CALVERT: Os investidores que conhecem a realidade do Brasil estão satisfeitos com as investigações; elas abrem oportunidades / Divulgação
Da Redação
Publicado em 24 de janeiro de 2017 às 15h32.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h15.
Lucas Amorim
O australiano Adrian Calvert veio ao Brasil pela primeira vez em 2001, como advogado de companhias que construíam térmicas e linhas de transmissão no período do apagão. Depois, criou por aqui o fundo Euroventures, especializado nos nascentes projetos de energia renovável. Hoje, à frente da gestora londrina Windrose Capital, Calvert volta ao país para apresentar empreendedores brasileiros a investidores internacionais, em parceria com a gestora brasileira Fir Capital. Seu objetivo é criar um “campeão nacional” da energia eólica. O termo pode remontar a períodos inglórios, mas Calvert garante que o projeto faz sentido, e que já tem um interessado. Ele falou a EXAME Hoje sobre os maiores empecilhos para investir no país – e eles não começam pela Lava-Jato.
O evento em Londres foi um sucesso, mas, depois disso, as coisas foram mais difíceis do que vocês esperavam. Qual é o maior desafio para atrair investidores para o Brasil?
O maior desafio, ou um dos temas mais recorrentes, para os investidores internacionais é o risco cambial. Vários dos ativos de infraestrutura são denominados em reais e não necessariamente estão ligados às exportações, então não há uma dolarização indireta. Alguns investidores que são mais conservadores estão procurando por instrumentos para mitigar esse risco. Há coberturas de curto prazo disponíveis, mas elas são caras e duram apenas 12 meses. Esse é um dos desafios. O investidor estrangeiro acaba pensando: ” vou investir esse dinheiro para um retorno mais baixo ou equivalente na Europa Ocidental ou nos Estados Unidos”. O Brasil está competindo contra mercados muito competitivos, como os países desenvolvidos e mercados emergentes, como o sudeste asiático. O outro fator é o problema da dívida de financiamento de projetos, que ainda não decolou no Brasil.
O governo atual está tratando desses pontos?
Acho que sim. As políticas macroeconômicas que estamos vendo nos últimos dia,s com a redução da Selic e a redução do IPCA, são indicações do que o governo vem fazendo nos últimos meses. Elas devem aumentar a credibilidade do Brasil neste ano. Eu não ficaria surpreso se a classificação de risco mudasse, ao menos no longo prazo, a partir de 2018.
E a corrupção? É um problema ou os investidores estão acostumados com isso em um país como o Brasil?
Os investidores que conhecem a realidade do Brasil e da América Latina
estão satisfeitos com as investigações que estão acontecendo. Eles sentem que é a coisa certa a fazer e é melhor para eles — e para o país — no longo prazo. Eventualmente, as investigações abrem oportunidades. Algumas das empresas investigadas praticamente detinham monopólio no crescimento da infraestrutura no Brasil. Agora há um espaço aberto para empresas de tamanho médio crescerem, mas há uma grande incógnita. Por que os últimos leilões não foram ditados pela lógica econômica – havia, além da corrupção, a participação do BNDES, que distorcia os valores.
O senhor conhece o Brasil há duas décadas. Por que a escolha por este mercado emergente específico para investir? E por que energia e infraestrutura?
A energia tem contratos longos, o sistema de leilões é bom, as agências reguladoras são bem respeitadas, os contratos de longo prazo são indexados pela inflação. Esses fatores e o fato de o setor de energia brasileiro ser sólido fazem dele um setor confortável para um investidor que está pensando em entrar no mercado em infraestrutura. Nossa tese é que os investidores que chegarem para a geração de energia, depois poderão se expandir para outras frentes, como fez a Brookfield e como outros fundos de pensão canadense estão começando a fazer. Faça-os entrar no setor mais simples de infraestrutura e, depois, deixe que olhem para outras concessões.
Qual o tamanho das oportunidades neste setor?
No setor de geração de energia, acho que estamos falando em 10 atores, cujo tamanho do ticket começa em 300 milhões de dólares e vai até 2 ou 3 bilhões, para cada investidor, multiplicando por dez… Esse é o perfil de investimento. O mercado ficará bastante diferente, mais consolidado, todos os atores entrando. E podemos ver isso já acontecendo agora.
E o que, especificamente, vocês vão fazer no Brasil neste ano e no próximo?
Nós estamos focados em energia renovável, mais especificamente em geração energia eólica. O que estamos fazendo é agregar operadoras brasileiras em uma plataforma e oferecer aos investidores fatias minoritárias nesta plataforma para conseguir que ela cresça e agregue ativos. Estamos trazendo os investidores que querem ver a construção de um campeão nacional nesse setor.
Vemos investidores estrangeiros preocupados com os contratos antigos assinados com o governo brasileiro. Esse é um grande problema?
Os investidores com quem falamos estavam muito preocupados de fato em entender essas pendências. O aeroporto do Galeão, por exemplo, foi descrito para mim como uma das cinco maiores oportunidades em aeroportos atualmente no mercado. Agora, o interesse dos investidores foi frustrado, porque o leilão foi ganho por um lance que era cinco vezes o preço de todos os outros, não era sustentável e, agora, como o governo brasileiro pode trazer de volta esses atores internacionais? E é isso que eles estão esperando, eles adorariam se envolver, mas vão ver se haverá um novo leilão desse aeroporto. Se tudo correr dentro do previsto, certamente haverá novos interessados em aeroportos, num processo que pode beneficiar também outro mercados na mira dos estrangeiros.