolsonaro não parece ter habilidade. Ele não conseguiu ser candidato de uma sigla importante, não conseguiu aglutinar uma base consistente, está muito isolado politicamente e isso, obviamente, traz uma grande preocupação."
O investidor, de acordo com Zeina, é pragmático. Para ele não importa o nome do candidato, se ele é de esquerda ou direita. "Qualquer um que venha com uma agenda consistente, que condiz com as urgências do País, mostre senso de urgência e capacidade política, é isso que o investidor vai olhar", afirmou. "É reformista ou não é, tem plano e capacidade de entrega? É isso que importa no final do dia", avaliou.
De acordo com Zeina, o lado emocional do eleitor que, por ora domina o debate político e eleitoral, tenderá a ceder espaço no debate eleitoral a uma melhor análise dos candidatos, na medida em que for se aproximando o dia da eleição. "O eleitor vai analisar bem os candidatos e o emocional vai diminuir", disse ela.
Citando uma pesquisa do Instituto Ipsos, Zeina disse que começa a aumentar a preocupação do eleitor com a experiência do candidato. Neste sentido, por mais irônico que possa parecer, a figura de um candidato "outsider" não é exatamente o que o eleitor, no fundo, parece querer.
Do ponto de vista dos agentes econômicos, de acordo com economista da XP, que são pragmáticos, o candidato com maior chance de vencer a eleição é o que melhor sinalizar que aproveitará o peso das urnas para promover de cara as reformas estruturantes, com destaque para a previdenciária. "O poder aglutina no início do mandato", disse a economista.
Para a economista, todos os candidatos bem avaliados nas pesquisas reconhecem a necessidade de se promover as reformas, mas alerta para o fato de que o próximo presidente vai precisar de muita capacidade de articulação no Congresso, que não deve passar por uma grande renovação.
O baixo índice de renovação do Congresso, diante da premência das reformas, segundo Zeina será até positivo, já que neste cenário o parlamentar não terá muito tempo para aprender antes como funciona o Congresso e nem exigirá do Executivo que o recomece do zero as explicações sobre a necessidade das reformas.