Jair Bolsonaro: como de praxe, o presidente brasileiro foi o responsável por abrir a Assembleia da ONU (TV Brasil/Reprodução)
Carolina Riveira
Publicado em 22 de setembro de 2020 às 06h35.
Última atualização em 22 de setembro de 2020 às 14h35.
O presidente Jair Bolsonaro abriu nesta terça-feira, 22, a Assembleia Geral da ONU, que acontece de forma virtual pela primeira vez em 75 anos em virtude da pandemia do novo coronavírus.
A fala do presidente brasileiro vem em um momento de pressão internacional para o Brasil em meio às queimadas no Pantanal e na Amazônia.
No discurso, de cerca de 15 minutos, afirmou que há uma “campanha de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal" para prejudicar o Brasil e que as queimadas são "inevitáveis" devido ao tempo seco (assista e leia a íntegra do discurso de Bolsonaro aqui).
O evento está sendo transmitido ao vivo e começou a partir das 10 horas. A fala de Bolsonaro foi virtual, e o discurso já foi gravado na semana passada. Somente algumas autoridades estão presentes fisicamente no evento.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez o primeiro discurso do dia. Nomes como o presidente americano, Donald Trump, e o presidente chinês, Xi Jinping, também já discursaram nesta manhã.
No ano passado, estreia de Bolsonaro no papel diplomático brasileiro de abrir a Assembleia, seu discurso foi considerado agressivo por críticos e assertivo por aliados. Bolsonaro disse que sua eleição iria salvar o Brasil do socialismo e, em meio ao desmatamento na Amazônia, criticou o cacique Raoni, um dos líderes indígenas.
Neste ano, mesmo antes do evento da ONU, o presidente e seus principais auxiliares vinham repetindo nos últimos dias o discurso de que as críticas internacionais são devido a interesses comerciais na disputa com o agronegócio brasileiro.
Segundo fontes ouvidas por Estado de S.Paulo e UOL, Bolsonaro foi ajudado no discurso que apresentará hoje sobretudo pelo general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), e pelo assessor de assuntos internacionais Filipe Martins, da "ala olavista" ligada ao astrólogo Olavo de Carvalho. Ontem, o general Heleno afirmou que críticas "estrangeiras" visam "prejudicar o Brasil e derrubar o governo Bolsonaro".
O governo brasileiro recebeu neste mês uma carta de oito países europeus pedindo medidas mais rígidas na política ambiental. Mais de 200 ONGs e empresas brasileiras, incluindo nomes como JBS e Marfrig, também enviaram carta aos principais líderes do governo. Os europeus também ameaçam barrar o acordo do Mercosul com a União Europeia fechado no ano passado -- mas que pouco andou desde então. O temor é de que a imagem ruim do Brasil prejudique negócios internacionais das empresas.
Enquanto isso, o palco da ONU também trará os outros conflitos geopolíticos que tomam conta do mundo. Da guerra comercial de Estados Unidos com a China às guerras no Oriente Médio, os desafios da democracia na era digital e o aumento da fome e da desigualdade social e, claro, a pandemia e seus efeitos nas nações do globo.
A ONU foi criada após a Segunda Guerra Mundial (1939-45) para tentar evitar um novo conflito global entre as nações. Mas a organização e outros de seus braços multilaterais, como a Organização Mundial da Saúde, em foco durante a pandemia, vêm tendo dificuldades para evitar os conflitos e coordenar ações entre os países.
Críticos apontam que a ONU também não vem sendo capaz de solucionar os problemas desse século, como os embates no mundo digital. O Conselho de Segurança, formado por apenas cinco países e onde acontecem as principais decisões, também é criticado.
Como a assembleia virtual é inédita, não se sabe até que ponto impedirá o tradicional diálogo entre os líderes em corredores dos encontros, para além das reuniões bilaterais oficiais. Mas se o coronavírus trouxe desafios nunca antes vistos, passará também pelos líderes reunidos nos próximos dias encontrar soluções nunca antes vistas para os problemas globais.