Briga na Alesp ameaça onerar estado de São Paulo
Deputados tucanos e socialistas iniciaram uma série de ações e retaliações envolvendo a votação de projetos que geram despesas ao governo
Estadão Conteúdo
Publicado em 29 de abril de 2018 às 11h58.
Última atualização em 29 de abril de 2018 às 12h00.
São Paulo - A disputa acirrada entre o ex-prefeito J oão Doria (PSDB) e o governador Márcio França (PSB) na corrida ao governo paulista abriu uma guerra entre antigos aliados na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) que ameaça a governabilidade do sucessor de Geraldo Alckmin (PSDB) e pode onerar o Estado.
Enquanto Doria e França trocam farpas publicamente há mais de um mês, deputados tucanos e socialistas iniciaram na semana passada uma série de ações e retaliações envolvendo a votação de projetos que geram despesas ao governo - como a ampliação do teto do funcionalismo e da cota de emendas parlamentares - e o controle de comissões estratégicas com o objetivo de boicotar o partido adversário dentro e fora do Legislativo.
O clima ficou tenso na terça-feira, 24, quando o presidente da Alesp, Cauê Macris (PSDB), que é aliado de Doria, colocou em votação, à revelia do governo França, a proposta de emenda à Constituição (PEC) do deputado Campos Machado (PTB) que equipara o salário do funcionalismo público estadual com o de desembargadores do Tribunal de Justiça e deve afetar os cofres do Estado em R$ 1 bilhão em quatro anos.
Macris, que se manifestou contra o projeto e impediu sua votação em 2017, durante o governo Alckmin, levou o texto ao voto argumentando que os 22 líderes partidários, incluindo os do PSDB e do PSB, já haviam assinado o projeto para que ele fosse a plenário. O socialista Caio França, filho do governador, chegou a retirar a assinatura depois, mas a Procuradoria da Casa entendeu que, como a pauta já havia sido publicada, a medida não tinha mais efeito.
Apesar do apelo do líder do governo, Carlos Cezar (PSB), a PEC foi aprovada em primeiro turno com 65 votos a favor, inclusive das bancadas do PSDB e do PSB. O texto agora precisa ser aprovado em segundo turno para entrar em vigor, sem precisar da sanção do governador.
"O PSDB quis trazer a disputa eleitoral para a Assembleia, esquecendo do Estado, sem pensar na população. O que se tenta fazer, com esse projeto que eles mesmos eram contra antes, é desestabilizar o governo, colocando pautas desnecessárias com o objetivo de prejudicar nossa gestão", disse Cezar.
No dia seguinte, veio a retaliação. O bloco partidário liderado pelo PSB apoiou a eleição do petista José Zico Prado para presidir a Comissão de Transportes e de Wellington Moura (PRB) para comandar a Comissão de Finanças e Orçamento, dois colegiados estratégicos historicamente chefiados por deputados do PSDB e que estavam vagos depois que os presidentes trocaram de partido.
"O governo decidiu se aliar ao PT e abandonar essa prerrogativa histórica do PSDB nas comissões. Isso evidenciou de que lado o governador Márcio França está. A gente tinha se declarado uma bancada independente, mas a partir dessa semana fica difícil não fazer oposição a um governo que não representa a continuidade do governo Alckmin", afirmou o líder do PSDB, Marco Vinholi.
Embate
Segundo parlamentares ouvidos pelo Estado, o clima de tensão tende a se agravar com a aproximação da campanha eleitoral, que começa em agosto, e os dois lados têm tentado cooptar apoio. Macris tem dito que quer priorizar a votação de projetos de deputados, que costumam ser preteridos nas votações, enquanto o governo promete liberar emendas parlamentares mais rápido.
"É um clima de guerra entre dois inimigos declarados e inconciliáveis. Não sabia que eles se odiavam tanto. O presidente da Assembleia querendo prejudicar o governo do Márcio e o PSB retaliando o PSDB na Casa por causa da reeleição", afirmou o petista Alencar Santana.
Só na semana passada, o PSDB moveu uma representação contra França no Ministério Público estadual acusando o governador de prejudicar uma prefeita tucana que se reuniu com Doria - a base da denúncia foi um áudio de um assessor do deputado Alberto Camarinha (PSB) - e prometeu expulsar o ex-prefeito de Botucatu João Cury depois que ele desistiu de sair a deputado federal pela legenda para ser secretário da Educação do governo do PSB.
Apesar da briga, quatro quadros do PSDB ligados a Alckmin permanecem no governo França, entre eles o secretário de Governo, Saulo de Castro, braço direito do ex-governador e presidenciável tucano.
Mesmo com a tensão entre Doria e França, as pesquisas mostram que a principal ameaça ao ex-prefeito no momento é o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, tecnicamente empatado com o tucano (24% a 19%), segundo o Ibope. França tem apenas 4%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.