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“Campanhas no Brasil não estão preparadas para as notícias falsas”

A opinião é do americano Arick Wierson, que diz que só estamos vendo o começo do problema das notícias falsas no mundo

ARICK WIERSON: "entraremos, em breve, na geração dos vídeos falsos" (Arick Wierson/Divulgação)

ARICK WIERSON: "entraremos, em breve, na geração dos vídeos falsos" (Arick Wierson/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 5 de maio de 2018 às 10h15.

Última atualização em 5 de maio de 2018 às 10h30.

O americano Arick Wierson, 47 anos, é especialista em campanhas eleitorais. Em seu currículo, está o feito de ter sido um dos estrategistas das campanhas de Michael Bloomberg, que ocupou o cargo de prefeito de Nova York por três mandatos seguidos. Com a experiência acumulada, ele é enfático em dizer que as campanhas dos candidatos brasileiros para as eleições de 2018 não estão preparadas para lidar com as notícias falsas. Segundo ele, a solução para o problema envolve treinamento e educação da equipe de apoio para não disseminar essas informações e, além disso, a preparação de uma força tarefa para identificar e impedir a disseminação dessas notícias quando elas surgirem.

De acordo com Wierson, esse é um problema que só vai crescer. “Vai ser impossível combater as notícias falsas, mesmo porque esse é um fenômeno que vai continuar a fazer parte da nossa realidade”, diz. No entanto, é possível reduzir o tamanho do problema: a solução virá de ferramentas tecnológicas que estarão disponíveis para identificar as notícias falsas, assim como aconteceu com os antivírus de computadores da década de 90. A saída, portanto, não virá da regulamentação forte de governos para punir essa prática.

Quando as notícias falsas começaram a impactar o jogo eleitoral?

Tudo começou com a campanha de Barack Obama em 2008, que foi o primeiro candidato de um país grande que usou as redes sociais para ter um impacto significativo nas eleições. Desde então, o papel das redes sociais têm crescido muito nas campanhas eleitorais. Mas, a partir de 2012, elas começaram a mostrar o seu lado perverso, com as notícias falsas. Elas começaram a ser um grande problema, principalmente para o chamado eleitor comum, que não sabe diferenciar a notícia falsa da legítima.

É possível combater as notícias falsas?

Na verdade, eu acho que é um papo furado. Vai ser impossível, mesmo porque esse é um fenômeno que vai continuar a fazer parte da nossa realidade, seja na política ou no mundo empresarial, por exemplo. Estamos vendo apenas a ponta do iceberg. Daqui a pouco, entraremos numa outra geração, a dos vídeos falsos. Eles não são feitos por uma produção de Hollywood, mas por um cara com um computador que manipula um vídeo de forma que o eleitor não consegue diferenciar se é verdadeiro ou falso.

Se as notícias falsas vão crescer, como proteger os eleitores delas?

Acredito que vai ser criada uma indústria nova, mais ou menos como se criou na informática, na década de 90, para combater os vírus de computador. Mas vai ser o antivírus da notícia falsa, ou ferramentas que vão verificar a origem da notícia, para saber se é verdade ou não. De certa forma, algumas redes sociais começaram, há alguns anos, a solicitar uma checagem para a pessoa confirmar que é ela mesma que está postando algo. Isso foi uma tentativa de auto-regulamentação, mas ainda não conseguiram fazer isso para um grande jornal. Esse mercado já está começando nos Estados Unidos e, daqui a pouco, chegará ao Brasil.

Qual a sua opinião sobre o controle dessas notícias pelo governo, através de punição a quem disseminá-las?

Os governos sempre vão tentar controlar. Mas, em qualquer lugar do mundo, o Estado nunca consegue responder a tempo das novidades tecnológicas. E, além dessa demora, nos países onde há uma imprensa livre, existe muito receio da sociedade de o governo começar a controlar e tentar impedir a reportagem livre e espontânea da imprensa. E isso é um fator que vai fazer com que os governantes sempre pisem em ovos nesta questão de regulamentar o tema.

Como ficam as campanhas eleitorais neste cenário?

O candidato tem de entender que ele é responsável pela campanha: pela parte que ele controla e a que não controla. Se o grupo de apoio começar a criar notícias falsas, a espalhar informações na internet que mentem sobre ele ou difamar o adversário, no fim das contas, o candidato será o responsável. Isso vai exigir uma educação e um controle rigorosos da rede de apoio das campanhas. Além disso, o candidato precisa criar um mecanismo de defesa rápido das notícias falsas. É quase como uma sala de guerra para poder responder rapidamente às notícias falsas porque elas têm menos sucesso quando é identificado o autor. Nos Estados Unidos, as maiores campanhas têm pessoas dedicadas a acompanhar blogs, redes sociais e sites da internet. No Brasil, não sei de nenhuma campanha preparada para responder dessa forma.

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