Botucatu participará de vacinação em massa com doses da AstraZeneca
Além da vacinação contra a covid-19, serão feitos em Botucatu a testagem dos casos suspeitos de covid-19 e o trabalho de sequenciamento genético do vírus
Estadão Conteúdo
Publicado em 28 de abril de 2021 às 17h07.
Última atualização em 28 de abril de 2021 às 17h28.
Um projeto do Ministério da Saúde prevê a vacinação em massa da população de Botucatu, no interior de São Paulo, com a vacina AstraZeneca, distribuída no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz ( Fiocruz ). O objetivo é testar os efeitos da vacina quando aplicada em massa e sua eficácia contra novas cepas do coronavírus . A cidade tem 148.000 habitantes, segundo o IBGE, mas a vacinação deve atingir apenas os maiores de 18 anos, excluindo a população que já foi vacinada e os não vacináveis.
O estudo é semelhante ao que já foi realizado em Serrana, outra cidade do interior paulista, com a vacina Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan, mas abrange uma população maior. As pesquisas serão acompanhadas pela Fiocruz e pela Universidade de Oxford, que desenvolveu o imunizante. O projeto envolve ainda a prefeitura de Botucatu e o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu, vinculado à Universidade Estadual Paulista (Unesp), além da Fundação Gates, que apoia o desenvolvimento de vacinas em países em desenvolvimento.
O estudo foi aprovado na noite de terça-feira, 27, pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e as doses da vacina serão doadas pelo Programa Nacional de Imunização ( PNI ) do governo federal. "Essa fase de estudos é justamente para avaliar a efetividade da vacina contra as possíveis variantes desse vírus. Então, nós vamos vacinar a população de Botucatu inteira. Essa pesquisa trará resposta acerca do que queremos saber sobre o uso da vacinação", disse o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
De acordo com o infectologista Carlos Magno Castelo Branco Fortaleza, da Faculdade de Medicina de Botucatu, a vacinação deve começar em maio e a primeira dose será aplicada em 15 dias. "Descontados os menores de idade e os moradores já vacinados, vamos abranger cerca de 80.000 pessoas. A ideia é avaliar o impacto da vacinação nesse público e comparar com os grupos não vacinados." Um dos aspectos, segundo ele, é ver se a imunização dos adultos produz efeito sobre a população jovem não vacinada, sobretudo os adolescentes.
A cidade é polo regional e o Hospital das Clínicas atende pacientes de mais de 60 municípios, por isso serão feitas comparações também com esse público. A vacina da Fiocruz é aplicada em duas doses, a segunda três meses após a primeira aplicação. De acordo com o infectologista, durante estes três meses que antecedem a aplicação da segunda dose será possível saber se a primeira já é capaz de reduzir a circulação do vírus. O estudo inclui sequenciamentos genéticos do vírus e de novas cepas que já circulam na região.
A vacinação em massa implicará uma grande mobilização na cidade, já que o plano é aplicar a primeira dose em 15 dias. A logística ficará a cargo da prefeitura. "Já fizemos isso em 2009 quando vacinamos toda a população, inclusive crianças, contra a febre amarela. Assim que chegar a vacina, que o Ministério da Saúde promete para o início de maio, em duas semanas, estarão todos vacinados", disse Fortaleza. O estudo terá duração de oito meses.
Um dos fatores que levaram à escolha de Botucatu para o projeto foi o envolvimento da população com as medidas contra a doença. A cidade já aplicou quase 100.000 testes para covid-19, índice duas vezes superior ao do estado de São Paulo. "O grande diferencial desse projeto é o sequenciamento genético de todos os casos positivos, não só de uma amostragem. Assim, vamos saber exatamente qual é a cepa e avaliar qual a efetividade da vacina da AstraZeneca com relação a casos graves, internação, necessidade de ventilação mecânica e óbito", disse o secretário municipal de Saúde, André Spadaro.
Botucatu registrou 10.706 casos e 117 mortes pela covid-19 desde o início da pandemia. O índice de letalidade, de 1,60%, é o segundo menor do estado entre as cidades com mais de 100.000 habitantes.
Coronavac
No estudo clínico da Coronavac, coordenado pelo Instituto Butantan, 98% dos moradores de Serrana cadastrados receberam as duas doses, entre meados de fevereiro e o início de abril deste ano. A imunização atingiu 28,3 mil dos 45,6 mil habitantes, índice de 60% da população total. Os dados ainda estão em análise, já que os vacinados serão acompanhados durante um ano. Os números da covid-19 na cidade indicam queda na média móvel de casos positivos de 29 na primeira semana de março para 7 na semana de 19 a 25 de abril.
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