Bolsonaro minimiza tensão entre Rússia e Ucrânia antes de visitar Putin
Bolsonaro afirmou que quer a paz, mas disse que "o mundo todo tem seus problemas" e citou exemplos históricos de países que anexaram terras de outros
Isabela Rovaroto
Publicado em 14 de fevereiro de 2022 às 13h38.
Última atualização em 14 de fevereiro de 2022 às 16h01.
Prestes a viajar para a Rússia em meio à escalada das tensões entre o governo de Vladimir Putin e a Ucrânia, o presidente Jair Bolsonaro (PL) minimizou a tensão na Ucrânia e voltou a usar a relação comercial do Brasil com o Kremlin para justificar sua ida a Moscou. Além da dependência do agronegócio brasileiro dos fertilizantes russos, o chefe do Executivo também disse que tem questões a tratar sobre defesa e energia.
"Sabemos o momento difícil que existe naquela região", disse Bolsonaro a apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada. "Temos negócios com eles, comerciais. Em grande parte, nosso agronegócio depende dos fertilizantes deles. Temos assuntos para tratar sobre defesa, sobre energia, muita coisa para tratar. E o Brasil é um país soberano", declarou.
Bolsonaro afirmou que quer a paz, mas disse que "o mundo todo tem seus problemas" e citou vários exemplos históricos de um país anexando terras de outro.
"O mundo todo tem seus problemas. Se você começar a querer resolver o problema dos outros... O que for possível, a palavra lá é de paz para ajudar, tudo bem. Mas sabe o que está em jogo, não vou entrar em detalhes aqui. Temos problemas. A Argentina tem problemas com as Malvinas. No passado tivemos problemas, perdemos o Uruguai, ganhamos o Acre. Hoje a Venezuela quer a região de Essequibo, na Guiana. O americano mesmo pegou alguns estados do México no passado. A gente quer a paz, mas tem de entender que todo mundo é ser humano. Vamos torcer. Se depender de uma palavra minha, o mundo teria a paz", disse Bolsonaro.
Bolsonaro parte para Moscou às 19h desta segunda e a previsão de chegada é no final da tarde de terça-feira, sem compromissos marcados.
O encontro com Putin está marcado para a manhã de quarta, dia 16, seguido de um almoço no Kremlin. À tarde, Bolsonaro tem um encontro com o presidente da câmara baixa do Parlamento russo, a Duma, e em seguida um encontro de empresários brasileiros e russos. No dia seguinte, pela manhã, já parte para a Hungria.
Em meio à crise entre Rússia, Ucrânia, Estados Unidos e União Europeia, e uma epidemia de covid-19 que segue descontrolada na Rússia, tanto a viagem quanto a comitiva de Bolsonaro acabaram sendo cortadas. O presidente ficará apenas pouco mais de 24 horas na capital russa e sua equipe perdeu a presença do ministro da Economia, Paulo Guedes, da Justiça, Anderson Torres, e do secretário de Cultura, Mario Frias, e seus quatro assessores que acompanhariam a viagem.
Também deixará de viajar a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que estava no centro de uma das principais negociações da viagem, a garantia do fornecimento de fertilizantes ao Brasil. Tereza, no entanto, está com covid-19 e, segundo sua assessoria, o teste mais recente ainda teve resultado positivo, o que a impede de viajar.
Estarão na comitiva o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que deve tratar dos últimos detalhes da aquisição pela empresa russa Acron da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3) da Petrobras, fábrica que fica em Três Lagoas (MS) e estavam com a construção parada há oito anos.
Também estão na comitiva o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e diversos militares relacionados à venda e compra de material bélico. Na pauta da viagem, além dos fertilizantes, está a possibilidade de uma cooperação militar e para desenvolvimento das Forças Armadas, segundo o Itamaraty, que não deu detalhes.
A previsão é de uma reunião entre o chanceler Carlos França, Braga Netto, e seus contrapartes russos, também na tarde de quarta-feira.