. (Tomaz Silva/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 11 de março de 2018 às 17h56.
Brasília - Amigo do presidente Michel Temer desde os anos 1990, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Wellington Moreira Franco, é hoje um dos principais defensores, no Palácio do Planalto, da candidatura do chefe a um novo mandato. Em público, ele desconversa, mas, nos bastidores, não apenas tem simpatia pela ideia como trabalha com afinco para que o projeto se concretize.
A proximidade do ministro com o presidente causa ciúmes dentro e fora do Planalto. O gabinete de Moreira fica no quarto andar do Planalto. Na outra ponta, no mesmo andar, fica o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Os dois integram a direção do MDB, fazem parte do grupo de Temer e, ao lado do presidente, são alvo de inquérito aberto para apurar repasses de R$ 10 milhões da Odebrecht para o partido, em 2014.
Mesmo assim, Moreira e Padilha têm um relacionamento protocolar e não é raro protagonizarem divergências. Conhecido por fazer planilhas certeiras com o placar de votações no Congresso, Padilha, por sua vez, parece mais pragmático em relação à sucessão presidencial. O chefe da Casa Civil tem a mesma opinião do presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), para quem o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reúne credenciais para unir o centro político e ser o candidato do governo, migrando do PSD para o MDB.
Diante dos holofotes, porém, Padilha diz apenas que a base do governo, liderada pelo MDB, deve ter um único concorrente ao Planalto. "Meirelles faz uma justa postulação, mas nós temos de ter a competência de chegar em junho e verificar quem possui melhores perspectivas para ser candidato", disse Padilha ao Estado.
A discussão sobre a candidatura de Temer à reeleição ganhou força após o governo decretar a intervenção na segurança pública no Rio, no mês passado. Mesmo com o alto índice de rejeição do presidente e 1% nas pesquisas de intenção de voto, auxiliares diretos, como o marqueteiro Elsinho Mouco, dizem acreditar numa "mudança de vento" com o foco do governo na segurança pública. Moreira foi um dos que aconselharam Temer a convocar as Forças Armadas para a intervenção federal no Rio.
A agenda negativa, porém, voltou a rondar o Palácio do Planalto após novos reveses no Judiciário. No início do mês, Temer foi incluído em inquérito que apura o repasse da Odebrecht - no qual já figuram Moreira e Padilha - e, na semana passada, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a quebra de seu sigilo bancário na investigação sobre irregularidades envolvendo o chamado Decreto dos Portos, editado em maio do ano passado.
Na lista dos conselheiros de Temer figura ainda o ex-presidente José Sarney (MDB). Em recente conversa com ele e Moreira, Sarney afirmou que o MDB precisava ter um candidato para chamar de seu na campanha e impedir o governo de ser espancado na arena eleitoral.
Disse que seu maior arrependimento, naquela época, foi não ter apoiado ninguém. "Precisava de um candidato para defender o meu legado", insistiu o ex-presidente, que aconselhou Temer a não repetir o "erro" quase três décadas depois. Até no Planalto, porém, o MDB é chamado de "franquia" política, que pode ter um palanque diferente em cada Estado.
O recado de Sarney tem como pano de fundo a tentativa de pré-candidatos de partidos que integram a base aliada de se afastarem da imagem do governo. Além do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se lançou na disputa presidencial na semana passada com o discurso de independência em relação à atual gestão.
"A obrigação de defender o legado é do governo, não da minha candidatura. Para defender o legado do governo, não estou disposto", disse ele ao ter seu nome oficializado na corrida eleitoral, na quinta-feira passada, em Brasília.
Para aliados na Câmara, como o líder do governo, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), mesmo que a ação no Rio renda frutos à imagem do presidente, uma candidatura dependerá ainda de outros fatores.
"Se o governo conseguir, não é nem só fazer dar certo, mas que essa percepção seja transformada em um fortalecimento da imagem do presidente, evidentemente que ele vai ter uma outra posição, mas ele tem dito que não é candidato. Se isso se configurar, ele no mínimo será um grande eleitor", disse. "Na política, a percepção do eleitor é imprevisível. Você pode ter aí uma reação que pode mudar isso. Vamos aguardar os fatos. Nada em política é irreversível."
Segundo o deputado do PP, uma candidatura única do centro vai depender da capacidade e do altruísmo dos líderes dos partidos. "O que a gente tem visto na política é que as pessoas têm se preocupado às vezes com os projetos pessoais", afirmou Ribeiro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.