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Bolsonaro "me tornou inimigo", diz Jean Wyllys

Na França, o primeiro deputado abertamente homossexual do Congresso falou sobre sua saída do Brasil e os desafios da política brasileira

"Eu recebia ameaças de morte por telefone, pelas redes sociais por e-mail. Começaram, inclusive, a me ameaçar nas ruas", conta o ativista dos direitos LGBT (Wilson Dias/Agência Brasil/Agência Brasil)

"Eu recebia ameaças de morte por telefone, pelas redes sociais por e-mail. Começaram, inclusive, a me ameaçar nas ruas", conta o ativista dos direitos LGBT (Wilson Dias/Agência Brasil/Agência Brasil)

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AFP

Publicado em 25 de março de 2019 às 13h34.

Jean Wyllys sabe que não voltará tão cedo ao Brasil. O presidente Jair Bolsonaro "me tornou uma espécie de inimigo", afirmou o ex-deputado que se viu obrigado a abrir mão de seu mandato no Congresso após receber ameaças de morte.

"Eu recebia ameaças de morte por telefone, pelas redes sociais por e-mail. Começaram, inclusive, a me ameaçar nas ruas", conta o ativista dos direitos LGBT em uma entrevista à AFP em Paris.

Em janeiro, o político de esquerda de 45 anos, primeiro deputado abertamente homossexual do Congresso do Brasil, renunciou a assumir seu terceiro mandato diante do número crescente de ameaças que recebia desde a eleição do presidente de ultradireita Jair Bolsonaro.

Bolsonaro e Wyllys tiveram uma briga em abril de 2016, durante a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, quando o político cuspiu na cara do então deputado Bolsonaro, depois que ele elogiou o torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Após a eleição de Bolsonaro, conhecido por numerosos comentários homofóbicos, para a Presidência, as ameaças "se intensificaram".

O governo fez "uma campanha difamatória contra mim com fake news, calúnias que tornavam os espaços todos vulneráveis". "Jair Bolsonaro me tornou uma espécie de inimigo, mas não era adversário político, era inimigo dele", relatou Jean Wyllys, vestido com um suéter vermelho.

Democracia no Brasil "está em risco"

De acordo com Jean Wyllys o assassinato da vereadora Marielle Franco, há um ano, também pesou na sua decisão de deixar o país.

"Depois do assassinato Marielle Franco, o cálculo de risco apontou que eu corria risco de minha vida", disse.

"O então presidente da Câmara destacou uma escolta para me acompanhar de casa pro trabalho e do trabalho para casa. A partir daí, passei a viver em uma espécie de cárcere privado".

"Foi nesse momento que me dei conta que eu não poderia assumir meu novo mandato", lembrou.

Desde que deixou o Brasil, em janeiro, o ex-deputado tem vivido entre Barcelona e Berlim. Há alguns dias ele ainda se negava a revelar onde se instalaria, mas agora conta sem medo que ficará provisoriamente na capital alemã.

Por que Berlim? "Berlim me escolheu", responde divertido Wyllys, que conta que após se exilar foi contratado pela fundação alemã Rosa Luxemburgo e pela Open Society Foundation, que lhe propuseram fazer um doutorado na cidade.

Paralelamente à vida acadêmica, o ex-parlamentar promete continuar, do exterior, sua militância contra o governo de Bolsonaro. "É possível fazer política fora do Parlamento e é possível viver livremente como estou vivendo agora e sem risco de vida".

Jean Wyllys não sabe até quando ficará na Europa. "Eu não sei quanto tempo vou ficar fora porque não sei quanto tempo vai durar a noite no Brasil".

Ele acredita, contudo, que as recentes revelações sobre supostos vínculos entre o presidente e os suspeitos pelo assassinato de Marielle Franco "despertem os eleitores brasileiros que elegeram Bolsonaro".

Uma foto publicada na página Facebook de um dos suspeitos supostamente com Bolsonaro viralizou nas redes sociais. O segundo suspeito morava no mesmo condomínio que Jair Bolsonaro, na Barra da Tijuca.

"Uma coincidência", segundo a polícia, que não apontou qualquer conexão entre a família presidencial e o crime. Para Wyllys, esses vínculos são graves. "Isso demonstra quão em risco está a nossa democracia".

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