Belo Horizonte: os manifestantes gritaram contra os gastos do Brasil na Copa do Mundo (AFP)
Da Redação
Publicado em 23 de junho de 2013 às 07h30.
O Brasil viveu neste sábado mais um dia de protestos, com uma multidão de 70 mil pessoas ocupando as ruas de Belo Horizonte, onde grupos enfrentaram a Força Nacional e a Polícia Militar nos arredores do Mineirão, à margem da partida entre México e Japão (2-1) pelo Grupo A da Copa das Confederações".
Os confrontos, que degeneraram em uma 'verdadeira batalha campal', com vândalos saqueando o centro da cidade, deixaram ao menos 15 feridos, incluindo quatro policiais, e 22 detidos, informou a PM mineira.
Gritando frases contra a realização da Copa do Mundo no Brasil, milhares de pessoas tentaram romper o cordão de isolamento montado em torno do estádio e foram reprimidos pela Força Nacional e a PM com bombas de gás lacrimogêneo.
A passeata na capital mineira começou na Praça Sete, no centro da cidade, e seguiu por cerca de 15 quilômetros em direção ao Mineirão. Na avenida Antônio Carlos, a multidão avançou em direção ao cordão de isolamento, localizado a dois quilômetros do estádio.
Diante da ameaça, os agentes da Força Nacional e da PM dispararam ao menos 20 bombas de gás lacrimogêneo, tiros de bala de borracha e jatos de gás de pimenta em direção aos manifestantes, que correram no sentido contrário.
A ação policial deflagrou um cenário de guerra na região, onde prédios foram depredados e lojas, saqueadas. Até uma concessionária da Hyundai, patrocinadora oficial da Fifa, acabou destruída.
Manifestantes também invadiram um prédio da Universidade Federal de Minas Gerais e depredaram o local.
À noite, centenas de pessoas depredaram e saquearam lojas e bancos na Praça Sete de Setembro, enquanto a polícia se mobilizava para isolar o centro da cidade.
O chefe da Polícia Civil de Minas Gerais, Cylton Brandão, informou que 22 pessoas estão presas e que seguem as investigações para deter os autores dos atos de vandalismo.
Segundo o coronel Carvalho, comandante da PM, havia um acordo com as lideranças para que o protesto passasse pela Antônio Carlos e seguisse em direção à Pampulha, mas grupos de manifestantes atacaram o cordão de isolamento jogando pedras e outros objetos.
Em São Paulo, um protesto contra a PEC 37 - que retira o poder de investigação do ministério público - reuniu mais de 35 mil pessoas, que seguiram pela avenida Consolação em direção ao centro da cidade, com a intenção de protestar diante da sede do Ministério Público Estadual.
Em Salvador, onde o Brasil venceu a Itália por 4 a 2 pelo Grupo A da Copa das Confederações, um protesto reuniu cerca de mil pessoas na região do shopping Iguatemi, constatou a AFP.
A PM lançou bombas de gás lacrimogêneo na praça diante do shopping, na avenida Tancredo Neves.
Em outro protesto, no Rio Vermelho, ao menos duas pessoas foram detidas pela polícia com coquetéis molotov.
"Não queremos tirar Dilma Rousseff do poder, mas exigimos que a mesma quantidade de dinheiro que se gastou na construção de estádios para a Copa seja destinada a projetos de saúde e educação", disse à AFP Alexandre, estudante de direito de 23 anos.
Dezenas de torcedores no estádio da Fonte Nova exibiram cartazes nas arquibancadas para apoiar os protestos nas ruas: "Não é contra a seleção, é contra a corrupção".
No Rio de Janeiro, cerca de 40 manifestantes mantinham uma vigília diante da casa do governador Sérgio Cabral, no Leblon. Também ocorreu um protesto no bairro de Bangu, onde 30 pessoas foram detidas.
Em Brasília, aconteceram três protestos distintos e no final do dia cerca de mil pessoas foram para a região do Congresso Nacional.
Em São Luís, ao menos 5 mil manifestantes fizeram uma caminhada pelo centro para protestar e a polícia fechou o acesso ao Palácio dos Leões, sede do governo.
Em Santa Maria, 30 mil pessoas protestaram contra os gastos da Copa, pela redução da tarifa do transporte público, corrupção e para exigir justiça para vítimas e sobreviventes da tragédia da Boate Kiss.
Os protestos, que ocorreram em mais de 90 cidades do país, foram convocados nas redes sociais, apesar do discurso da presidente Dilma Rousseff, que prometeu na véspera um grande pacto nacional para melhorar os serviços públicos.
Dilma admitiu que o país precisa de "formas mais eficazes de combate à corrupção" e prometeu "escutar as vozes da rua", em um comunicado à nação em rede nacional após protestos que levaram mais de um milhão de pessoas às ruas.
A presidente propôs um plano nacional de mobilidade que privilegie o transporte público, destinar 100% dos recursos dos royalties do petróleo para a educação, trazer milhares de médicos estrangeiros para ampliar o sistema de saúde e receber os líderes das manifestações pacíficas, de sindicatos, movimentos de trabalhadores e associações populares.
Inicialmente contra o aumento dos transportes públicos, uma medida que foi revertida em várias cidades do país após a onda de protestos, as manifestações em todo o Brasil se referem a uma reivindicação geral contra a má qualidade dos serviços públicos, a corrupção e os gastos milionários com a Copa do Mundo de 2014.
Segundo pesquisa publicada neste sábado pela revista Época, 75% dos brasileiros apoiam os protestos que tomaram conta das cidades brasileiras para exigir a redução dos preços nos transportes e rejeitar a corrupção e os gastos com a Copa do Mundo em detrimento de investimentos em saúde e educação.
Os principais motivos que levaram os brasileiros às ruas foram: melhoria no transporte público (77%), contra o desempenho dos políticos (47%), contra a corrupção (32%) e por melhor saúde e educação (31%), revela a pesquisa encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes.